Descia eu a Avenida dos Bons Amigos no Cacém, congeminando estranhas articulações entre a naturalidade e distinção dos campanários de Combray – imagem fetiche das incursões de Proust no tempo perdido – e a final da Taça dos Campeões Europeus perdida pelo Benfica em 1988 – após penalty desastrosamente cobrado por António Veloso – fetiche das minhas próprias incursões no tempo passado – quando me surpreendi com a seguinte questão: o que será necessário para dirigir um jornal como o 24 horas? É que, poucos segundos antes, tinha deslizado o olhar por estas palavras de Pedro Tadeu, director do 24 horas: «Estou convencido que Fernanda Serrano cria uma empati especial com muitas pessoas por reverem nela episódios da sua própria vida: o casamento, a morte de familiares, o nascimento dos filhos, a doença, a calúnia, a difamação (...)». Estas cenas da vida comum não abandonavam facilmente a minha cabeça. Assim, perdido entre grinaldas com flor de laranjeira, ataúdes, bouquets de malmequeres, caixões com forro de veludo, cascatas de camarão, e o desfile de várias pessoas criando empatia súbita e especial comigo voltava a lembrar a palavras de Tadeu: «é que ao noticiar os comportamentos quotidianos das pessoas mais influentes de um país – e Serrano, pelo que foi exposto anteriormente, é sem dúvida alguém extremamente influente em Portugal – indicam-se referências civilizacionais, morais e éticas de um povo, como compete a um jornal.». Esmagado pela referência civilizacional exclamei: - É isso mesmo! Ignorância total e rigorosa de qualquer coisa assemelhada à lógica (aristotélica, cartesiana ou da batata).
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