O título acima alinhavado, pedido emprestado ao Maradona, confirma a perplexidade de quem se sente incompreendido. Como todos sabem, a marcha é um desporto talhado para as elites que se estão da morte libertando. Porém, enquanto aquelas se preparam, um bando de ociosos ruralizados usurpa o lugar do desafio reflectindo a face dessa manada indisciplinada de situacionistas que dá pelo nome de Portugal. Infelizmente, essa entidade mística - os portugueses - revelou, uma vez mais, a crónica falta de ambição. Não ambicionaram um projecto de urbanização ou um concurso para hotel de cinco estrelas. Daí que a sua corrida se tenha traduzido apenas nuns míseros em 8º e 11º lugares, marcas atribuídas a Ana Cabecinha e António Pereira, respectivamente. O facto de terem sido batidos os dois melhores tempos (masculino e feminino) da pátria em nada invalida a manifesta preguiça destes dois marchadores, apoiados por poderosos clusters desportivos que se disfarçam com o nome de Clube Oriental de Pechão e Juventude Operária do Monte Abraão, outra vez respectivamente. Só quem não conhece o panorama desportivo internacional, e as carências que vão por essa Europa fora, pode recusar a responsabilidade dourada que caía sobre os dois atletas destes dois poderosos clubes. Monte Abraão e Pechão (que, apenas por acaso, 99,9999% de portugueses não fazem a mais pequena ideia de uma hipotética localização - os outros 0,1111% são os habitantes de Pechão).
Já para não falar de Augusto Cardoso, pintor de gruas - uma das mais modernas técnicas de treino para marcha, desenvolvida em diversas Universidades Norte-americanas. Segundo apontam vários estudos, o movimento (8 horas diárias) constante, associado à inalação de tintas tóxicas permite uma elasticidade cardio-vascular verdadeiramente demolidora. Assim, o resultado obtido foi para todos uma surpresa e uma desilusão. Sugerimos nós, aproveitando as esclarecidas conclusões de Júdice, «a pouca ambição, no fundo com muito receio de falhar, sem o espírito de sacrifício necessário», a pouca disposição de «continuar a trabalhar, achando que o sucesso não compensa, sempre insatisfeitos com o que lhes foi dado porque achariam seguramente que muito mais lhes era devido» A crónica falta de ambição conduziu o altleta a terminar a prova em 40º. Segundo o Público, «o atleta dormiu pouco na véspera, teve febre, vomitou antes da prova, mas fez questão de concluir a competição». Segundo Júdice, no já citado artigo do Público, uma das características nacionais é a desistência perante a constatação da impossibilidade de vencer. Com efeito. Donde a revelação inevitável: Augusto Cardoso afinal não é natural do Porto mas sim de Upsala na Suécia. O atleta deixou ainda os agradecimentos à sua empresa que, pagando dois meses do ordenado devido em troca da pintura de gruas, permitiu a comparência em Pequim.
Perante o exemplo de trabalho, sucesso, rigor, excelência, exigência, demonstrado por briosos democratas liberais e individualistas (no bom sentido da palavra, claro) como José Miguel Júdice, é verdadeiramente um opóbrio, uma vergonha, um triste fado em lá menor, uma caractestística camoneana, um canto queirosenano, esta saga dos atletas olímpicos, incapazes de apreenderem o brio do risco, do sacrífico, do esforço, do desafio, emanado constantemente pelos líderes da República. Perdoa-nos ó Júdice. Que o manto da cinza e do esquecimento caia sobre os nossos ombros indignos pois nós não somos dignos de pisar o mesmo solo que os teus bem-aventurados,velozes e sapientes pés.
Para que não restem dúvidas sobre a riqueza inesgotável dos texto de Júdice aqui fica uma poderosa corroboração da falta de ambição e espírito de sacrifício dos nossos atletas.
21/08/2008 13:31 (LUSA)
Temas: Desporto, Atletismo, Jogos Olímpicos de Verão
** Rui Barbosa Batista, Agência Lusa **
Pequim, 21 Ago (Lusa) – Augusto Cardoso é certamente o primeiro pintor de gruas mundial a competir nos Jogos Olímpicos, surgindo em Pequim2008 determinado a bater o recorde nacional dos 50 quilómetros marcha.
As 3:52.17 horas de João Vieira já estiveram mais longe: Augusto Cardoso só por uma vez baixou das quatro horas (3:55.14), mas a verdade é que no último ano melhorou o seu recorde em mais de oito minutos.
Aos 37 anos, o atleta do FC Porto cumpre, finalmente, o sonho de participar no maior evento de desporto mundial, depois de falhar as tentativas para Sydney2000 (lesionado) e Atenas2004.
Para abandonar a alta competição internacional em grande, o atleta portuense multiplicou-se em sacrifícios, treinando antes e depois do trabalho, restando poucas horas para o descanso e família.
Durante a preparação, acordou com o patrão entrar um pouco mais tarde e aproveitava para chegar ao trabalho já com o aquecimento feito de 10 quilómetros a marchar. Ao fim do dia, voltava a puxar pelo corpo para estar em pleno em Agosto.
“Tenho de agradecer à minha empresa porque sempre me apoiou e até pagou os estágios, ao contrário da federação que nunca me pagou qualquer estágio”, frisou Augusto Cardoso
Um entre oito irmãos, Augusto Cardoso cedo foi obrigado a trabalhar. Começou como trolha, mas depois surgiu a oportunidade e passou a ser pintor de gruas.
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