"Mas e se toda a informação que nós produzimos (e senhores, vós produzis
diariamente e em quantidade) fosse propriedade nossa? E portanto,
comercializada por nós os donos, como outro qualquer bem e serviço? "
Tomemos o exemplo do Facebook, que ano passado chegou uma capitalização bolsista de 100 mil milhões de doláres e menos de 6 mil empregados. Fazendo uma análise muito grosseira, ou os quase 6 mil "code monkeys" que trabalham no Facebook geram valor acrescentado de forma extraordinária ou a informação que os utilizadores lá põem vale bom dinheiro. E por informação entenda-se cusquices, fotos documentando o nosso lado bestial, os "textos" do Gonçalo Waddington e os comunicados de Aníbal Cavaco, presidente.
Parafraseando a pergunta original, e se o Facebook fosse como uma espécie de banco informático, onde os utilizadores colocam informação a render juros?
Isto pode parecer estranho, mas o modelo de negócio do Facebook é exactamente vender o conteúdo dos utilizadores a terceiros. Os termos de serviço do Facebook dizem que os utilizadores são os donos do que lá colocarem mas que o Facebook pode usar a informação sem pagar um chavo. O que estou a propor é que os utilizadores recebessem uma percentagem do lucro que o Facebook faz a vender os seus conteúdos.
Num mundo assim, o uso do Facebook não seria gratuito. Ou seria apenas para os utilizadores que cumprissem com um mínimo de posts e fotos mensais. Também é possível que o Facebook discriminasse por utilizador, cobrando mais pelo acesso aos utilizadores mais populares. Por exemplo, a leitura dos "textos" do Waddington seria paga assim que atingisse os mil "likes". Se isso seria bom ou mau, são outras conversas.
Claro que agora não existe razão nenhuma para que isto venha a suceder. O Mark Zukenberg enche-se de nota, o povo vai cuscando e o Waddington mostrando que o cérebro é acessório. Toda a gente contente, portanto. Mas só por agora.
Voltemos ao início, e vejamos que menos de 6 mil macacos fazem funcionar uma empresa cotada em 100 mil milhões. Mesmo que cada um destes consiga suportar dez pessoas (família directa, café da esquina, etc) o que vão fazer os restantes 300 e tal milhões de pessoas nos USA? Ou dito de outra forma, como é que eles vão ter dinheiro para comprar o que os anunciantes no Facebook lhes querem vender ?
O argumento do Jaron Lanier é que o sistema actual não é sustentável, exactamente porque o valor da informação que os utilizadores colocam no Facebook não é contabilizado e lhe permite ter a capitalização em bolsa que tem pois parece criar valor magicamente. Mas não existe nada de mágico nisto, apenas os operários que não são pagos pelo trabalho deles.
Pode-se argumentar que é possível a um indivíduo fazer lucro com o Facebook, vendendo apps ou criando uma reputação que depois utiliza para vender livros/sabonetes/cd's/productos bancários.
Sim, mas o Facebook tem o poder de cancelar as contas de quem bem lhe apetecer e quando bem lhe apetecer. E só há espaço para meia-dúzia de estrelas, sendo o resto obra de graça. Em futebolês, só há espaço para meia-dúzia de Ronaldos o resto são Luís Filipes.
5 comentários:
o produto do facebook são as pessoas ou, se quisermos, aquilo que elas pensão que são ou demonstram ser, tanto faz.
tomando isto de barato, que é o facebook que nos utiliza ou utiliza o que nos achamos que somos, e não o contrário, a pergunta que se impõe é a seguinte: (isto cerca de 10 minutos antes do benfica-marítimo, jogo onde o cepo chamado feja jogará no lugar que devia pertencer a um competente e trabalhador ruben amorim; depois do jogo pode muito bem ser outra pergunta)
pode o produto revoltar-se contra que o... vamos chamar-lhe distribuidor? (estava a pensar chamar-lhe produtor, mas pensando bem, nós ainda somos os produtores de nós próprios, ou não?
eu acho que não. ou melhor, eu acho que sim. mas escolhido o caminho, a revolta dará origem apenas a uma mudança de jugo e não um salutar abandono. isto não é bem escravatura, o facebook não é nosso dono. a coisa agora, no pré-admiravel novo mundo em que vivemos, atingiu um nível de sofisticação elevado. o facebook até nos faz umas festinhas, de vez em quando. já não há chicotes.
vamos lá então ver o jogo.
"pensam que são"
pensão é outra coisa.
só para confirmar que sou uma espécie de cortez do comentarismo blogosférico.
ngonçalves, não fales muito alto que eu pretendo enriquecer a partir do problema que tu aqui levantas, como já deves ter reparado pela minha obra sistemática em torno das limitações do mercado editorail convencional. A questão é que tens que montar um "facebook" especificamente pensado para isso. Se reparares, estás a falar no fundo de um sistema de comercialização de informação cujo poder económico se baseia na partilha gratuita dessa informação. Há um jurista americano de Harvard que se tem fartado de escrever sobre isso. Mal introduzes distribuição de valor em comunidades digitais, a lógica de colaboração muda automaticamente, submetida a uma espécie de lei da galinha dos ovos de ouro, ou seja, matas a galinha.
anónimo benfas,
Eu não estou no Facebook, mas nao tenho nada contra o site ou a empresa. Nem estou a argumentar que a malta deixe de o usar. Apenas que o modelo de negócio é danoso para a sociedade a médio e longo prazo.
alf,
Isto tudo são especulações de quem está formatado pelo mundo digital, e o Jaron Lanier analisa o caso extremo de um mundo em que tudo é mediado por software.
Eu ainda tenho esperança que a sociedade consiga evoluir de forma a desenvolver uma classe média que vive confortavelmente suportada por uma economia digital.
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