sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Na vida, uma só coisa importa. Aprender a perder (Cioran)


Ontem, num dos habituais comentários movidos a estupidez, tão habituais no meio televisivo, a locutora relatava, balbuciando parvoíce que «com Nelson Évora saltamos todos». Com Nelson Évora saltamos todos. Já Naíde Gomes parece ter sido apenas ela, na mais plena solidão, a pisar a tábua. Nós também lá estivemos enquanto ela falhava. Talvez até tenhamos sido mais nós do que ela a pisar o nulo, a falhar a chamada, a trocar o passo no medo do erro, a saltar a medo para a areia. Será que há quem não perceba ainda a beleza fera de tudo isto? É belo um atleta em pleno voo conquistando a casa dos deuses. Mas nada há que se compare a uma atleta derrotada que, depois de quatro anos gastos no esforço diário e disciplinado de vencer-se (a si não aos outros) abandona o estádio de cabela erguida, olhar tranquilo, e recomeça, cada dia, uma nova corrida para o imprevisto do futuro. Isso sim, é habitar os cumes do risco, as alturas da excelência e do rigor. Isso, sim, é ter como selo no peito a competição e o desafio. Porque apenas nesse dia de derrota, e ela já o sabe, se torna claro que não é para o ouro que corre, não é para o sucesso, não é para o prémio (meu caro Júdice), é para estar no simples gesto de correr, em movimento, antes do fim, ainda uma outra vez.

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