sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Agora é que eu percebi
Precisamos de heróis deste calibre. Que lutem contra histórias destas de um país na margem oeste à deriva no oceano atlântico e com ganas de teimosia para tudo o que não leva a lado nenhum.
"Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi"
Assim pegando na mensagem heróica, envio para a gente da minha terra um desejo de um santo Natal. Honesto e simples. A roçar o essencial.
ps: E talvez venha cá antes do fim de ano. Em forma de suspiro.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
domingo, 16 de dezembro de 2007
O rei vai nu
15.12.2007, José António Cerejo
A tese da acusação, que o juiz considerou consistente, é a de que o autarca se serviu das suas funções para enriquecer ilegalmente
"Caricatas." É como o juiz qualifica as alegações de que a fortuna de Isaltino teria origem na sua ex-sogra a Isaltino Morais depositou entre 1993 e 2002, só nas suas contas da Suíça e nas da sua ex-secretária, quase quatro vezes mais dinheiro do que declarou ter ganho no exercício das suas funções. E o IRS que devia ter pago e não pagou nesse período ascende a cerca de 630 mil euros - lê-se no despacho judicial que esta semana o pronunciou, para posterior julgamento, pelos crimes de participação económica em negócio, corrupção passiva, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal.
A tese central da acusação do Ministério Público (MP), que o juiz de instrução subscreve no seu despacho de 126 páginas, é a de que o fio condutor da acção de Isaltino como presidente da Câmara de Oeiras foi a procura do enriquecimento ilícito. Desde o início dos anos 90, diz o texto, o autarca "formulou o propósito de orientar a sua actuação com vista a obter" benefícios e valores "indevidos" junto dos promotores imobiliários e construtores do concelho.
Com esse objectivo, refere o despacho, trocou muitas vezes a aprovação de projectos de duvidosa legalidade, mesmo contra os pareceres dos serviços camarários, por quantias em dinheiro, que lhe eram entregues pesssoalmente pelos empresários, ou por apartamentos e outros bens, a preços inferiores aos do mercado.
Para além de João Algarvio e Mateus Marques, ambos acusados de corrupção activa neste processo, aparecem igualmente nos autos indícios de favores prestados ao principal arguido por outros construtores como Tomás Fernandes de Oliveira, Tomás Fialho de Oliveira (filho do anterior), Evaristo e José Marques Esteves.
O caso de João Algarvio resume-se na execução gratuita de grande parte da moradia que Isaltino possui no concelho de Castro Marim e na entrega de um cheque de 4000 contos (20 mil euros) em troca da aprovação de dois edifícios que violavam as normas em vigor. Tanto Algarvio como Isaltino alegaram que as obras foram pagas pela sogra do autarca, já falecida, e que o cheque se destinava a pagar uns quadros que o primeiro teria comprado ao segundo. O perito consultado avaliou, no entanto, o aobra em 500 contos, refere o juiz, notando contradições entre os depoimentos e conclui que os indícios justificam o julgamento.
Já Mateus Marques, da empresa Girmaco, terá conseguido, em 2001, que Isaltino desembargasse, sem base legal para o fazer, as obras de um condomínio na Quinta da Giribita, dias antes embargadas. Em troca, diz a acusação, comprometeu-se a vender-lhe por um preço especial uma fracção do empreendimento. Isaltino chegou a pagar 76 mil euros, sem ter sido fixado o valor final do negócio. Já depois da publicação das notícias sobre as contas na Suíça, em 2003, o então ministro do Ambiente veio a desistir do negócio, tendo-lhe sido devolvido o sinal.
Mateus Marques terá compensado Isaltino logo a seguir, facilitando-lhe a aquisição de um Audi A8 S, por um valor muito baixo, sem que ele fosse posto em nome do novo dono. O veículo valia 41.550 euros, o autarca pagou 35 mil e seis meses depois vendeu-o por 60.000. E a quem o vendeu? A um outro construtor civil, precisamente Tomás Fialho de Oliveira, cujo pai, entretanto falecido, lhe deveria grandes favores.
Segundo a acusação, Isaltino terá conseguido, após repetidas recusas da Comissão de Coordenação da Re-gião de Lisboa e Vale do Tejo e pareceres contrários dos seus serviços, que o então secretário de Estado da Administração Local, Pereira dos Reis, viabilizasse, em 1993, a urbanização da Quinta de São Miguel dos Arcos, em Paço de Arcos. Como recompensa reservou-lhe um dos lotes do condomínio, com valor superior a 200 mil euros, e pagou-lhe o projecto de arquitectura da moradia que ali queria construir. "Há mais de nove anos, desde 1998, que a sociedade Tomás de Oliveira tem mantido reservado o lote 21 para o arguido Isaltino Morais, sem que este tenha assumido qualquer encargo, e ainda custeou o projecto de arquitectura, tudo em cumprimento do anteriormente acordado entre o falecido Tomás Fernandes de Oliveira e este arguido", diz a acusação. O projecto custou pelo menos 17.400 euros e foi apreendido pela PJ em casa de Isaltino.
Mas se nestes e noutros casos os favores terão sido retribuídos em géneros, em muitos outros os pagamentos seriam feitos em dinheiro. Só assim se justificarão, tal como confirmam algumas testemunhas, as entregas regulares de envelopes com notas e moedas que Isaltino faria aos seus mais próximos colaboradores para depositarem em diversas contas. De acordo com as conclusões do MP, Isaltino depositou entre 1993 e o final de 2002, na Suíça e nas contas da sua antiga secretária, um total de um milhão e 312 mil euros em numerário. Os seus vencimentos como autarca e ministro atingiram, nesse mesmo período, 351 mil euros. "Sendo certo que, para além daquelas [funções], o mesmo nunca declarou exercer qualquer outra actividade remunerada", sublinha o despacho.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
Sempre a inovar. Oeiras vale a pena?
que ficará segundo o site da CMO "Para sempre, frente à Igreja Matriz". Ler o artigo completo da CMO aqui. Não querendo entrar em questões de merecimento ou não de monumentos (talvez o faça no futuro) e não tendo nada contra o Prior de Oeiras, permitam-me que levante aqui um inquérito online:
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Ermida TV - O Concerto de Natal
Vá, vá, vamos ver se aos poucos eu consigo fazer o upload do concerto de Natal inteiro. Por enquanto aqui fica uma música para adoçar a boca... e bem bonita que é!
Estou a ver se consigo incorporar títulos e também melhorar o som mas não percebo muito do assunto, por isso não prometo nada.
Ermida TV
http://www.youtube.com/ErmidaTV
Para já deixo o primeiro e único vídeo disponível no canal (mais virão, aguardem com paciência)
Nuestros hermanos
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
“Eu sei. Tu tens razão. Eu realmente”
Os textos que tenho vindo a colocar no blog podem por vezes sugerir uma contundência excessiva. Pode ser que sim. Talvez todos ganhassem com mais opinião e menos argumentação: textos mais curtos, menos maçudos, mais humor e menos crítica do pensamento. Quem sou eu para pronunciar juízos? Ora aí está o tipo de pergunta que não devia ocorrer num blog que se quer respeitável. Que me fizeram os ilustres cronistas para merecer tão biliosa prosa? Ora aí está o tipo de interrogação a responder a todo o custo. Porém, nunca tive jeito para responder a perguntas. Mesmo na primária, que é onde se determina o valor do cheque da reforma, à pergunta do professor apenas estalinhos nervosos, tremores, uma humidade esquisita nas maõs, qualquer coisa como o difícil equilíbrio dos flamingos, uma oscilação estranha, uma antena no telhado em dia de vento. Perguntas? Lembro especialmente uma formulada na Margem da Alegria: “Quem viu o meu falcão moços do monte?”. Esta e outras aves de rapina deixaram-nos sós a entender a direcção do vento. Talvez que a Ermida, apesar dos textos do Blog não vincularem a sua posição institucional, não devesse acolher a crítica efectiva das situações reais, nem estas formas do vento ser cruel com a direcção das coisas. Talvez devesse antes voltar para o silêncio televisivo onde vamos todos embalados a caminho da catástrofe. Exagero?
“Eu sei. Tu tens razão. Eu realmente”.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
“Portugal e a Europa vivem mudanças ocultas mas radicais na sua política. Estas provêm da degradação das elites e, por reacção, do excesso democrático que reduz a democracia”.
“excesso democrático que reduz a democracia”? Não compreendo totalmente o alcance deste raciocínio…Tentemos percorrer mais algumas linhas deste fértil mas enigmático pensamento.“A sociedade precisa de elites políticas, culturais, intelectuais e económicas. Destacando-se da população, elas influenciam decisivamente a evolução social. A democracia não se opõe, pelo contrário necessita dessa classe dirigente, desde que seja aberta, móvel, lúcida e respeite as regras. Nem sempre o povo entende o caminho proposto e é normal que desconfie dos líderes. Estes, sob pressão, sentem necessidade de se justificar, corrigir, gerar resultados. Esta interacção saudável entre classes faz a comunidade progredir, mesmo com zangas e lutas”.
Um pouco mais claro Magister, agora sim. As elites são a malta que tem poder, uma vez que cultura, intelecto, política, economia são dimensões idealistas de valências humanas que, neste caso, se querem destacadas e apuradas por um pequeno grupo - as elites (ou se o leitor quiser os poderosos, aqueles que nossa senhora referia no seu Magnificat: derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes, encheu de bens os famintos e aos ricos despediu de mãos vazias - mas isto era tudo em sentido metafórico, não é para levar a sério. Para levar a sério é aquela questão da rússia e da queda do comunismo por intervenção de nossa senhora). É então saudável que a população se divida entre dirigentes e dirigidos. Porquê? Perguntará o leitor mais incauto. Eu explico: porque o Magister baseia o seu pensamento numa reflexão de domingo à tarde, a saber: o homem é um animal cheio de pecaminosas sensualidades pelo que apenas aqueles que são tocados pela graça do senhor conseguem libertar-se desta materialidade (aquilo a que os teólogos chamam “o mundo”) para virarem o seu olhar, em eterna contemplação, para as coisas do alto. Neste momento as coisas do alto (que no passado estavam relacionadas com a meditação dos evangelhos, a recitação da liturgia das horas, a leitura desse imenso comentário que são as Patrologias Gregas e Latinas) incluem também as relações entre a econometria e os pastorinhos de Fátima. Claro que nem todos podem atingir sem vertigem estas altitudes. Resta ao povo “que não entende o caminho proposto” deixar-se dirigir, numa “interacção saudável” a caminho do progresso. Não se julgue que o Magister Neves não acredita no progresso.“Um dos maiores dramas sociais é, portanto, a decadência cíclica das elites. Quando tal acontece aparece a tentação de as eliminar. Há 200 anos os jacobinos e há 100 os comunistas disseram criar a democracia perfeita na "sociedade sem classes". Mas a anulação das diferenças é tonta, como impor igualdade de gostos ou alturas. As classe sociais são um fenómeno tão natural como o sono, a família ou a chuva. Este facto, evidente com um mínimo de atenção, é negado em certas épocas mais arrogantes que julgam poder mudar a natureza humana, acabando por sofrer os efeitos do atrevimento.”
Aqui o Magister circula por territórios interessantes. É pena que não leve as suas conclusões até às últimas consequências. Os problemas da natureza, como o Magister Neves tão bem sabe, são sempre os problemas das origens. Falta perguntar porque associa o Magister a degradação das elites às eleições de Clinton e Bush, de Menezes e Santana. Aí surpreendemos a questão no seu ponto mais interessante. Porque por esta ordem de argumentos toda a democracia seria um perversão da sociedade corporativa baseada no poder das elites, as únicas preparadas para conduzir o povo. Aí estariamos no território do sistema de Salazar e Caetano. Se não, porquê deixar de fora outras eleições igualmente desastrosas para a democracia portuguesa como a do senhor professor Aníbal Cavaco Silva e do seu secretário de estado João César das Neves? O Magister invoca a questão das primárias. Pode ser que isso signifique dar o poder de voto a quem não possui suficiente esclarecimento para decidir. Mas essa é precisamente a coragem da democracia: colocar a decisão sobre o poder, com todos os perigos que isso implica, nas mãos de todos os que são afectados pelo poder, isto é…todos!!! Recomendo o livro O Pensamento Conservador de Albert Hirschman, onde podemos ler que a estrutura dos argumentos do Magister Neves, que aparecem por vezes aos mais distraídos como novidades excepcionais (Cf. a título de exemplo o livro prefaciado por António Carrapatoso Revolucionários - em suma um conjunto de soluções estafadíssimas ao longo de trezentos anos), é exactamente a mesma daqueles que tentaram a todo o custo impedir que o direito de voto fosse concedido aos operários e camponeses (o direito de voto começou por ser baseado num dado valor de rendimentos) às mulheres e até aos negros.
“A degradação das elites na Europa e Portugal levou ao sufrágio populista, dos referendos e directas. Mas, sem se equilibrar em classes sociais naturais e saudáveis, a democracia cai na oligarquia ou na demagogia. Como veremos por cá nas próximas décadas”. (o destaque é meu)
Há de facto um problema do Magister com a natureza. Ó Magister, experimente ler um pouco menos a irmã Lúcia e mais filosofia jacobina. Merleau-Ponty ensina que a natureza corresponde a uma longa história semântica. Filologicamente está associada às raízes grega (vegetal) e latina (verbos relacionados com o acto de nascer, viver). Segundo o filósofo existe natureza “por toda a parte onde há uma vida que tem um sentido mas onde, porém, não existe pensamento; daí o parentesco com o vegetal: é natureza o que tem um sentido sem que esse sentido tenha sido estabelecido pelo pensamento”.
Kant procurou resolver o problema entre o impensado dado a priori e a estrutura do pensado (que é no fundo o da política como conservação ou como mudança que, como adivinhará o estimado leitor, tem sérias consequências para a questão das classes como orgânica natural dos grupos humanos).
Se por um lado em Kant, na leitura de Merleau-Ponty, a natureza é algo sobre o qual nada podemos dizer, salvo através dos nossos sentidos, por outro, a natureza é sempre conhecida como constructum, o que significa o retorno a Espinosa – que tanto tem fascinado António Damásio, pela antevisão que o filósofo luso-holandês foi capaz de fazer da análise da consciência como diálogo perfeito entre a dimensão pessoal e construída do filme da mente (em articulação com as emoções sociais) e a mecânica fisiológica do organismo.
O velho pensador de Könisberg bem sublinhou que o homem “é antiphysis (freheit – liberdade) e arruína a natureza opondo-se a ela. Arruína-a ao fazê-la emergir numa ordem que não é a sua, ao fazê-la passar para uma outra ordem”. Ou como escreveu Bachelard aquilo a que se chama «natural» não passa, com frequência, de má teoria”.
domingo, 9 de dezembro de 2007
Explicação dos governos portugueses dos últimos trinta anos em trinta segundos
Estas palavras de Sá Carneiro descrevem uma base social de apoio a um partido que entretanto se foi estilhaçando por muitos outros segmentos. Portugal enriqueceu, floresceram sacos de cimento e automóveis de alta cilindrada. Desfizeram-se e fizeram-se novos grupos económicos com toda a tranquilidade que habita o espírito de um historiador dos séculos XVI-XVIII. Nas entre linhas dos tratados europeus a desigualdade cresceu, ainda que os portugueses tivessem prosperado (pelo menos ao nível das condições de vida). Porém, a situação descontrolou-se. Parece inegável que o mundo ocidental, como aliás vários historiadores tinham previsto, ao apostar no liberalismo económico se encontra outra vez perante muitos dos problemas de início do século XX. O problema não é o lucro, o problema é a educação política. Já Descartes dizia que as nossas diferenças talvez provenham de não lermos todos os mesmo livros. Não se assuste estimado leitor. Não defendo programas de leitura obrigatória nem revoluções culturais. Apenas acho que um pouco de história, para variar, talvez fosse um bom complemento ao choque tecnológico. Além de que é tempo de perceber que o problema do lucro não se prende apenas com a inveja que o doutor Júdice tanto vitupera (aliás, se tivesse lido Aristóteles teria compreendido, antes do mais, não ser boa ideia negligenciar a inveja dos cidadãos perante os mais ricos, uma vez que talvez essa riqueza traga nas entrelinhas o problema do equilíbrio que tanto revolta o espírito dos liberais). O problema do controlo do lucro, logo o problema do sistema de travagem do enriquecimento desregrado, representa um escândalo para a nossa consciência? Concedo que sim. É uma questão complexa? Claro que é. Contudo, também a igualdade perante a lei fazia levantar os cabelos aos liberais europeus do século XIX (mesmo os ingleses caro leitor, mesmo os ingleses). Nesta altura já espreitam os fantasmas do socialismo soviético, os leitores já brandem no ar a memória das vítimas e o sangue dos inocentes. Como tal, despeço-me com uma pequena incursão histórica e duas ingénuas interrogações: será que sempre que se discute uma solução política socialista se tem que acabar sempre a contar mortos? Para quando a contagem dos mortos da economia de mercado?
No Prefácio escrito para a edição inglesa de 1888 do "Manifesto do Partido Comunista", Engels referiu-se ao facto do Manifesto não ter sido chamado de Manifesto Socialista, justificando-se: "Por socialistas, em 1847, entendia-se, de um lado, os adeptos dos vários sistemas utópicos: os owenistas na Inglaterra e os fourieristas na França, ambos já reduzidos à condição de meras seitas em vias de desaparecimento gradual; de outro lado, os vários charlatões sociais que por meio dos mais variados truques pretendiam remediar, sem qualquer perigo para o capital e o lucro, todos os males sociais".
Vários charlatões sociais que por meio dos mais variados truques pretendiam remediar, sem qualquer perigo para o capital e o lucro, todos os males sociais? Por acaso, o estimado leitor estará a pensar em alguém em especial?
Linda, Linda esta balada que te dou
O estimado leitor decerto estranhará o perfil deste dueto: Armando Gama em pano de fundo, uma espécie de baixo contínuo, enquanto o Professor João Carlos Espada entoa virtuosos solos de liberalismo bolorento. Na verdade, estimado leitor, eles combinam a erudição e a sabedoria das coisas simples. Prepare-se confortavelmente, ponha o video em movimento. Depois agarre-se bem para não ser arrebatado em êxtase místico.
"A PROPÓSITO DE FÁTIMA"
pelo Professor João Carlos Espada in Expresso
Em Fátima, no fim-de-semana passado, terão estado cerca de meio milhão de pessoas. Numa intervenção radiofónica, José Miguel Júdice comentou o fenómeno com a sua habitual perspicácia. Observou a intensa manifestação de fé, que contraria os cíclicos prognósticos sobre o declínio da religião. E chamou a atenção para que essa manifestação, ao contrário de outras noutros países, foi profundamente pacífica, inclusiva e não política. Acrescentou que a igreja católica tem em Portugal uma vastíssima acção social de apoio aos desfavorecidos que devia ser mais acarinhada pelos poderes públicos.Seria desejável que estas palavras sensatas pudessem contribuir para atenuar o preconceito anticatólico, ainda tão forte entre nós.Um elemento importante deste preconceito continua a residir no argumento de que o catolicismo se opõe à democracia. Mas os factos também não corroboram essa tese. Os estudiosos da transição à democracia reconhecem hoje que o 25 de Abril português esteve na origem da chamada “terceira vaga de democratização mundial” — uma tese inicialmente proposta por Samuel Huntington.Entre 1974 e 1989, observou Huntington, mais de trinta países, na Europa, Ásia e América Latina, transitaram de regimes mais ou menos autoritários para regimes mais ou menos democráticos. Dois dos três primeiros países a democratizarem-se (Portugal e Espanha) são maioritariamente católicos. A seguir, o movimento de democratização atingiu seis países da América do Sul e três da América Central, todos eles dominantemente católicos. As Filipinas foram o primeiro país asiático a reunir-se à ‘terceira vaga’. E a Polónia e a Hungria católicas foram os primeiros países do Leste europeu a ensaiar a democratização. Como observou Samuel Huntington, “três quartos dos países que transitaram à democracia entre 1974 e 1989 eram dominantemente católicos”.Mas seria ainda um equívoco reconhecer apenas esses contributos mais recentes da religião cristã para a liberdade. Muito antes de Voltaire ter escrito sobre a tolerância, John Milton e John Locke fundaram o dever da tolerância na moral cristã. Lord Acton, o célebre católico liberal inglês do século XIX, argumentou persuasivamente que S. Tomás de Aquino lançara os fundamentos da atitude liberal. E o católico Alexis de Tocqueville observou, em páginas veementes, que a democracia na América não podia ser compreendida sem o contributo da fé cristã para alicerçar o ideal das limitações constitucionais ao poder político e do direito natural dos indivíduos “à vida, liberdade e busca da felicidade”.
Caro leitor, busquemos a felicidade e a limitação do poder político nesta feroz ditadura que é Portugal, conduzidos pela mão do Professor Espada. Quando em Portugal governava esse grande democrata, António Salazar, não me lembro de ter lido ou ouvido que o santuário de Fátima desempenhasse especial papel na limitação do poder político. Parece que houve até um bispo corrido à pedrada em Nampula (com valentes puxões de orelhas do magistério) por manifestar opiniões contra a guerra - essa forma eloquente de ser liberal de G3 na mão. Mas isso é a minha falta de perspicácia. Desgraçadamente ela foi toda concedida ao Doutor José Miguel Júdice. Eis que agora o Professor Espada canta triunfante a influência dos católicos na revolução e no processo democrático. Afinal o papa vinha em cima da chaimite, secundado pelos anjos e ninguém foi capaz de o saudar. Conta-se até que Otelo pediu em primeiro lugar o "a 13 de Maio" mas o MFA achou que era um exercício de humildade mortificador conceder antes o privilégio de canção da revolução ao fascista José Afonso (qual bofetada de luva branca dos democratas devotos marianos a esses comunistas defensores da ditadura do proletariado. Pelo que a virgem não pôde encabeçar a revolução, nem o "13 de Maio" ser entoado pelas gargantas dos soldados. Não faz mal! Viva o 13 de Maio e viva o pensamento liberal.
Professor Espada...linda, linda esta balada que nos dás/ Linda, linda esta balada que nos dás.
sábado, 8 de dezembro de 2007
There's No Business Like Show Business
Hoje, a vida não é um jogo. A vida é a economia de mercado, no sentido em que é norteada por conceitos modernos, pensados, reflectidos, contruídos. Quando há já alguns dias convidavamos o director Avillez de Figueiredo para que avançasse, sabiamos, caro leitor, que ele avançaria mais tarde ou mais cedo. Mas sabiamos como? perguntará o caro leitor. Sabiamos com toda a evidência que há na realidade das coisas que, com efeito, são coisas. O mundo económico é, verdadeiramente, uma grande coisa. Em primeiro lugar há players. Tipos que jogam ou são jogados ou agarram-se ao jogo para que não joguem por eles. Depois há relações de mercado:
Um tipo diz – é a 20
ao que responde o mercado – não é não senhora, é a 15,5
e o tipo novamente – é a 19,95 se não levas já com este malho na cabeça
e o grande mercador – aqui não vale malhos, quanto muito chamas a polícia
e o tipo novamente – é a 19, 999 que é para pagares a despesa da polícia
e o mercado – está bem senhor engenheiro.
Estas relações de mercado são transparentes e conferem aos players oportunidades de desenvolvimento pessoal e colectivo. Esta semana no programa negócios da semana (SICnotícias) o senhor engenheiro Mira Amaral era confrontado – com tudo o que isto significa de pueril diante do continental saber do senhor engenheiro – com a diferença de informação no acesso ao crédito. O raciocínio do jornalista da sic era, como é bom de ver, igualmente pueril: como lidar com o problema da contratualização de produtos de crédito nas instituições bancárias uma vez que nem todas as famílias têm a mesma capacidade de aceso à informação e, consequentemente, de negociação. Responde o senhor engenheiro:
- É a vida.
Na verdade, é de facto a vida. Como em tudo, explicava o senhor engenheiro, é a vida. Repare o caro leitor que o senhor engenheiro tem toda a razão. Um tipo vai na rua e aparece um outro com um malho (aquele mesmo do mercado, por exemplo). Nisto o gajo do malho dá com ele na cabeça do segundo tipo que responde incrédulo e abalado
- Ai que me estão a matar.
- É a vida (diz o gajo do malho).
Por falar em jogo é conhecido o incidente com o líder do Movimento Compromisso Portugal António Carrapatoso. De acordo com o Diário de Notícias em 2006, a Direcção-Geral de Contribuições e Impostos (DGCI) deixou caducar uma alegada dívida de António Carrapatoso respeitante a rendimentos auferidos pelo presidente da Vodafone em 2000:
"A notificação do contribuinte devia ter sido feita até 31 de Dezembro de 2004, mas só aconteceu em 2005. De acordo com o mesmo jornal, um funcionário das Finanças terá colocado no sistema informático que a liquidação foi feita ainda em 2004, mas sem qualquer documento que o comprove. O presidente da Vodafone apresentou uma reclamação, alegando a caducidade do direito à liquidação e o Fisco acabou por lhe dar razão, acrescenta ainda o Diário de Notícias.»
Parece que no Expresso o mesmo senhor director e ilustre líder, António Carrapatoso, afirmou que «se se alimenta um sistema destes, vale mais a uma empresa fugir aos impostos do que ser competitiva para conseguir mais retorno». Nem mais. Esta concepção institucional da acção política do cidadão é verdadeiramente relevante. Pois que permite novas leituras sociais. Um economista da cova da moura afirmou ontem ao Expresso: “se se alimenta um sistema deste mais vale um gajo roubar uma ourivesaria e fugir à polícia do que trabalhar nas obras para ganhar 500 euros”. De maneira que a polícia entabula (bela expressão) neste momento denodados esforços para prender este economista da Cova da Moura.
Como compreenderá o estimado leitor a vida é como um jogo, que decerto correrá bem, especialmente se tivermos um malho na mão. O problema é que nem todos somos estúpidos e há por vezes inadaptações ao terreno de jogo, players que fazem entradas por trás, golos com a mão e até mesmo, pasme-se, agressões sem bola.
Voltando ao assunto que aqui nos trazia a noticia do expresso on-line não deve ter deixado os players indiferentes:
Convém esclarecer o auditório que não nos move qualquer especial preconceito contra a monarquia Sonae. Apenas gostamos mais da República e continuamos a achar que os impostos são uma forma de intervenção política. Cheira a bolor? Pois é, música dos anos oitenta…Consequências para o tecido empresarial? Não sei, a vida é um jogo.
O expresso noticiava ainda que o senhor director se despedia «num tom emocionado» classificando os seus três anos à frente do “Diário Económico” como «“electrizantes”. O ainda director acrescentou, também, que o seu “trabalho só foi possível com a extraordinária equipa do 'Diário Económico', que provou que um jornal pode conciliar o rigor e a profundidade da informação com a criação de valor”».
A criação de valor é um outro dado importante da economia. Temos além dos players e do mercado, o valor – outro conceito de grande significado para nós. Para esclarecermos melhor este magnífico conceito podemos lançar o olhar ao que escreve o colunista, do diário económico on-line, Ricardo Costa que assina a crónica “Um chá no deserto”. De maneira que o meu gato salta da janela e pergunta:
- Este não é aquele da sicnotícias e do expresso da meia-noite, onde já esteve algumas vezes o senhor director Avillez?
- É (respondo com ironia perante a inaceitável ignorância do meu gato em assuntos de comunicação).
Temos que o senhor director sicnotícias Costa é colunista no diário económico e convida o senhor director do diário económico Avillez para comentador no programa do sicnotícias do senhor director Costa. Ao que chegamos ao conceito final da economia: a diversidade de informação. Temos em suma players, mercado, criação de valor e diversidade na informação.
Quanto à coluna do chá no deserto eu diria que é mais um champagne na savana.
Foi então que entrou Ruy Belo, um dos que não conseguiu emprego e infinitamente pesa sobre a economia, ou como é mais comum dizer-se – um lírico -, proclamando com voz forte o seu lirismo:
E entretanto tudo a noite rodeou e o jogo acabou
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Não tens pais ricos? vai ao kiva.org
A pergunta que se coloca: não será isto um esquema para ganhar dinheiro fácil à custa dos outros? vejam a reportagem do NYTimes e tirem conclusões.
Tell me a story V with comments
Graças ao blog do P. consegui ver este pequeno filme sobre a Noruega e que não foi incluído na versão final do filme Sicko porque, segundo o realizador Michael Moore, os norte-americanos não iriam acreditar.
Em resposta tardia a um comentário e pergunta em que país gostaria de viver, respondo que gostava de viver em Portugal. Apenas teriamos que mudar umas coisinhas sem importância. A Noruega é um bom exemplo a seguir. Também acredito que a falta de sol durante 4 meses e a proximidade do norte magnético deve influenciar a cabeça desta gente, levando a que sejam mais sérios e responsáveis, não havendo lugar a chico-espertices tão tipicos aqui em terras lusas. Talvez estejamos condenados a viver mal, e à medida que o tempo avança, apenas os mais adaptados (leia-se os mais corruptos) consigam safar-se neste tipo de ambiente. Porque por razões históricas e culturais não ha mesmo nada a fazer. A malta quer é sol e imperiais (ao contrário da Noruega não estamos a criar energia com isso). De lá só mesmo o bacalhau. A pergunta que realmente importa colocar nesta altura é: já alguém ouviu falar do futebol da Noruega? Eu também não. Aleluia Sra do Caravagio e amen Cristiano Ronaldo.
ps. em relação ao cimento e sua influência, veja-se mais uma luta
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Em jeito de entabular uma conversa
No mesmo país onde o presidente não sabe falar e parece perdido no espaço:
surge esta ideia: a auto-estrada I35 que corta o pais ao meio, é fruto de obra divina e é a mesma que é referida em Isaias, no Antigo Testamento. Para alem disso, ao longo da estrada, estão a juntar-se movimentos de jovens cristãos que curam homossexualidade entre outros.
Afinal Deus é contrutor civil, caro Alf. Afinal há razões para tanto cimento. Afinal Os nossos "politicos" são pastores do Senhor e vão curar-nos. Salvé aleluia, amén.
ps. os videos foram retirados do BiToque e do ZdC
Confuso, céptico, angustiado
Samuel Beckett
Nada como dois portugueses cosmopolitas para logo desabrochar em mim uma enorme e provinciana vergonha de ser português. Na semana passada o doutor Mário Soares e a doutora Clara Ferreira Alves passearam por sítios vários empoleirados em conversas sem qualquer nexo, sem preparação, em jeito de opinião avulsa. Será que uma carreira política fulgurante (se é que o serviço político pode ser casado com o fulgor) justifica opinar sobre tudo sem qualquer ideia prévia do que se vai dizer?
O doutor Soares deambula por inúmeras matérias, surfando a onda do acaso com a prancha do seu pensamento, uma peça oleada, bem constituída, composta por madeiras de várias proveniências (a social democracia alemã, um cabelo de Marx, as obras completas de Miguel Torga resumidas para estudantes de direito, Camus na diagonal, Victor Hugo para crianças, Proudhon em 5 minutos, um manual de retórica dos anos vinte e uma gramática da liderança com promessa de resultados a curto prazo). Contudo, convém reconhecer que o doutor Soares é uma agradável presença. Uma espécie de Professor Cavaco Silva sem economia mas com educação e cultura. Por justiça deve também reconhecer-se que a doutora Ferreira Alves diz coisas inteligentes, embora às vezes se passem alguns segundos de intervalo.
O diálogo entre os dois monstros da cultura portuguesa é entremeado com alguns exercícios de gosto. O doutor Soares refere, entre várias outras sensibilidades, a sua antipatia por Beckett: um autor “confuso, céptico, angustiado”. Com efeito, caro leitor, com efeito, que para angústia, cepticismo e confusão já bastam os diálogos entre o doutor Soares e a doutora Clara Ferreira Alves.
O programa seguiu escorreito por portos do mediterrâneo, subúrbios de Paris e o cais das descobertas. A dado momento o assunto inevitável. A doutora Ferreira Alves refere a hodierna cultura do fait-divers. O doutor Soares aponta a criminosa televisão. Os dois encolhem os ombros, enquanto continuam o seu passeio. Não lembrou a nenhum dos dois que aquele programa, gravado para a criminosa televisão, onde aliás os dois pontificam com abundância, é, precisamente, um claro exemplo do fait-divers hodierno, neste caso para o segmento dos licenciados. Vejamos um exemplo:
- Quantos livros tem hoje? (perguntava a pluma caprichosa)
- Uns 50 ou 60 000 volumes… (responde grave, hierático e circunspecto o doutor Soares)
- Dá para várias bibliotecas (risos). (interpela novamente a pluma caprichosa em jeito de elogio abasbacado).
Perante este proficiente diálogo somente uma nota solta (a minha sentida homenagem ao doutor Vitorino):
É que a troca de palavras logo correspondeu a uma de várias cosmopolias conversas entre outros dois portugueses proficientes e cosmopolitas. O meu avô, nas longas tardes de verão na cova da beira, enquanto cuidava das laranjeiras e do batatal, perdido num vale poluído pela extracção do minério entre a estrela e o açor, costumava entabular longas conversas (não sobre urbanizações, como é bom de ver) com um amigo moleiro que amanhava uma horta ali perto. Sentados no xisto às vezes lançavam no ar quente da tarde algumas relevantes reflexões:
- Quantas cabras trazes hoje? (perguntava o meu avô afagando com o olhar os múltiplos animais da encosta no momento em que retirava da mala a bucha)
- Aí umas 100 ou 150 peças. (respondia o moleiro com orgulhosa gravidade)
- Dá para vários currais. (sorria em saudação o meu avô, enquanto se debatia com o queijo e os incómodos gumes do xisto)
Alguém devia explicar a estes insólitos produtores televisivos que um programa de televisão pode ser um espaço de tempo bem utilizado. Depois de António Vitorino de Almeida e Bárbara Guimarães passearem desnorteados por algumas capitais europeias, concorrendo entre si na caça à irrelevância vejo emergir na minha mente um projecto de sucesso garantido: Cecília do Carmo e Eusébio pisando os relvados europeus em busca dos mais valiosos momentos futebolísticos do século XX, comentando as vivências particulares, exprimindo os seus desejos e ambiguidades, os seus anseios e as suas expectativas. Caro leitor, deixo-lhe como consolação dos aflitos uma velha reflexão de Marx, também aplicável à história da programação televisiva – a história repete-se, primeiro como tragédia e depois como farsa.
A chave estruturadora
O empreendimento em causa, localizado junto à segunda fase do Parque dos Poetas (Paço de Arcos), já deu origem a um abaixo-assinado e a uma queixa junto do Ministério Público de Sintra. O projecto integra sete edifícios (alguns dos quais com oito e nove pisos acima do solo), com 125 fogos, índices construtivos demasiado elevados e que violam o PDM em vigor, segundo os moradores.
Em Julho do ano passado, um grupo de cidadãos apresentou ao procurador do Tribunal Administrativo de Sintra uma queixa contra a câmara de Oeiras e contra o promotor da urbanização - J. Dias e Dias - alegando que o empreendimento violava o PDM.
O Processo remonta a 1982
Segundo os autores da queixa, os antecedentes remontam pelo menos a 1982, já que foi neste ano que deu entrada na câmara um pedido de licenciamento de loteamento dos terrenos entre as ruas Joaquim Moreira Rato e Carlos Vieira Ramos.
"Após várias vicissitudes ocorridas durante o licenciamento" foi emitido um alvará, em nome de uma outra construtora, que caducou. Os terrenos foram entretanto adquiridos pela J. Dias e Dias, com vista a solicitar novo pedido de loteamento.
"Para se assegurar das capacidades construtivas do terreno em causa, em vez de recorrer ao procedimento de informação prévia, (o construtor) optou por entabular conversações directas com o então presidente da câmara, Isaltino Morais", refere a queixa. Após "reuniões informais", chegaram a acordo em relação à volumetria, tendo o alvará sido emitido em Março de 2004 e as obras começado a 14 de Maio.
Sei por experiência própria que estas maçadoras questões da informação prévia demoram tempo, exigem cuidados técnicos e algum “jogo de cintura” administrativo. Como tempo é dinheiro vamos antes a uma conversa. Caro leitor, proponha esta semana um aumento de salário ao seu patrão. Se não tem patrão, suba os os seu preços. Se houver dificuldade experimente uma conversa. Verá que o entabular de conversações directas continua a ser a melhor fomra de resolver um problema.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
As time goes by me
Fui escrevendo umas coisas enquanto lá estive, e é curioso voltar a ler os textos e do que dessa leitura surge. Pensar no que pensava há um ano atrás. Entretanto muito mudou. A terra continua a girar. E nós vamos com ela.
sábado, 1 de dezembro de 2007
Poesia de bolso
Volto à carga em Oeiras. Desta vez o tema é o Parque dos Poetas. Há muito que falo nisto, mas nunca o escrevi antes. O Parque dos Poetas é feio. Perdeu-se uma boa oportunidade de ser ter um espaço verde com uma area consideravel (25ha no projecto original, o Central Park tem 341ha por exemplo), para passar a ter um espaço com demasiado cimento, marmore e estruturas metálicas, estadio de futebol e respectivas bancadas, e pior de tudo uma alameda de consagração a poetas. Esta ideia de homenagem fruto de um riquismo foleiro e de cultura de pedra marmore, acompanhada por intervenções de jardinagem muito discutiveis, é na minha opinião um grande erro. Um parque urbano por conceito é um espaço livre de edificios e de intervenções, onde existe em abundância espaços verdes de forma a que o visitante possa extactamente usufruir desse espaço. Uma alternativa com espaços de relva, pequenos lagos, etc, alem de muito mais barata teria uma componente importante: não está associada a temas, é imtemporal. É legado para o futuro. Nada me move contra os poetas, pelo contrário até, mas acredito existirem outros meios de perpetuar a sua obra.
Outra questão é a propria expansão do parque para o futuro. Neste momento dos 25ha apenas 10 estão construidos. Já houve polemicas com a construção de um predio de varios andares no espaço do parque e que foi embargado. Durante a campanha das autarquicas foi prometido novas revelações para o parque, assim como girassois que iam alegrar o espaço. De facto foram colocados, de facto cresceram. De facto secaram. O Parque continua parado. O prédio continua de pé apesar de embargado e aguarda-se por decisão do tribunal. Que futuro? Olhemos para lá fora. Veja-se o Central Park ou o Hide Park. Não era preciso ir muito longe. Veja-se o parque da Cidade do Porto. O betão em Oeiras claramente começa a ganhar e há que começar a pensar seriamente que rumo que tomar e que alternativas existem, para evitar males piores. A luta ainda mal começou.
O mais espantoso instrumento
Tudo Passará
E nada fica nada ficará
Só se econtra a felicidade
Quando se entrega o coração
Não sou economista nem gestor e cheguei mesmo a receber um 4 num teste de matemática do 12º ano, o que me valeu a qualificação de “pobreza franciscana”: desculpem mas não é para todos. Desde então tenho procurado perceber se o epíteto estava relacionado com a minha barba adolescente mal semeada, o facto de ter pouco dinheiro ou as goradas tentativas para resolver questões de trigonometria em estilo chilreio de pássaro. Contudo, tenho que confessar o acerto da minha saudosa professora: haverá coisa mais pobremente franciscana do que um exercício de probabilidades mal resolvido por um adolescente da periferia? Como diz um ilustre pensador, há 50% de possibilidades de qualquer coisa acontecer. Ou acontece ou não acontece. E comigo a matemática não aconteceu. Foi como uma mulher bonita que vemos cruzar a rua e perder-se na multidão urbana.
Vem isto a propósito do alegre exercício que, desde então, venho fazendo a título de penitência. Folheio, ocasionalmente, a imprensa económica. Devo dizer, caro leitor, que é um festa cívica de pensamento e vitalidade participativa. Esta semana o Expresso economia traz algumas reflexões prementes. Ficamos a saber que o senhor Comendador da Ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industria João Picoito, gestor de mérito reconhecido, é também Professor Catedrático convidado da Univesidade de Aveiro. Na procura de alguma informação sobre administração, a simples curiosidade, que em tempos matou o gato e hoje, felizmente, não mata sequer uma mosca, levou-me a uma notícia perdida na espuma dos dias: o senhor comendador Picoito recebeu em 2006 o doutoramento honoris causa. A justificação deixa todos sossegados e não envergonha o prestígio secular da universidade. Da mesma forma é indiscutível o trabalho científico-empresarial do agraciado: “o seu contributo persistente, relevante e singular, para o fortalecimento das relações entre as universidades e o meio empresarial, nomeadamente no domínio estratégico das Telecomunicações e o seu percurso profissional brilhante num domínio de actividade e num ambiente empresarial altamente competitivo em termos internacionais” conforme pode ler-se na notícia do sítio Ciência Hoje. Esta imposição das insígnias doutorais celebra uma nova etapa na vida dos portugueses, dos europeus, do mundo inteiro. Leite e mel correndo no deserto.
No sítio da Siemens pode também ler-se “Para quem conhece este professor, gestor e engenheiro electrotécnico, as razões de tal distinção são óbvias: o seu papel na criação e desenvolvimento de grandes centros de investigação de nível internacional em Portugal, o seu contributo para o fortalecimento das relações entre as universidades e o meio empresarial e o seu relacionamento institucional com a Universidade de Aveiro - com consequências positivas para a academia e para a região”. Nada a obstar. A política de aliança entre o tecido empresarial e os centros de investigação, neste sinergia de conteúdos para a criação de emprego e para o desenvolvimento económico português é arguta, poderosa, irrepreensível. Apenas uma pequena sugestão: enviem um mail ao director Martim Avillez de Figueiredo a avisar que o plano está em marcha e que não está sozinho nessa luta desigual contra a grande ilusão dos cursos de letras e a sua famigerada promessa de um bom emprego.
Quanto à universidade caro leitor tire o casaco e a gravata preta do armário que toca a finados. Somos nós, tu e eu, que não compreendemos a força da mudança, os ventos do progresso, as “forças progressistas” na expressão do gestor Carrapatoso que comandam o amanhã que canta.
Chegou a nossa hora, e não nos fica mal aceitar a derrota. Sobre o penalty do Veloso não digo mais nada. Sobre a velha citação do eclesiastes – “quem acrescenta ciência, acrescenta sofrimento à existência” – que Platão não se cansava de repetir, é bom que a coloques na reciclagem que o futuro não se compadece com hesitações.
Sobre o carácter crítico do conhecimento é coisa de alemães oitocentistas com barbas, atacados por problemas intestinais e falta de recursos. Sobre a relação entre ciência e independência é uma teia de aranha a limpar dos cantos esconsos do armário com os livros comprados naqueles desconcertados dias adolescentes de 68. Mas logo vem em meu auxílio esse canto profundo da ciência económica: convém não esquecer nelson ned, o conforto das solidões africanas nas colónias um pouco antes do retorno, o sonho das mulheres portuguesas que esperavam o regressos dos soldados – não esqueça o caro leitor que, também na economia, tudo passa.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
SATU = Sem Alternativa nos Transportes Urbanos
Há que pensar neste facto (e estar parado no trânsito ajuda a pensar) de que há poucas alternativas para quem se desloca para Lisboa a partir de Oeiras e arredores. O comboio é um bom meio, mas ou se vive junto à estação ou então compra-se um bom par de sapatos. As (poucas) camionetas que existem e fazem a ligação aos subúrbios tem horários obtusos e que por vezes aparentam ser variantes com o vento que se faz sentir.
Tenho a sorte de trabalhar a 10 minutos a pé do trabalho, mas todos os dias passo por aqueles que lutam por um lugar na A5. Já vivi isso também e aos poucos uma pessoa habitua-se a sofrer. Apesar de tudo quando estava parado, muitas vezes lembrei-me do comboio cheio de gente suada e apertada as 8h e o carro rapidamente se transformava num sofá com musica a gosto. Nessa altura trabalhava num local onde só de carro conseguia chegar a horas. A alternativa de transportes públicos era andar pé + comboio + autocarro + andar a pé. Não haveria problema nenhum tirando o facto que o autocarro passava de hora a hora, e a partir das 20h não passava. Conclusão: tendo em conta o preço dos transportes e os horários não me admira que se continue a preferir o automóvel.
Voltando à imagem é bem esclarecedora de como seria melhor se houvesse mais transporte e melhor interfaces para as pessoas que vivem nos subúrbios. Ainda há pouco tempo a estação da CP de Oeiras foi brindada com estacionamento pago. Os senhores acharam por bem cobrar o ouro dos deuses por um lugar. O resultado foi um parque vazio e os passeios à volta cheios de carros estacionados fruto de uma imaginação riquíssima baseada no best-seller "como conseguir meter um veiculo onde não há lugar para ele em 2 lições". A bom tempo alteraram a politica e cobram agora "apenas" 1€ por um dia de estacionamento. Foi uma boa ideia. Mas claramente insuficiente. Porque continuam a haver carros em cima dos passeios. Ideias? É necessário aumentar estes interfaces e até mesmo porque não criar uma rede de transportes públicos só do concelho? (ao exemplo do Barreiro, Setubal, etc). Já vimos que o que existe não chega. O transito não para de aumentar. Em Oeiras temos o SATU. E sim é tecnologia de ponta. Mas viaja sozinho. E acaba em lugar nenhum.
ps. De bicicletas não falo. Quem já esteve em Munique ou Berlin sabe bem que lá fácil de andar de bicicleta. Em Lisboa as 7 colinas falam por si. Os taxistas idem.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Acordai!
Tens queixas? Canta que isso passa
Ao que parece nem na Finlândia (país modelo na Europa a todos os níveis) o povo está contente. Para Portugal acho que seria bastante fácil escrever uma canção. O que acham? Aceitam-se sugestões.
O ser e o tempo
"Certamente que a concepção de que a paz é o objectivo da guerra e, portanto, de que uma guerra é a preparação para a paz, é tão antiga como Aristóteles, e a pretensão de que a finalidade de uma corrida ao armamento é a manutenção da paz é ainda mais antiga, isto é, tão velha como a descoberta da falsa propaganda. (...)"
Universidade de Princeton, na Primavera de 1959
ARENDT, Hannah, Sobre a revolução, Relógio D'Água, Lisboa, p. 12-17).
Tal como um dia escreveu Milan Kundera a política é sempre uma luta entre a memória e o esquecimento. Talvez por isso os cursos de humanidades, onde uma grande parte do tecido teórico se encontra voltado para o passado, se encontram hoje numa situação difícil. Opiniões todos temos. Não se trata, portanto, de discutir a questão moral. A ética é sempre uma geometria de espaços e, por isso, uma luta justificada por necessidades. Assim resta-nos tentar perceber quem leu ou quem não leu, quem analisou ou quem não analisou, quem trabalhou o problema ou quem trabalhou o seu percurso pessoal - talvez seja a hora de uma crítica de fundo ao paradigma dos vícios privados/virtudes públcias. Porque há coisas discutíveis como a participação de uma força militar internacional num inequívoco cenário de violência política e opressão. Mas há também coisas muito pouco discutíveis como as relações entre o ritmo cardíaco e o suporte da vida ou como a superficialidade intelectual de grande parte dos líderes políticos de sucesso. Como a barbaridade da guerra e a grave mentira dos fins justificados. Talvez seja essa a moral da grande História. A nossa escassa vida nãos nos permite ser duas coisas em simultâneo no mesmo espaço de tempo.
Tell me a story IV
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Acaso
Que demora a deixar de ser pequenino.
Veloz como um raio é a morte
Que nos deixa um sentimento de pouca sorte.
Longo é o tempo que sozinhos passamos,
Assim como o que esperando pela pessoa que amamos.
Curta parece sempre a disponibilidade
Para aproveitar os momentos de amizade.
Déjà vu
Habemus Ermida
Como diria o nosso primeiro: porreiro pá!
ps. é notório o aumento de actividade aqui no blog. Das duas uma, ou estamos sem nada para fazer ou então no caminho do paraiso. Obrigado pelo contributo Caldo Verde e Alf para as histórias. Caro Alf, logo fico à espera do "Pringle" em jeito de salvação para o Glorioso. Recomendo muitas Nossas Senhoras fluorescentes.
Uma história de encantar - Tell me a story III
A história que vos queria aqui deixar surge em torno de um dos temas fulcrais da nossa associação: a cidadania.
Tomei conhecimento de uma outra associação, através do seu site, e não pude deixar de pensar que este espaço era o melhor sítio para a divulgar.
O nome da associação em questão é Ajuda de Berço. Não sei se alguns de vós já tinham ouvido falar dela, ou até feito contribuições, mas para mim foi uma novidade.
A sua missão é, e passo a transcrever:
"A Ajuda de Berço promove, defende e dignifica a vida humana, através do apoio a mulheres grávidas sem condições e aos filhos delas nascidos; bem como o acolhimento e encaminhamento de crianças entre os 0 e os 3 anos de idade que não possam viver com os pais ou familiares.
Para mais informações contacte ajudadeberco@ajudadeberco.pt ou ligue para o 21 362 82 74/6/7."
O site em questão encontra-se em www.ajudadeberco.pt
Já se vêm as iluminações de Natal por cidades e vilas, e já se apela ao espírito de consumismo exacerbaco, perdão, de partilha, por isso que melhor altura para vermos de podemos contribuir de alguma forma, quer seja como indivíduos quer seja como associação que somos.
E com este pensamento vos deixo com um até breve.
Tell me a story II
Tomo a liberdade de participar no espaço inaugurado por El_presidente. Com uma história, pois claro.
Era uma vez três gatunos crucificados numa monte ventoso e seco da palestina. Um deles parece que zombava, uma espécie de irritação arrependida, uma forma de violência contra as coisas serem o que são, um apelo enraivecido a ver se iam todo três ainda a qualquer lado. O outro estava calado. Parece que era daquele tipo de gajos que sabe. Não sabia exactamente o quê mas tal como o velho ateniense sabia que sabia qualquer coisa: que era não saber nada de nada.
Estava ainda um terceiro, que era o mais novo - os gajos novos são sempre os que dizem coisas que ninguém percebe. Parece que tinha um olhar pendurado no horizonte. Ou eram aves a caminho do sul ou era sabedoria também mas daquela que traz também as lágrimas. Então a dado momento disse este último ladrão:
- Nos dois ainda bem que a morte nos castiga pois somos dela merecedores. Mas este homem que fez ele para estar aqui. Senhor, lembra-te de mim quando vieres com o teu reino.
Alguns minutos depois, muita comoção e três mercadores de tendas que passaram a caminho de Éfeso, os três ladrões morreram. Os corvos cruzaram o céu do fim da tarde. O vento soprou para os lados da cidade velha. Alguns séculos depois os romanos regressaram aos campos floridos da toscânia, ao sol da sicília, aos poentes napolitanos, às neves de Milão. Uma vez que deram em escrever o sucedido ninguém sabe muito bem o que respondeu o ladrão calado, o gajo que sabia e terá dito:
- Hoje mesmo estarás comigo no paraíso.
Como ninguém percebeu onde ficava aquele sítio estranho - onde os gajos tinham combinado o encontro - foram uns quantos séculos de discussão: acentuação do grego, se o ladrão do meio, que tinha referido Hoje, estava a falar daquele dia ou do fim do tempo; se o fim do tempo era no outro dia, dali a três semanas ou vinte séculos; se o Hoje pertencia a outra qualquer dimensão que ainda está por descobrir; se o encontro metia o corpo e a alma ou se era só a alma; se a alma dormia, levitava, ou era emanação de Deus; enfim toda uma panóplia de certas e determinadas questões.
Nisto apareceu um jesuíta, daqueles tramados, chamado Vieira e disse:
“Levarem os reis consigo ao Paraíso ladrões não só não é companhia indecente, mas acção tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é tanto pelo contrário que, em vez de os reis levarem consigo os ladrões ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno.”
Quanto a mim nenhum deles era ladrão. O primeiro era um gajo sem paciência, mal orientado, que acabou amargurado com o estado das coisas. O do meio era um carpinteiro a quem ninguém conseguiu explicar bem os contornos daquela lamentável situação. O terceiro…Bem o terceiro talvez fosse como um gajo que todos os dias se senta para escrever e não consegue entender porque será que o gajo do meio faltou ao encontro combinado.
Um boa crítica é sempre um grande comentário
“O estúpido direito a ter opinião que não é o direito de pensar por si mesmo e submeter a uma confrontação racional o pensado, mas sim o de manter a própria crença, sem que ninguém interfira com incómodas objecções. Viver numa sociedade plural impõe assumir que o que é verdadeiramente importante são as pessoas , não as suas opiniões e que estas devem ser escutadas e discutidas e que não nos devemos limitar a vê-las passar, sem as tocar, como se fossem vacas sagradas”
Fernando Savater, O valor da educação, Presença, Lisboa, 1997
O que está em causa é um poder absolutamente determinante na vida de cada um de nós. Como todos sabemos os jornais de grande tiragem, as televisões e, felizmente, cada vez mais a net, determinam parcialmente eleições, decisões políticas, formas de pensar e até empregos, para já não falar no seu papel cada vez maior na construção do tecido económico. O último que tentou colocar a questão, o deputado Carrilho, apesar da forma arrogante com que o fez, talvez não merecesse ter sido atropelado como foi. A verdade é que assistimos ao passear de opinião sem contraditório, sem esclarecimentos, de discursos disparatados que por serem tidos como opiniões são considerados intocáveis. Caro leitor, concordo que todos têm o direito a opiniões. Mas convém que elas sejam bem argumentadas, inteligentes e informadas. O problema do Magister Neves (como aliás outros cronistas a “convidar” ao nosso espaço) é que raramente consegue reunir estas três condições em simultâneo. Reproduzo aliás a sua observação com a qual concordo em absoluto: “Esta reverência da nossa dita comunicação dita social para com determinadas personalidades é que me incomoda. Lembro-me sempre do "só sábios éramos não sei quantos...", CS obviamente incluída”.
Não significa isto tornar os meios de comunicação bodes expiatórios dos impasses políticos. Significa que é preciso verdadeira pluralidade. Significa que o jornalismo não deve ser uma missão (como Miguel Sousa Tavares relembrava ontem a Ana Lourenço na Sicnotícias) mas uma profissão, uma dedicação. Se assim fosse talvez os disparates diminuíssem ainda que, como é óbivo e sempre nos recorda o velho Platão, ter ciência é saber que ela nos pode abandonar a qualquer momento.
Umpf
Ó El_Presidente, é possível reorganizar os posts para eles estarem no sítio correcto? Não gostaria nada de ficar presa nestas limitações, imagine-se que se tratava dos quadrantes sócio-políticos, já viram o erro gigantesco e os danos irreversíveis que uma colocação não desejada poderia causar? Isto mesmo depois de se ter feito o teste e o resultado indicar o que o coração também sente?
Resumindo e baralhando: help!
Tell me a story
ps. já que o Alf inaugura espaços aqui no blog, eu não quero ficar atrás. Assim inventei o tell me a story.
terça-feira, 27 de novembro de 2007
You were always on my mind
Para combater esse silêncio analisaremos o conteúdo dessas opiniões glosando as afirmações mais esclarecidas. Deste modo estaremos a contribuir para aquilo que julgamos ser um autêntico breviário comentado do homem moderno, permitindo, em simultâneo, que o esquecimento não nos separe destas fontes de clarividência.
Hoje temos connosco o Magister César da Neves. Com a crónica “O trauma e o regresso da religião” é todo um mundo que se descodifica perante o nosso olhar. Pela mão do Magister a realidade não tem segredos, e vemos ermergir uma autêntica “aletheia” interpretativa em torno da verdade.
Oiçamos com atenção:
“Assiste-se à expansão aberta das devoções descafeinadas, sobretudo nas zonas de decadência cultural, como a Europa”.
Apenas alguns poucos seriam capazes de perceber que a Europa é uma região em decadência cultural. Aliás, há vários decénios que não se lê um jornal, não se assiste a um noticiário, não se frequenta uma conferência em que a palavra crise seja pronunciada. Querem esconder-nos esta preocupante realidade. Mas o Magister Neves aí está para a desmontar pronunciando com coragem a palavra decadência, mostrando que a Europa é um lugar em ruínas, abjecto nos seus comportamentos, decadente, mirrado, pífio, a bolsar infecções por todos os seus poros. Apenas por compaixão o Magister Neves não conclui a sua tarefa fazendo desfilar perante os olhos atónitos do leitor uma autêntica galeria de regiões onde a a cultura pulsa, vibrante e radiosa como o sol de verão: a américa latina e a sua fulgurante cultura política, assente sobre uma irrepreensível distribuição da riqueza e uma multplicação imparável da escolaridade; a américa do norte e o seu desenvolvimento inigualável, movido por um combate cego a favor do pacifismo e da abolição das armas; o médio oriente e os seus inegáveis contributos científicos – o cinto de explosivos e a burka; a ásia, meu deus a ásia com o seu oriental respeito pelo silêncio, onde emergem culturas plenas de vida, de chumbo e de gaiolas habitacionais com meio metro quadrado; em África nem é preciso falar. Sobre África, ó Europa da vergonha, apenas uma palavra: catana.
“A juventude naturalmente não pode existir sem uma fé. Os que a assumem, vivem equilibrados; os outros são explorados por interesses sedutores. O rock e o metal, por exemplo, apresentam-se cada vez mais como avassaladoras galáxias de doutrinas metafísicas, com santuários, paramentos, liturgias e penitências. Os novos profetas organizam-se em bandas e a visita semanal à discoteca substitui para muitos a missa. O êxtase dos concertos imita as antigas apoteoses dionisíacas.”
Ó meu deus, como acompanhar tanta sapiência. “A juventude naturalmente não pode existir sem fé”. Sobre isto não compreendo e por isso não vou falar. Mas naturalmente que aqueles que assumem a fé decerto são equilibrados, de outro modo para quê assumir a fé? Ou alguém está por acaso a sugerir que a fé é uma forma de colmatar um forte desiquilíbrio em torno de uma incapacidade, tão humana, de não fazer silêncio perante aquilo que não compreende? Acho bem que o leitor não venha com progressismos iluministas ultrapassados e decadentistas. No que diz respeito ao rock e ao metal como galáxias de doutrinas metafísicas (uma bela expressão) acho que o Magister põe o dedo na ferida. Quando estabelece uma analogia entre a missa e a discoteca é como se uma luz brilhasse de repente na escuridão existencial dos séculos humanos. Isto porque há muito que me preocupava o facto de sair sempre da missa com um cansaço de quem está há três horas aos saltos, além do cérebro inebriado por uma espécie de repetição insurdecedora.
“Até a letra de muitas canções lembra o Livro dos Salmos. Nominalmente tratam do prazer, mas só ganham sentido como orações. Frases como "não posso viver sem ti" ou "amar- -te-ei para sempre" são incompreensíveis se dirigidas à amada; mas referidas a Deus, tornam-se plausíveis e razoáveis. Até o Papa pode rezar, quase sem mudar uma vírgula, com as nossas canções, da velhinha Always on my Mind (1972) de Elvis Presley até a I Do It For You (1993) de Bryan Adams.”
Agora ó incrédulos e materialistas façam silêncio perante as trompas da verdade. Magister não podemos viver sem ti. Esta ideia do Papa a rezar ao som de Elvis parece-me talvez o momento que inaugura este século XXI em termo de capacidade hermenêutica. Pet Shop Boys ao altar e já.
“São os meios anticlericais que mostram bem como a religião ultrapassa o campo da religião. O cepticismo militante mostrou ser a fé do avesso. O fervor beato dos ateísmos, jacobino ou marxista, o dogma inabalável do cientifismo panteísta ou a mística apocalíptica dos movimentos ecológicos e naturistas, contêm todos os elementos das igrejas tradicionais. Os pregadores inflamados estão hoje não nos púlpitos mas em comícios esquerdistas e revistas radicais”.
Em relação a este princípio de leitura é copiar para o caderno, acreditando que talvez um dia eu esteja à altura de o entender. Por agora resta-me unir as duas mãos e agradecer.
“Para compreender o trauma e o regresso à fé múltipla de Atenas, é preciso considerar a História recente. Ela começa no choque original da cultura moderna, as guerras da Reforma. Nessa época, em que detalhes teológicos se tornavam pretextos nos campos de batalha, as pessoas pacíficas não podiam falar de fé, sob pena de combaterem os vizinhos. Foi um tempo terrível! A razão por que os nossos intelectuais não percebem a religião, e só pensam em violência quando falam dela, vem da miopia imposta por esta obsessão. Este é o trauma.”
Não percebi. Repete uma outra vez Magister.
“Para compreender o trauma e o regresso à fé múltipla de Atenas, é preciso considerar a História recente. Ela começa no choque original da cultura moderna, as guerras da Reforma. Nessa época, em que detalhes teológicos se tornavam pretextos nos campos de batalha, as pessoas pacíficas não podiam falar de fé, sob pena de combaterem os vizinhos. Foi um tempo terrível! A razão por que os nossos intelectuais não percebem a religião, e só pensam em violência quando falam dela, vem da miopia imposta por esta obsessão. Este é o trauma.”
Ahhh, agora sim. Como ficámos traumatizados pelas guerras da reforma não conseguimos separar a religão da batatada renascentista. De maneira que as guerras de religião foram um pretexto para outras convulsões, mais estruturais, alimentadas por forças subterrâneas que fizeram depois pagar a factura aos deprotegidos credos das religiões, instrumentalizando a fé. Mas ó Magister isto cheira-me a materialismo. Se a religião não foi o verdadeiro motor da guerra, então qual foi? Não venha o leitor com a economia que saco já aqui da minha nossa senhora de fátima florescente.
“Perdidas as raízes culturais, apareceram duas soluções. O iluminismo do século XVIII julgou responder com a religião natural, sem padres nem igrejas. E acabou na guilhotina. O positivismo do século XIX fez do homem armado com a ciência o único deus, e Marx, Freud, Sartre, os seus profetas. Com o Holocausto, a bomba e o gulag, ele revelou-se o pior dos ídolos.”
De lágrimas nos olhos apetecia-me cantar uma canção do Frei Hermano enquanto lia o livro de Aura Miguel Porque viajas tanto, tal é a comoção que este desmontar da mentira e da perversão provoca no meu enganado coração. Perdidas as raízes culturais…Precisamente. Ou seja, acabado esse exercício de cultura que era a osmose combinatória (bela expressão de Manuel João Vieira) entre religião e poder foi o fim da cultura na Europa. Morto S. Inácio de Loyola e o Papa Leão X nunca mais a Europa assistiu a uma frase inteligente. Desde então vivemos na mais profunda escuridão. O iluminismo acabou na guilhotina. Nem mais ó Magister, nem mais. Até que enfim alguém diz uma verdade a esses ilumnistas. Virem para aqui com iluminações quando a o rebanho estava no escurinho a rezar o terço e a pedir para o pão chegar para o jantar. Olha os malandros.
Que mais Magister, que mais?
“Estas duas soluções, muito sedutoras, omitem a verdade mais evidente. A natureza e o homem não são deus, não se criam a si mesmos nem controlam o mundo à sua volta. Ou Alguém faz isso, ou então a vida e a realidade não têm finalidade e sentido.”
É preciso dizê-lo com clareza novamente. “A natureza e o homem não são deus, não se criam a si mesmo nem controlam o mundo à sua volta”. Exacto. Quem controla o mundo, enquanto Deus está de férias em Porto Galinhas, é o Sapo Cocas que ainda ontem lhe fiz uma prece para o jogo de quarta-feira na Luz. - Sapo Cocas, escuta-me com atenção que tu estás sempre no meu coração, quando o Petit chutar a bola para a bancada por favor suspende as leis da gravidade e faz com o que o esférico entre na baliza do Dida.
“Foi assim que o ateísmo, sem conseguir fundamento intelectual sólido ou resposta às questões humanas, se revelou uma crença arbitrária. Hoje, após a angústia da Reforma, o terror da Revolução e a perplexidade da guerra global, somos de novo, em tudo, os mais religiosos dos homens.”
Precisamente. “Fundamento intelectual sólido” têm os milagres de Fátimas a que o Magister já dedicou centenas de páginas. É uma pena que as pessoas continuem a ignorar esse facto. E quando assim é, como dizem os futebolistas, não é de admirar que a europa esteja em decadência.
“Só falta ouvir o que Paulo tem a dizer”.
Tentámos trazer aqui um testemunho de Paulo mas não estava disponível uma vez que amanhã se desloca ao comício da Al Qaeda, a convite de Bin laden, para uma conferência intitulada “Do apedrejamento de cristãos à diáspora do disparate: como contribuir para a morte de pessoas e sair por cima”. Não podemos ouvir Paulo, ó Magister, mas dedico-te esta canção do Marco Paulo:
Niguém, ninguém, poderá mudar o mundo
Ninguém, ninguém é mais forte que o amor
Niguém
Niguém