quarta-feira, 17 de junho de 2009

A educação do meu umbigo seguida da educação do meu cérebro para variar um bocadinho

O problema da educação lembra-me uma brincadeira de crianças, numa tarde de Agosto, junto ao mar: escavar buracos na areia a fim de que água, multiplicada em ondas, chegue e permaneça, aprisionada, circular, manipulável, na sua força telúrica, pela mais frágil das criaturas terrestres, num lugar impossível de sustentar. A água terá necessariamente que voltar a percorrer o seu ciclo e o mar apagará na areia todas as nossa veleidades, mesmo aquelas que pretendem formar abrigos para os barcos que regressam fugindo das tempestades. Paulo Guinote, o professor que se transformou em bandeira desfraladada ao vento, escreveu recentemente: «Mas há muito mais no relatório Talis que o ME faz por obscurecer, relevando só um ou outro detalhe. Ainda sobre a formação contínua de professores, repare-se como os professores portugueses (p. 65) são dos que menos apoio recebem para a sua formação. E os dados são de 2007/08. Nem suplemento salarial, nem tempo disponível, nem custos pagos. os professores portugueses são dos que mais pagam a sua formação, usando o seu tempo pessoal e sem qualquer estímulo salarial.» O problema é que Guinote, como muitos outros professores, não perceberam ainda que não alcançarão qualquer benefício da sua dignidade enquanto continuarem a construir um discurso do tipo: os taxistas portugueses, os talhantes portugueses, os empreiteiros portugueses, os mecânicos portugueses, os gestores portugueses, quando, no fundo, existe muito pouco a unir a performance profissional destes subconjuntos. Porque não sugerir questões concretas como, por exemplo, que tipo de formação deve ser financiada pelo Estado, qual a exigência mínima a colocar aos professores para definir novos estímulos salariais, como avaliar os professores estabelecendo, de acordo com a sua experiência, resultados que possam ser observáveis. Mas talvez seja muito mais fácil alimentar um blogue educativo largando ao vento contra-tecnocracia.

3 comentários:

bulimunda disse...

Veja a diferença ente a Finlândia, tão apregoada pelo nosso grande líder e a nossa realidade...
http://bulimunda.wordpress.com/2009/01/18/finland-secondary-maths-the-human-factorpara-ver-e-roer-de-inveja/

paulo g. disse...

Caro Alf, já se deu ao trabalho de usar o campo de pesquisa/busca do meu blogue e assim perceber se já não escrevi sobre aquilo que clama'
É que se o fizesse escusava de ter escrito um posto completamente ao lado.
Aqui "o Guinote" já escreveu sobre isso, já criticou os erros da formação passada e presente e até tem ideias sobre o que se poderia fazer.

Dê-se ao trabalho.
Não atire só sobre o galináceo que está á vista, porque pode assustar os outros.

alf disse...

Um post, ilustre Guinote, nunca é ao lado quando o espera a correcção de quem já criticou erros da formação passa e presente e até tem ideias sobre o que se poderia fazer. Confesso que não fiz a referida pesquisa. Compreenda as minhas razões: estou normalmente imerso na escrita de posts ao lado, desfeito pelas bicadas dos galináceos que, de todo o lado, correm a disputar o milho do galinheiro. De qualquer modo, fica prometido que o vou fazer. Na verdade, parece-me que acusou um pouco o toque, ao jeito de quem tem coutada nestas matérias, uma vez que coloquei questões que julgava pertinentes, mesmo se no fim se considera a contra-tecnocracia como insultuosa. Porque não trocar a publicação de sínteses blogosféricas pela organização de equipas de trabalho que encontrem solução para as ignominiosas injúrias a que são sujeitos, qual mártir cristão nos pelourinho de Roma, os honrados professores. Neste sentido, seria bom ter-me poupado uns minutos e ter deixado aqui o link para as ditas reflexões. Pelo que a questão fica em stand by.