quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ruy Belo, era uma vez


Mas que sei eu

Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?

Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono

Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha

qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

Ruy BELO


O caro leitor pensará que pretendemos transformar este sítio num panegírico ao nosso espectáculo. Não. Talvez nem sequer ao poeta. É um elogio da derrota. Mais um. Talvez não exista mesmo um outro modo de vencer.

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