Um pouco ocasionalmente encontro no meio do lixo blogosférico, para o qual contribuo religiosamente, cada dia, com a minha quota parte, um pequeno pedaço de treva com luz por dentro. Um texto assinado por Manuela de Freitas onde podemos observar, escondidos pela esquina da avenida, pedaços dos dias de Ruy Belo. Sabemos que o poeta ainda procurou colocar algum juízo no mundo, levando o menino Miguel Sousa Tavares, pela mão, a ver o sol, naqueles tardes paradas de solidão, no imenso estádio da luz, no tempo em que José Cutileiro escrevia artigos sobre os superportugueses do Sport Lisboa e Benfica . Talvez não seja indiferente saber agora, demasiado tarde, é certo, os serões, partilhados com os amigos, «nas noites desmedidas de novembro, das castanhas assadas compradas depois da tourada, onde íamos ver o João, irmão do Rui que era forcado». Manuela de Freitas conta apressadamente as suas impressões. «Um dia, reencontrámo-nos no meio da rua, falámos muito e à despedida perguntou-me “Eu vinha dali ou ia para ali?". Com efeito, caro leitor, quantos portugueses existem, existiram, ou existirão, que sejam capazes de colocar esta pergunta, ao atravessar a rua, desprevenidos, sob o olhar cruel de plátanos oscilando ao vento, perturbados pelo ulular da ambulância que desaparece, na forma de uma curva mais difícil, no final da avenida? Passou, depois, por alguns dos meus serões já diferentes onde, uma noite, leu sem parar a Margem da Alegria, que tinha acabado de escrever.» Na verdade, aproximava-se Agosto. É um mês terrível na cronologia nacional. Que sorte, Portugal, não teres ainda reparado como foi para ti terrível a chegada do Verão.
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