Estas palavras de Sá Carneiro descrevem uma base social de apoio a um partido que entretanto se foi estilhaçando por muitos outros segmentos. Portugal enriqueceu, floresceram sacos de cimento e automóveis de alta cilindrada. Desfizeram-se e fizeram-se novos grupos económicos com toda a tranquilidade que habita o espírito de um historiador dos séculos XVI-XVIII. Nas entre linhas dos tratados europeus a desigualdade cresceu, ainda que os portugueses tivessem prosperado (pelo menos ao nível das condições de vida). Porém, a situação descontrolou-se. Parece inegável que o mundo ocidental, como aliás vários historiadores tinham previsto, ao apostar no liberalismo económico se encontra outra vez perante muitos dos problemas de início do século XX. O problema não é o lucro, o problema é a educação política. Já Descartes dizia que as nossas diferenças talvez provenham de não lermos todos os mesmo livros. Não se assuste estimado leitor. Não defendo programas de leitura obrigatória nem revoluções culturais. Apenas acho que um pouco de história, para variar, talvez fosse um bom complemento ao choque tecnológico. Além de que é tempo de perceber que o problema do lucro não se prende apenas com a inveja que o doutor Júdice tanto vitupera (aliás, se tivesse lido Aristóteles teria compreendido, antes do mais, não ser boa ideia negligenciar a inveja dos cidadãos perante os mais ricos, uma vez que talvez essa riqueza traga nas entrelinhas o problema do equilíbrio que tanto revolta o espírito dos liberais). O problema do controlo do lucro, logo o problema do sistema de travagem do enriquecimento desregrado, representa um escândalo para a nossa consciência? Concedo que sim. É uma questão complexa? Claro que é. Contudo, também a igualdade perante a lei fazia levantar os cabelos aos liberais europeus do século XIX (mesmo os ingleses caro leitor, mesmo os ingleses). Nesta altura já espreitam os fantasmas do socialismo soviético, os leitores já brandem no ar a memória das vítimas e o sangue dos inocentes. Como tal, despeço-me com uma pequena incursão histórica e duas ingénuas interrogações: será que sempre que se discute uma solução política socialista se tem que acabar sempre a contar mortos? Para quando a contagem dos mortos da economia de mercado?
No Prefácio escrito para a edição inglesa de 1888 do "Manifesto do Partido Comunista", Engels referiu-se ao facto do Manifesto não ter sido chamado de Manifesto Socialista, justificando-se: "Por socialistas, em 1847, entendia-se, de um lado, os adeptos dos vários sistemas utópicos: os owenistas na Inglaterra e os fourieristas na França, ambos já reduzidos à condição de meras seitas em vias de desaparecimento gradual; de outro lado, os vários charlatões sociais que por meio dos mais variados truques pretendiam remediar, sem qualquer perigo para o capital e o lucro, todos os males sociais".
Vários charlatões sociais que por meio dos mais variados truques pretendiam remediar, sem qualquer perigo para o capital e o lucro, todos os males sociais? Por acaso, o estimado leitor estará a pensar em alguém em especial?
domingo, 9 de dezembro de 2007
Explicação dos governos portugueses dos últimos trinta anos em trinta segundos
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