sexta-feira, 19 de junho de 2009

O tejo, as luzes, a maresia, a contratação de Jorge Jesus, inspiram-me um desejo absurdo de sofrer

Ainda sobre intelectuais de café, uma vez que gostei da qualificação da participante bulimunda: é isso mesmo, em Loures, na Amadora, no Cacém, uma ou outra vez em Alhos Vedros, Corroios, Seixal. Snack-bar, talvez seja mais indicado, as mesas marmoreadas recortadas contra o ladrilhado branco ainda cheirando à lavagem matinal, a azáfama dos galões, cafés escaldados, cariocas, abatanados - dá sandes mista - os rótulos gordurosos das bebidas brancas acumulando pó e desbotando ao sol que, tarde feita, já vai baixando quando levanto os olhos da mesa pela primeira vez. Na rua passa um cão malhado, sacudindo as moscas da ferida ocasional - atropelamento inapelável perto de uns freixos secos e delgados - dois brasileiros balançando ao som do pandeiro bombeado nas colunas do café, ritmado com o sangue tropical em pleno sul da Europa, uma adolescente de olhos húmidos teclando, furiosa, uma mensagem e atrás dela, dois polícias de mãos sobre o cinto armado varrendo a rua com um olhar de raiva engatilhada. Sem dúvida, intelectual de snack-bar, de preferência periférico (há pão quente) é mais certeiro, é mais coloquial.

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