Muito haveria a discutir sobre a mais recente crise económica da história ocidental. Contudo, parafraseando o apresentador da Roda da Sorte, não temos tempo. Entre os historiadores é costume discutir-se o grau de cientificidade da sua disciplina profissional. Entre polémicas considerações há, no entanto, um largo consenso sobre uma matéria que aproveitaria tanto à blogosfera como ao mundo impresso da colunata opinius (acabei de inventar a expressão latina para conferir solenidade a este breve texto): o homem está condenado a não entender o seu próprio discurso - disse uma vez o velho Lourenço a propósito de um livro mal-amado de Foucault que, apesar do banzé, estou certo, ninguém leu. Aliás sobre livros não lidos julgo que As Palavras e as Coisas só é suplantado, se bem que com uma vantagem de envergonhar Lance Armstrong, pelo Capital de Marx. Não nos dispersemos. O homem está condenado a não entender os seus próprios discursos. Vem isto a propósito da sensação de vómito (belo efeito estilístico) que já não consigo disfarçar cada vez que se utilizam as expressões “mercado”, “Estado”, “público”, “privado”, “regulação”. Não deveria ser evidente - pelo menos para a população que não frequenta concertos do André Sardet, parafraseando Maradona, ou, se quisermos, concertos da Ana Free - que estes vocábulos possuem o mesmo rigor analítico de uma moca de Rio Maior com que se pretende atingir o interlucutor?
Consideremos a expressão “Estado”. Alguém, verdadeiramente, acredita que isto corresponda a qualquer coisa de efectivo e identificável como actor social? Porque não falar de gestores de empresas, fornecedores industriais, líderes de partidos, direcções gerais, ministros, direcções de informação das televisões, presidentes de associações sindicais, presidentes de associações comerciais? Talvez com estas expressões se explique alguma coisa.
Meu caro leitor: entre muitas perplexidades há uma que me angustia particularmente. Como casar ideias liberais e apologias do indivíduo com estas colectividades nebulosas (como o mercado) que dizem ser a base da nossa liberdade política?
E se os individualistas liberais começassem, finalmente, a falar do indivíduo e dos seus interesses particulares como coisa normal que, não sendo diabólica, deve ser clara e transparente. Talvez nesse dia se compreendessem muitas das contraditórias ideias sobre o mercado.
Devo dizer, de resto, que mercados só conheço o do Bulhão e o da Ribeira uma vez que, hoje em dia, compro tudo no Continente. Fui claro?
Consideremos a expressão “Estado”. Alguém, verdadeiramente, acredita que isto corresponda a qualquer coisa de efectivo e identificável como actor social? Porque não falar de gestores de empresas, fornecedores industriais, líderes de partidos, direcções gerais, ministros, direcções de informação das televisões, presidentes de associações sindicais, presidentes de associações comerciais? Talvez com estas expressões se explique alguma coisa.
Meu caro leitor: entre muitas perplexidades há uma que me angustia particularmente. Como casar ideias liberais e apologias do indivíduo com estas colectividades nebulosas (como o mercado) que dizem ser a base da nossa liberdade política?
E se os individualistas liberais começassem, finalmente, a falar do indivíduo e dos seus interesses particulares como coisa normal que, não sendo diabólica, deve ser clara e transparente. Talvez nesse dia se compreendessem muitas das contraditórias ideias sobre o mercado.
Devo dizer, de resto, que mercados só conheço o do Bulhão e o da Ribeira uma vez que, hoje em dia, compro tudo no Continente. Fui claro?
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