terça-feira, 16 de junho de 2009

O maradona continua a citar o London Review of Books mesmo que os livros citados não valham um perdigoto do Júlio Isidro enquanto divulgador cultural

Neste preciso momento, inspirado por uma impressão que Vital Moreira jamais digitaria, mesmo em twiter style, digo-vos que circulo - de cu tremido - no lugar do morto de um reboque, e assiste-me o direito de uma descrição rigorosamente precisa, enquanto o meu carro, um clio branco de 1991, faz provavelmente a sua última viagem: o condutor é um especialista, análise rapidamente confirmada pela forma com que maneja a máquina e o automóvel, o braço direito no volante, tenso, onde se erguem as asas de um dragão tatuado, ao ritmo da força descarregada no peso morto do automóvel; a mão esquerda manipulando o botão automático do comando de tração, com especial destreza, a severidade rápida de um peixe invertendo a direcção no aquário, ao detectar o mínimo obstáculo, tudo isto enquanto desce sobre a tarde uma cortina de fogo. Que há de mais poético do que um carro sendo descido em cabo de aço, eixos partidos, a caminho do esmagamento ecológico que lhe está prometido desde a eternidade? Este traço da vida quotidiana mereceria algumas considerações, com especial referência à obra Market Theory and Price System, obra publicada em 1963 por dois distintos professores da New York University que desenvolveram considerações sobre a meritocracia promovida pelos mercados, sublinhando a eficiência dos serviços de reboques de automóveis inutilizados, especialmente no dealbar da Primavera, quando parte a andorinha a caminho de terras mais amenas e os seus ninhos são abandonados, primeiro aos ventos quentes de Agosto e, mais tarde, ao frio laminar que traz o Outono nos seus braços cépticos, cansados, coroados por uma tonalidade sépia. Uma vez que não sou o Paulo Rangel, não me aventurarei a forjar conceitos sobre qualquer tipo de claustrofobia - mesmo aquela produzida pela vitória de juristas manhosos a soldo de interesses comerciais e tecnocráticos bem específicos - e sigo, de olhos postos no caminho, observando através do vidro frontal do reboque, a ininterrupta frequência com que os traços descontínuos são engolidos pelo movimento dos automóveis. Recordo, como mera impressão ocasional, que as notícias da tarde sinalizam o há muito anunciado fim daquele cadáver adiado que ainda ia procriando chamado Quinta de Belgais. A Câmara não suporta dívidas nem oferece garantias bancárias a empresas ou associações. De súbito interroguei-me se isto não estará relacionado com os princípios da viabilidade económica dos projectos - os 93 milhões de euros pagos pelo Real Madrid a coberto de um vasta operação de franchising assente sobre estudos de mercado que vão até à performance económica dos miúdos na Albânia que é uma espécie de Castelo Branco da Europa. Mas logo me lembrei que não. Não existe qualquer relação e há até uma ligeira repulsão entre Quintas que distem mais de 13 km de uma estrada de alcatrão e o comportamento da gestão das marcas no contexto das experiências dos consumidores. Como li recentemente numa tese de mestrado para obtenção do grau de mestre em gestão de empresas é fundamental ter em linha de conta as restruturações estratégicas das empresas tendo em conta a importância do valor da marca, e discutir, com base no princípio da co-criação, os conceitos de marca relacional e de experiência do consumidor com a marca. Como é possível que não me tenha logo atravessado o espírito esta clara consciência da gestão integrada dos recursos! «Eu sei, tu tens razão, eu realmente.»

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