sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Assunto universal

E já agora que estou numa de por aqui textos e referências, leiam esta pérola do Rui Santos sobre o desaire do Guimarães na Liga dos Campeões. Cito apenas:

"Mais: o Vitória corre o risco de ser roubado e ainda mais penalizado… por mau comportamento dos jogadores (junto ao túnel) e, eventualmente, do público. Um escândalo!

O problema maior é que NINGUÉM parece interessado em suscitar esta questão de uma forma séria e consequente

É um assunto universal e seria importante a criação de entendimentos no sentido de pressionar a UEFA (no caso europeu) e a FIFA para derrubar o conservadorismo e a mentira.
É uma luta para a qual peço a adesão de toda a comunicação social."

Ajudem o homem ó faz favor. A ver se ele se cala. Ou então ofereçam-lhe uma gravata.

A ler ontem à tarde

Este texto do Casanova. E claro o Besugo e seu teorema de Cartaxana. Notáveis.

A ler de manhã:

A ler este texto da Fernanda Câncio hoje no DN sobre o excesso na cobertura das noticias de violência e crime:

Não estamos sozinhos no mundo. Convém lembrá-lo. Como convém que as análises que se querem sérias não evidenciem o mais raso populismo e a mais confrangedora tentativa de ganhar pontos no concurso da popularidade

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A ida ao museu

Aproveitando os horários laborais favoráveis, fui visitar este espaço. E encontrei lá isto donde tirei o texto em baixo:

"We see the trainee sitting at her workstation in the consults’ open plan office space or in the tax department library all day doing nothing. One of the videos shows her spending an entire day in an elevator. These acts or rather the absence of visible action slowly make the atmosphere around the trainee unbearable and force the colleagues to search for solutions and come up with explanations for the situation.

Masking laziness in apparent activity and browsing Facebook during working hours belong to the acceptable behavioural patterns of a work community. However, sitting in front of an empty desk with your hands of your lap, thinking, threatens the peace of the community and breaks the colleagues’ concentration. When there is no ready method of action, people initially resort to avoidance, which fails to set their mind at ease when the situation drags on.

What provokes people in non-doing alongside strangeness is the element of resistance. The non-doing person isn’t committed to any activity, so they have the potential for anything. It is non-doing that lacks a place in the general order of things, and thus it is a threat to order. It is easy to root out any on-going anti-order activity, but the potential for anything is a continual stimulus without a solution."

Como a artista diz na exposição, a realidade é mais estranha que a ficção.

Os mais corajosos devem ler isto ao som do que pode ser encontrado aqui. Impressoras de agulhas em sinfonia.

Aurinko paistaa kaikille, mutta ei täällä*

Começo com um esclarecimento. A história do Conan O'Brien começou quando um finlandês lhe mandou uma foto da Presidente da Republica e a dizer que ele (Conan) era parecido com ela. Daí a ir visitar o país foi um instante. Pode parecer surpreendente este fascínio, mas vendo as pessoas na rua, consigo ver a ligação. Antes de mais a cor do cabelo. Aqui todos são louros. É um mar sem fim de louros e louras. Os que não são louros ou são imigrantes ou pertencem a alguma tribo urbana que os obriga a ter o cabelo cor de rosa ou verde ou tudo misturado. No programa do Conan o humor é bizarro, non-sense e muitas vezes frio. O que nos leva às pessoas daqui e à meteorologia que as envolve. Se compararmos connosco, nós temos os Malucos do Riso, humor do chico-esperto, das miúdas em bikini ou do cigano. Que nos liga ao sol, à boa comida, à preguiça, etc. É o mesmo processo que leva gente a ver a selecção nacional a chegar ao aeroporto ou o Tony Carreira. No fundo, no fundo somos iguais. Alf prepara-te para esta. Aqui as miúdas (também?) cospem no chão. Os miúdos fazem gestos impróprios para taxistas. Há gente bêbada (no limite da consciência) às 16h. Há gente bizarra. Há gente ainda mais bizarra. Todos tem um telemóvel topo de gama e da Nokia. Pessoas que também correm quando querem ir para casa e o autocarro foge-lhes. Estranhamente não há lojas de chineses (ok ponto a favor). Há imensas lojas de slot-machines e estão todas cheias. Aparentemente a vida aqui também é madrasta e o jogo talvez ajude a ganhar um extra. Tem imensos centros comerciais. As casas são carissimas. Afinal tudo isto me é familiar. Quero o meu dinheiro de volta, não foi isto que me venderam.
Longe de mim dar uma imagem má daqui. Poucos dias se passaram. Do que já vi posso dizer que há coisas muito boas. Os transportes funcionam. Todos falam inglês o que me facilita a vida (uma língua onde quase todas as palavras tem um K ou mais não é fácil de compreender). Os filmes na TV são legendados. Os horários laborais. Extrapolo que a saúde e a educação sejam aquilo que dizem.
A grande diferença é o sol. Ainda não o vi. E começo a acreditar que não verei até voltar a casa. Sempre pensei que essa fosse a explicação para tanto sucesso nos países nórdicos. Ao passar por essa experiência posso confirmar que o que apetece mais é ficar dentro de um prédio e já que ali estamos o melhor é fazer qualquer coisinha. A rua fica para o frio e a chuva ou para o Conan. Contudo acabo como comecei, com um esclarecimento. Um país onde não haja em lugar nenhum, um arrozinho de feijão com jaquizinhos e uma fatia de melão, numa esplanada, não é país para mim.

*O sol brilha para todos, mas não aqui

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Teorema de Tony Carreira

Reparou o caro leitor que o tema é a aproximação de um avião à pista do Galeão (aeroporto internacional do Rio de Janeiro)? O poeta (músico) está morrendo de saudade e saúda a terra onde vive a sua amada. A morena vai sambar seu corpo todo balançar, rio terra de sol e de mar. Em simultâneo, há uma identificação pefeita com a terra de proveniência do poeta. Minha alma canta vejo o rio de janeiro. Rio sem mar praias sem fim, Rio você foi feito para mim. Podia ser Tony Carreira, não é? Pois é. Mas não é.

Filândia, será por acaso que rimas com disneylândia?

O défice encerrará em Portugal toda a lógica político-partidária-ó-vai-te-lixar? Ou será antes uma exigência que impõe a redução da despesa pública mais a gestação (inseminada artificialmente) de produtos diferenciados e o camandro?
Estes dias que têm sido os nossos, não fazem sentido. Tal como diz um sobrinho meu sobre as contas de dividir que implicam casas decimais. Pois a realidade é assim como uma subtração de5 por 2 para o petiz da segunda classe: não faz sentido.
Conan O’brien e a Filândia!!! Alguém podia fazer o favor de explicar um dos fenómenos mais bizarros que foi dado contemplar a um pobre português nos últimos vinte anos? Já agora, quantas medalhas olímpicas terá tido a Filândia? Conclusão: só neste país é que se diz só neste país. O nosso enviado especial em Helsinquia é neste momento exortado a uma investigação que pode salvar a pátria: afinal, a parvoíce não é um exclusivo português.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Flight of conchords + Conan

Hoje ao passar na estação dos autocarros vi uma t-shirt que me fez lembrar estes senhores:





já andava a fazer falta aqui uns youtubes aparvalhados. Entretanto nesta terra idolatram o Conan O'Brien. Quem vê os programas dele e visita a Finlândia acaba por perceber o porque de tanto fascínio:

A primeira coisa que se vê quando se chega aqui

ps para os mais distraídos, estou em Helsinquia
ps 2 a foto não é minha. foi a melhor que arranjei para retratar a minha imagem visual de ontem quando pus os pés em terra. cinzento é a ideia.

sábado, 23 de agosto de 2008

«Há gente muito estúpida, com a graça de Deus»

O título acima alinhavado, pedido emprestado ao Maradona, confirma a perplexidade de quem se sente incompreendido. Como todos sabem, a marcha é um desporto talhado para as elites que se estão da morte libertando. Porém, enquanto aquelas se preparam, um bando de ociosos ruralizados usurpa o lugar do desafio reflectindo a face dessa manada indisciplinada de situacionistas que dá pelo nome de Portugal. Infelizmente, essa entidade mística - os portugueses - revelou, uma vez mais, a crónica falta de ambição. Não ambicionaram um projecto de urbanização ou um concurso para hotel de cinco estrelas. Daí que a sua corrida se tenha traduzido apenas nuns míseros em 8º e 11º lugares, marcas atribuídas a Ana Cabecinha e António Pereira, respectivamente. O facto de terem sido batidos os dois melhores tempos (masculino e feminino) da pátria em nada invalida a manifesta preguiça destes dois marchadores, apoiados por poderosos clusters desportivos que se disfarçam com o nome de Clube Oriental de Pechão e Juventude Operária do Monte Abraão, outra vez respectivamente. Só quem não conhece o panorama desportivo internacional, e as carências que vão por essa Europa fora, pode recusar a responsabilidade dourada que caía sobre os dois atletas destes dois poderosos clubes. Monte Abraão e Pechão (que, apenas por acaso, 99,9999% de portugueses não fazem a mais pequena ideia de uma hipotética localização - os outros 0,1111% são os habitantes de Pechão).

Já para não falar de Augusto Cardoso, pintor de gruas - uma das mais modernas técnicas de treino para marcha, desenvolvida em diversas Universidades Norte-americanas. Segundo apontam vários estudos, o movimento (8 horas diárias) constante, associado à inalação de tintas tóxicas permite uma elasticidade cardio-vascular verdadeiramente demolidora. Assim, o resultado obtido foi para todos uma surpresa e uma desilusão. Sugerimos nós, aproveitando as esclarecidas conclusões de Júdice, «a pouca ambição, no fundo com muito receio de falhar, sem o espírito de sacrifício necessário», a pouca disposição de «continuar a trabalhar, achando que o sucesso não compensa, sempre insatisfeitos com o que lhes foi dado porque achariam seguramente que muito mais lhes era devido» A crónica falta de ambição conduziu o altleta a terminar a prova em 40º. Segundo o Público, «o atleta dormiu pouco na véspera, teve febre, vomitou antes da prova, mas fez questão de concluir a competição». Segundo Júdice, no já citado artigo do Público, uma das características nacionais é a desistência perante a constatação da impossibilidade de vencer. Com efeito. Donde a revelação inevitável: Augusto Cardoso afinal não é natural do Porto mas sim de Upsala na Suécia. O atleta deixou ainda os agradecimentos à sua empresa que, pagando dois meses do ordenado devido em troca da pintura de gruas, permitiu a comparência em Pequim.

Perante o exemplo de trabalho, sucesso, rigor, excelência, exigência, demonstrado por briosos democratas liberais e individualistas (no bom sentido da palavra, claro) como José Miguel Júdice, é verdadeiramente um opóbrio, uma vergonha, um triste fado em lá menor, uma caractestística camoneana, um canto queirosenano, esta saga dos atletas olímpicos, incapazes de apreenderem o brio do risco, do sacrífico, do esforço, do desafio, emanado constantemente pelos líderes da República. Perdoa-nos ó Júdice. Que o manto da cinza e do esquecimento caia sobre os nossos ombros indignos pois nós não somos dignos de pisar o mesmo solo que os teus bem-aventurados,velozes e sapientes pés.

Para que não restem dúvidas sobre a riqueza inesgotável dos texto de Júdice aqui fica uma poderosa corroboração da falta de ambição e espírito de sacrifício dos nossos atletas.


21/08/2008 13:31 (LUSA)
Temas: Desporto, Atletismo, Jogos Olímpicos de Verão
** Rui Barbosa Batista, Agência Lusa **


Pequim, 21 Ago (Lusa) – Augusto Cardoso é certamente o primeiro pintor de gruas mundial a competir nos Jogos Olímpicos, surgindo em Pequim2008 determinado a bater o recorde nacional dos 50 quilómetros marcha.

As 3:52.17 horas de João Vieira já estiveram mais longe: Augusto Cardoso só por uma vez baixou das quatro horas (3:55.14), mas a verdade é que no último ano melhorou o seu recorde em mais de oito minutos.

Aos 37 anos, o atleta do FC Porto cumpre, finalmente, o sonho de participar no maior evento de desporto mundial, depois de falhar as tentativas para Sydney2000 (lesionado) e Atenas2004.

Para abandonar a alta competição internacional em grande, o atleta portuense multiplicou-se em sacrifícios, treinando antes e depois do trabalho, restando poucas horas para o descanso e família.

Durante a preparação, acordou com o patrão entrar um pouco mais tarde e aproveitava para chegar ao trabalho já com o aquecimento feito de 10 quilómetros a marchar. Ao fim do dia, voltava a puxar pelo corpo para estar em pleno em Agosto.

“Tenho de agradecer à minha empresa porque sempre me apoiou e até pagou os estágios, ao contrário da federação que nunca me pagou qualquer estágio”, frisou Augusto Cardoso

Um entre oito irmãos, Augusto Cardoso cedo foi obrigado a trabalhar. Começou como trolha, mas depois surgiu a oportunidade e passou a ser pintor de gruas.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Felizmente o Maradona não escreve no Público

Aqui fica à consideração de José Miguel Júdice:
A participação portuguesa nestes Jogos Olímpicos não foi "apregoada como sendo a maior de sempre". A participação portuguesa foi a maior de sempre. O Carlos do Carmo Carapinha não tem a mais vaga das distantes das ideias se houve mais "laxismo", "bonacheirice", "excesso de favoritismo" ou "falta de entrega e de preparação de alguns" do que houve nas delegações de outros países. Apenas o provincianismo pode permitir que se submeta uma realidade tão universal a adjectivos com uma ambição quase psiquiatrica sobre a alma portuguesa.
in A Causa Foi modificada

Na vida, uma só coisa importa. Aprender a perder (Cioran)


Ontem, num dos habituais comentários movidos a estupidez, tão habituais no meio televisivo, a locutora relatava, balbuciando parvoíce que «com Nelson Évora saltamos todos». Com Nelson Évora saltamos todos. Já Naíde Gomes parece ter sido apenas ela, na mais plena solidão, a pisar a tábua. Nós também lá estivemos enquanto ela falhava. Talvez até tenhamos sido mais nós do que ela a pisar o nulo, a falhar a chamada, a trocar o passo no medo do erro, a saltar a medo para a areia. Será que há quem não perceba ainda a beleza fera de tudo isto? É belo um atleta em pleno voo conquistando a casa dos deuses. Mas nada há que se compare a uma atleta derrotada que, depois de quatro anos gastos no esforço diário e disciplinado de vencer-se (a si não aos outros) abandona o estádio de cabela erguida, olhar tranquilo, e recomeça, cada dia, uma nova corrida para o imprevisto do futuro. Isso sim, é habitar os cumes do risco, as alturas da excelência e do rigor. Isso, sim, é ter como selo no peito a competição e o desafio. Porque apenas nesse dia de derrota, e ela já o sabe, se torna claro que não é para o ouro que corre, não é para o sucesso, não é para o prémio (meu caro Júdice), é para estar no simples gesto de correr, em movimento, antes do fim, ainda uma outra vez.

O elogio da derrota


Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha

qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

Ruy Belo

Valente, descansa que tu não és como a gente


Vasco Pulido Valente, outro titã do comentário acutilante, opta por uma estratégia menos elaborada, mas igualmente impante. Segundo Valente o «ideal olímpico» é uma treta, um «horror sem alívio». Na linha do que têm sido as análises de Jorge Jesus (para quem o “fair play” é também uma treta e, seguramente, um horror sem alívio, sobretudo se o adversário está em vantagem e faltam apenas dois minutos para o fim da partida), o historiador diz que no «meio de tanta conversa sobre os Jogos de Pequim, quase não se falou dos Jogos de Pequim». Entenda-se que assim é, de facto. E porquê? Porque até o titã da análise comentar o assunto, o assunto não está comentado. Entre diversas pérolas do pensamento ocidental dos últimos dois séculos, Valente deixa-nos esta conclusão: «alguns “desportos” mais recentes (o triatlo, para começar) não fazem o mais vago sentido, execepto provavelmente comercial. E, como se isto não chegasse, o golfe (com dezenas de milhões de praticantes no mundo inteiro) não aparece (…)». Aqui, não sei o que mais espanta o leitor desprevenido. Será a escândalo presente no facto de o golfe não conhecer a glória olímpica? Será o facto de conspurcarem o ideal olímpico com aproveitamentos comerciais?
Em jeito de conclusão magoada (sim, a sabedoria também por vezes sente comoção) Valente diz não se imaginar nada mais triste do que aquele «nadador que ganhou aos 21, uma medalha para que se tinha preparado 15 anos». Valente, façamos um esforço! Não consegue mesmo imaginar nada mais triste?

Jogos Olímpicos


O mundo é um lugar cheio de imperfeições. Desde as complexas dificuldades do direito internacional até às dificuldade étnico-culturais de cada nação. Com efeito, Portugal é uma terra maldita. Em todo o caso, se os jogos olímpicos fossem organizados em torno de disciplinas técnicas como “esperteza”, “basófia”, “charlatanice intelectual”, posso desde já avançar que seria fácil apresentar alguns sérios candidatos aos diferentes pódios, e tudo isto recorrendo apenas aos ilustres colunistas dos jornais diários.


Animado por este espírito olímpico vou fazer evoluir a minha prosa numa muito pouco apreciada disciplina técnica: o comentário do comentário.

Um dos mais estimados colunistas do Público, grande empresário da hotelaria rigorosa e excelente, também especialista em administração da coisa pública, José Miguel Júdice, tem uma visão sui generis do fenómeno olímpico. Com efeito, o seu habitual desalinhamento crítico resulta numa ventoinha de acutilantes observações socio-psicológicas em torno das mais variadas temáticas. Neste particular domínio das Olimpíadas, através do seu texto do Público de sexta-feira, 22 de Agosto, ficamos a saber que Portugal, uma outra vez, revela a sua verdadeira face. Além do mais, o leitor pode encontrar um erudito conjunto de conclusões em torno dos Jogos Olímpicos, entendidos sobretudo como prova irrefutável do perfil nacional de cada povo (leia-se aqui aglomerado de pessoas com caracteres semelhantes). Além da crítica, justa e rigorosa, esclarecida e especializada, ao desempenho dos atletas, podem ler-se úteis sentenças de utilização diária. Já sabiamos, por meio de outros belos textos, que nos vetustos corações dos homens habituados ao risco e ao desafio, cheios de indivídualismo, o jogo é o grande segredo da vida. Aprendemos, contudo, uma outra coisa. De tanto individualizar, acabamos por ficar a saber que existe um conjunto de «características que nos definem que resultam do processo de aculturação em que nos forjamos em cada geração e comunicamos às seguintes». Que é a análise do modo de produção e da reprodução das relações sociais em Marx comparada com esta análise plena de individualismo e de liberdade de aprender, de ensinar, de comer, de correr, de saltar 17, 64?

És grande ó Júdice. Se Portugal fosse um país onde se cultivasse a excelência já estarias a ministrar cadeiras de «política à portuguesa» na Universidade Católica ao lado do douto José António Saraiva.

Segundo Júdice, «O râguebi não foi a Pequim» e, por isso, os atletas portugueses presentes na capital da chinezice (onde também deve existir um elemento a conectar as acções dos milhões de chineses) revelaram assim «a nossa verdadeira face». A saber: «o esforço e o sacrifício não são valorizados, o trabalho e a formação não são enaltecidos, achamos que temos direitos e não deveres, o sucesso é mal visto e só cria problemas e invejas, a exigência e o rigor não são praticados, somos pouco ambiciosos, se acharmos que não podemos ganhar, preferimos desistir, somos incapazes de autocrítica e achamos por isso que a culpa dos nossos fracassos é sempre dos outros (…)».

De acordo com José Miguel Júdice, tudo isto ao contrário da selecção de râguebi no mundial que teria sido um exemplo de exigência, rigor, sucesso. Mas qual selecção de râguebi?
Esta?
Escócia, 56 - Portugal, 10.
Nova Zelândia, 108 - Portugal, 13.
Itália, 31 - Portugal, 5.
Roménia, 14 - Portugal, 10.


De facto, escapa-me aqui qualquer coisa. Suspeito, no entanto, que o raciocínio, neste momento inacessível ao meu pobre e preguiçoso espírito, incluirá concerteza “Rugby”, “Universidade Católica”, “desportos de gajos que se estão sempre a agarrar uns aos outros”, “ignorâncias várias que todos temos”, “merdices liberais”, “almoços em Cascais” e outras coisas mais.

O seu a seu dono! Júdice mostra-se um verdadeiro velocista da análise socio-despotiva: «Os nossos atletas foram assim com pouca ambição, no fundo com muito receio de falhar, sem o espírito de sacrifício necessário, pouco dispostos a continuar a trabalhar, achando que o sucesso não compensa, sempre insatisfeitos com o que lhes foi dado porque achariam seguramente que muito mais lhes era devido.» Estará a falar, por exemplo, de Naíde Gomes? A atleta chegada de São Tomé e Príncipe, com todo o apoio que isso significa (desde os bem equipados bairros sociais, até aos vários rendimentos de que essa gente beneficia, sem outra coisa fazer senão dedicar-se a viver à sombra do Estado Social, seus malandros que nem medalhas de ouro ganham) criada em Fernão Ferro (uma terra de oportunidades e de condições de treino, ele é pistas de tartâ, ele é banhos quentes, ele é massagens tailandesas)? Falará Júdice desta antiga estudante na Escola do Feijó (esse antro de maus hábitos, território favorável à preguiça que deve ter inoculado o vírus da mediocridade em Naíde)?

Atletas de Portugal corem de vergonha! Honra e glória à República. Osportões sagrados do sucesso apenas se abrem à voz dos vencedores. Forjai novas elites para trilhar os rumos da vitória, capazes de se libertarem da «lei da morte de que falava Camões». Sim, esta frase foi pronunciada pelo oráculo. É estúpida, mas não interessa. (Mas Camões falava da lei da morte?) Não interessa. É Júdice, o tribuno, quem vos fala.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Os Jogos vistos na TV, imprensa e blogosfera

Ontem: somos uma merda
Hoje: somos os maiores

Conclusão: melhor representação de sempre de Portugal nos Jogos Olimpicos. guardo para mim a certeza de que temos atletas iguais ao dos outros países. que falham. que são derrotados. mas que foram lá. apesar de tudo.

Uma vez que já tudo se perdeu





quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Rápido. Bem rápido.

A ler de manhã

O Pedro Sales do ZdC faz uma análise excepcional a estas coisas das medalhas e da mania que temos atletas que tem que ganhar o impossível. Ler este, mas também há este, ou este e também este. E por fim este.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Bom inicio de semana (para quem volta de férias)



O elogio do fim

O que Ferreira Fernandes escreve aqui, passou-me ontem pela cabeça ao rever as 8 finais de Phelps em Pequim. E agora? O vazio chegou.

A frase da semana, ou do mês ou de sempre

"De manhã só é bom é na caminha, pelo menos comigo" - Marco Fortes (lançamento do peso)

ps: eu sei que a frase é da semana passada, mas acredito que se criou aqui um momento de história no desporto nacional. O português a re-inventar a desculpa.

Literatura de verão

O besugo está de volta. E em forma.

sábado, 16 de agosto de 2008

Raciocínio em forma de sentimento

Ontem lia um novíssimo poeta português. Dos que colecionam metáforas em caderneta do méxico 86. Havia uma dupla de iraquianos estranhamente parecida com os homens que na aldeia da minha avó passavam todas as madrugadas a caminho da mina. De lambreta e capacete italiano. Fazia frio, mesmo no verão. Ás vezes havia um acidente. Não sei se da geada, se das minis tomadas me jejum na tasca da Barroca.
O problema das metáforas é serem como a geada do outono. Cortam. São esguias e, por vezes, a roda foje. Pimba. Focinho no alcatrão da serra. E se a geada não corta, não há metáfora que salve a voz do literato. São bafuradas de colarinho branco. Ou de barba sebenta, o que vai dar ao mesmo. Restos de literatice. Sem que a morte se ponha de permeio.
Com efeito, o poeta tem que beber a bica preta, já aqui o confirmámos. Mas de cabeça levantada e sem mariquices de pegas no paleio. O poema é simples. É um centro-remate. Uma punhalada. Um grito de milhafre. Uma aceno já no fim da estrada.
Porquê o cinema paraíso?
Porque talvez nos ensine a mais brutal sequência de condensações humanas. Pois é meu caro Fernando Pessoa. Não vamos lá com descrições interiores. Quem quer saber, ó novíssimos poetas, das vossas crises sentimentais de citadinos desorientados. Pensem. Pensem pelo menos um minuto. Forrem os vossos sentimentos de Kant, deitem ao lixo as vossas rançosas colecções de rimas em celofane-literário e talvez saia qualquer coisa que aproveite ao elogio do ritmo e do conhecimento (é disso que se trata, um raciocínio em forma de sentimento).

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A simples razão dos sentidos

Soletra o vento que transforma o arrivista,
o enfraquecido que nao tolera o toque desapiedado,
num deprimente aliviar pelo que é simples,
pelo bastar do rascunho que desoprime o sentimento,
quando via a dama que ceifava no êxtase do empirismo,
agora guardada pelo empunho de alguém que louvava,
e que gemia no seio do habitáculo do prazer,
que escravizara-o ao anunciar o prefácio do afável;
Toda a prece que quebrava o frugal do discurso
era o mais justo e misterioso dos motes
para assediar as letras dos sentidos no verde papiro
no moliceiro incómdo do pensamento pelo recordável
pelo órfão pretérito que sustentava o opúsculo
o profuso bailar por entre o privilégio do sentir.

O formal que exigia ao arrivista a abundância do presente
a honesta mensagem do relegado lugar da razão
e que escapava a todo o remoque que ferira o protegido;
Assim as mãos remessavam o servir do ego da perfeita dama
para o silo do sacrifício onde nao sabotavam
a prosápia do redigir na etiqueta do provérbio
e curavam o inútil ser no protelar da decisão;
E agora a poesia camuflava-se num alongamento prosaico
do memorável perturbar do atalho que orçava o risco
e que salivava pela pira que confessara o que era o sentir
juntando à borda do concílio o dogma vazio
criando a sedenta criatura que não alcançara o seu concreto
o mais proveitoso fim que todo o ente ambicionara
porque o desejo da dama não era condigno com o seu mérito

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

um post rápido com direito a metáfora no fim

Propostas das construtoras estão 40 por cento acima do investimento previsto pelo Governo em seis das novas concessões rodoviárias

O curioso disto é que ainda não estão feitas. Imagino a derrapagem no fim da recta.

O jogo nunca mais será o mesmo

Ontem experimentei ver o jogo do Porto-Lazio sem som na TV e a ouvir o ultimo cd do António Pinho Vargas. É em tudo uma nova dimensão futebolística que se cria.

O homem como criador III



o chef Isaac Hayes morreu ontem

O Lavrador da cidade

Na génese tertuliana da vida na cidade,
onde não pertenciam os privados da razão
protegidos pelas trincheiras do mito profetizado
do proeminente desertor que aspirava ao nada,
todo o barafustar pousava no exumar da ideia
e extinguia-se no parasitismo da pólis,
que louvava o pacial disfarce do bem,
E por momentos, o lavrador ensinava ao aristocrata
que o tropel oriundo do adorado sufista intelectual
conduzia a toda a pústula da sociedade
onde não cabia a elonquência do puritanismo

domingo, 10 de agosto de 2008

Afinal o apito dourado já chegou ao judo

O conteúdo desta noticia irrita-me profundamente

Telma Monteiro fala em «influência do árbitro»

«Estava na melhor forma de sempre. Entrei bem na competição, com o objectivo de ganhar combate a combate e conquistar uma medalha. Esse era o meu objectivo. Sinceramente, não consigo explicar o que correu mal. Sinto que houve influência do árbitro. Mas perdi e não quero questionar isso. Paciência»

O discurso da bola já chegou a todo o lado. É algo que já faz parte de nós. Do povo. Intrinseco. A derrota tem que ser partilhada ou atirada para outros.
Aprender a perder, passa por assumir que o outro foi mais forte. Assim perder também pode ser algo bonito. Agora não me culpem é o árbitro.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O elogio da associação

Ontem a Ermida - Associação Cultural fez um ano. Um ano repleto diga-se. O grupo cresceu. Em número e em capacidade. Sempre me surpreendeu isto. A massa cinzenta que faz a associação. A diversidade de saberes e de gostos permitiu-nos abrangir projectos em áreas tão distintas como a musica e as caminhadas ao ar livre. O desafio do projecto do Ruy Belo. Como quem agarra o touro pelos cornos, mesmo duvidando que fosse(mos) capaz(es) de cumprir. Aqueles que nos acompanham dizem-nos para continuar. Que acreditam. O que é a verdade dizemos nós. Porque assim continuamos a ver o futuro.
Aqui pelo blog, continuamos a fazer aquilo a que nos propusemos: a elogiar a derrota. Porque o jogo já está perdido logo ao inicio. Como dizia ontem o Alf, citando um filosofo, não há coisa mais importante na vida: temos que aprender a perder. Passou um ano, novo ciclo começa hoje. Novas ideias, projectos, derrotas e mais derrotas. Não importa. Continuamos a aprender.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Proposta de leitura de verão

O pensador do Olimpo

No Olimpo, onde senhores saboreavam do discurso coerente
e manipulavam os gentios no real jogo do xadrez,
Constrangiam o defluir do pensador
que questionava qualquer metáfora abstracta
e que provocava o acordar dos fiéis

O homem, fiel da religião do ressentimento
Que desposjava do necessário pensamento
Adulterado pela génese filológica dos semideuses
confluía para o caminho dos sacrifícios,
O caminho dos escravos em direcção à Roma do Nada

Porém, o animal que serenava do ateísmo da palavra,
zumbia por entre o iluminismo do pensamento
e mantinha-se sóbrio ao assédio do discurso incoerente.
Assim ía o pensador do Olimpo, amigo de Narciso,
o pensamento que devolvia ao escravo a sua liberdade

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Foi neste barco


Que fui ver baleias. No banco da frente. Com manhas de valente. Vimos 5 cachalotes a sul do Pico. Ali perto de nós. Mãe e cria, mergulharam para nós. No regresso, vento de frente, ondas de 1 a 2 metros picado. Saltos e mais saltos. Uma viagem que foi agradável, emocionante, divertida, desagradável, horrível, pesadelo e por fim hospital com injecção para as dores nas costas. Obrigado Norberto. Ficas no meu coração.

O resto da viagem também foi muito bom. Agora regressamos ao país no meio da silly season. Haveria muito para comentar e dizer, mas ainda estou de férias. A curar as baleias e seus efeitos. Bom fim de semana. E no momento Carlos Ribeiro fiquem com Eduardo Mourato e o seu "Blue Ocean". Um senhor dos Azores: