Se eu tivesse que escolher entre os nomes 'amor', 'ternura', 'honra', 'direito natural', 'fé', e 'Deus' escolheria antes a coisa sem nome que é uma forma de dizer que o homem cria palavras como 'lógica', 'história' e 'dever' para designar funções recreativas de vária espécie, três nomes justificativos, diga-se de passagem, bem mais indicados para colar na camisola de Deus. Com efeito, Deus é o meu número 10 preferido. Varre todo o campo de jogo, da esquerda à direita. Transporta bem a bola, simula faltas, ganha penalidades, marca cantos e ainda consegue inspirar uma crónica apocalíptico-redentoro-espiritual a um especialista em pragmatismo detentor da opinião de que os malandros da Bela Vista são o fruto da política paternalista de subsídios estatais a famílias onde há uma tendência natural para gerar preguiçosos delinquentes. Se esta prosa lacrimejante não fosse digna de uma rotunda gargalhada seria digna de um daqueles postais de natal confeccionados por crianças pobres de países de terceiro mundo, vendidos em dias de frio, nas baixas de opulentas cidades do mundo ocidental, repletas de lojas da Cartier que vendem relógios pelo valor de 100 milhões de refeições a crianças à beira da subnutrição, valor que pode ser trocado por 30 milhões de vacinas salvíficas para crianças a contas com uma qualquer doença terminal do ponto de vista geográfico. Apenas um 'dever' situado acima da lógica e da história me faria quebrar a promessa de não voltar a referir Henrique Raposo. É o dever de o mandar ir pastar macacos a uma qualquer biblioteca que conte entre as suas prateleiras uma Introdução aos fundamentos da Biologia.
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