quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Cesário e uma noite de inverno

Com atraso de vários dias, que posso dizer a quem pergunta pelo lugar de Marx?
Alguém escreveu que ele deve permanecer encerrado na gaveta, para sempre. Na verdade, talvez seja melhor fechar a gaveta, com chave e cadeado, não vá o livro dar em saltitar a meio da noite, levantando velhas questões, amarguras, coisas desagradáveis que a passado pertencem e que aí, na penumbra da nossa lenta e custosa ascensão, devem permanecer. Entretanto, na Grécia, começou o festim. Provavelmente, a culpa será de Marx. Minha também, claro. É tarde para especular sobre análise económica. Não quero sequer abrir um livro. Há ausências que são como invernos, escrevia aquele poeta inglês isabelino que Marx lia de cor às suas filhas nas noites geladas, batidas a vento, da velha city. Um outro indivíduo que se encontra encerrado na gaveta (e aí deve permanecer) é aquele jovem empregado do comércio, o senhor Verde. Quem melhor do que um especialista na exportação de frutas, (criadas com esmero na quinta de Linda a Pastora) e com escrita em dia, para tecer as últimas considerações deste dia.

«Mas cuidado, milady, não se afoite,
Que hão-de acabar os bárbaros reais;
E os povos humilhados, pela noite,
Para a vingança aguçam os punhais.»


Quanto mim, enquanto a turba passa e os cínicos levantam as suas muralhas, procuro, devagar e cuidadosamente, encerrar-me, na gaveta, para sempre.

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