quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tell me a story II

Domine, memento mei, cum veneris in regnum tuum: Hodie mecum eris in Paradiso

Tomo a liberdade de participar no espaço inaugurado por El_presidente. Com uma história, pois claro.

Era uma vez três gatunos crucificados numa monte ventoso e seco da palestina. Um deles parece que zombava, uma espécie de irritação arrependida, uma forma de violência contra as coisas serem o que são, um apelo enraivecido a ver se iam todo três ainda a qualquer lado. O outro estava calado. Parece que era daquele tipo de gajos que sabe. Não sabia exactamente o quê mas tal como o velho ateniense sabia que sabia qualquer coisa: que era não saber nada de nada.
Estava ainda um terceiro, que era o mais novo - os gajos novos são sempre os que dizem coisas que ninguém percebe. Parece que tinha um olhar pendurado no horizonte. Ou eram aves a caminho do sul ou era sabedoria também mas daquela que traz também as lágrimas. Então a dado momento disse este último ladrão:

- Nos dois ainda bem que a morte nos castiga pois somos dela merecedores. Mas este homem que fez ele para estar aqui. Senhor, lembra-te de mim quando vieres com o teu reino.

Alguns minutos depois, muita comoção e três mercadores de tendas que passaram a caminho de Éfeso, os três ladrões morreram. Os corvos cruzaram o céu do fim da tarde. O vento soprou para os lados da cidade velha. Alguns séculos depois os romanos regressaram aos campos floridos da toscânia, ao sol da sicília, aos poentes napolitanos, às neves de Milão. Uma vez que deram em escrever o sucedido ninguém sabe muito bem o que respondeu o ladrão calado, o gajo que sabia e terá dito:

- Hoje mesmo estarás comigo no paraíso.

Como ninguém percebeu onde ficava aquele sítio estranho - onde os gajos tinham combinado o encontro - foram uns quantos séculos de discussão: acentuação do grego, se o ladrão do meio, que tinha referido Hoje, estava a falar daquele dia ou do fim do tempo; se o fim do tempo era no outro dia, dali a três semanas ou vinte séculos; se o Hoje pertencia a outra qualquer dimensão que ainda está por descobrir; se o encontro metia o corpo e a alma ou se era só a alma; se a alma dormia, levitava, ou era emanação de Deus; enfim toda uma panóplia de certas e determinadas questões.
Nisto apareceu um jesuíta, daqueles tramados, chamado Vieira e disse:

“Levarem os reis consigo ao Paraíso ladrões não só não é companhia indecente, mas acção tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é tanto pelo contrário que, em vez de os reis levarem consigo os ladrões ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno.”

Quanto a mim nenhum deles era ladrão. O primeiro era um gajo sem paciência, mal orientado, que acabou amargurado com o estado das coisas. O do meio era um carpinteiro a quem ninguém conseguiu explicar bem os contornos daquela lamentável situação. O terceiro…Bem o terceiro talvez fosse como um gajo que todos os dias se senta para escrever e não consegue entender porque será que o gajo do meio faltou ao encontro combinado.

1 comentário:

binary solo disse...

Vamos mas é combinar e organizar o visionamento desse épico filme que é "A vida de Brian".