quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O tempo a passar pela cabeça demasiado confiante das pessoas que deixam à natureza a resolução dos nossos problemas.

Por influência exercida em resultante do contacto com o parvalhão do Pedro Arroja, decidi numerar esta merda.

1.
Passando por cima do que seria uma magistral e avisada exegese das razões que terão levado o maradona a ressuscitar o seu temível ferrão do calculado silêncio em que esteve mergulhado, este post oferece-me a generosa oportunidade para o colocar em sentido (introduzindo o referido maradona numa organização explicativa do real mais profunda e consistente do que normalmente é costume nos seus incomparavelmente bem esculpidos pedaços de prosa) e reconhecendo ao dito maradona, já que estou a passar por Almada, a importância de ser um indivíduo particularmente importante no meu percurso blogosférico, é no entanto justo reconhecer a surpreeendente realidade que consiste no facto de que o mesmo maradona tem beneficiado, mais vezes do que seria tolerável para a vitalidade do nosso frágil e nano-debilitado regime democrático, da manifesta incapacidade, ignorância, rigidez anatómica, falta de sentido das coisas importantes, boçalidade, cobardia, ou se quiserem em termos simples, tem beneficiado da congénita estupidez e fragilidade combativa das elites de um país que se caracteriza pela simpatia das suas gentes, inconcebível inexistência de luta verbal, excesso de costumes amenos, escassez de consumo de livros, mau cheiro e pouca limpeza das ruas, não esquecendo, para atacar de cornos o assunto que aqui nos chama, incomparáveis quantidades, pelos menos segundo os padrões europeus, de "paisagem conservada", o que tendo ditado o arrefecimento económico da comunidade, do ponto de vista dos economistas carecas nascidos depois de 1778, não me parece que tenha posto em causa a dinâmica evolutiva da paisagem portuguesa mesmo que o mesmo fenómeno possa corresponder ao rebentamento de «Portugal» como entidade político-saloia (voilá).
 

2.
Se formos invadidos pela Argélia e a paisagem for conservada em areia e camelos ou se formos anexados pela China e a paisagem convertida numa mega barragem coberta por um novelo de monumentais viadutos, o sentido futurista ou retrógrado do movimento será sempre dado por um julgamento humano (e não evolutivo, que essas merdas serão sempre opacas para o nosso demasiado estreito ponto de vista) e se a maria amélia conseguir convencer todas as pessoa a irem cultivar porcos e galinhas para o planalto transmontado, nada nos poderá garantir que esse não será o equilíbrio pós-apocalíptico a perseguir pelas potências económicas do momento. As pessoas que repousam os seus olhos cansados sobre as páginas dos livros sabem que o cemitério da história, além de treinadores do Sporting, está cheio de civilizações surpreendidas pela cruel morte quando se encaminhavam na sua dinâmica evolutiva, e em potência tecnológica e energética máxima - segundo os seus próprios padrões, note-se - para o céu das civilizações, uma meta aparentemente garantida desde que respeitadas as leis naturais. Acontece que a morte é um facto tão natural como o nascimento, e a capacidade de combater a extinção ou evitar o abrandamento do conteúdo tecnológico (uma idéia em si mesmo ridícula) não passa pelo respeito das leis naturais (seja a seleção da natural, ou o resultadismo de José Mourinho) mas por compreender e instrumentalizar a realidade em função dos nosso objetivos, humanos, que caralho, tão sempre e demasiado humanos.

 
3.
O leitor avisado saberá de antemão que o julgamento civilizacional da paisagem em nada se relaciona com os fundamentos cientificos da biologia ou das ciências naturais, qualquer que seja a posição epistemológica defendida, da mais formalista e baseada na mecânica clássica à mais biológica e baseada nas aproximações aos sistemas complexos, estando a qualificação da função da paisagem, como diria um Byron nos seus momentos de sobriedade sexual, votada aos nossos sempre demasiado humanos objetivos, o que é o mesmo que dizer que não fazemos um caralho de uma ideia sobre para que serve a paisagem em sentido colectivo, e isto sobretudo, de um ponto de vista darwinista, pelo menos se aceitarmos que existe uma dinâmica evolutiva a ditar os contornos da interação entre meio e organismo, o que é em si, e desde logo, como sabem todas as pessoas, incluindo a Fátima Lopes, uma divisão problemática. Diz-nos o maradona do seu sofá que é impossível tentar modelar a paisagem a partir de modelos historicamente estreitos (um conceito demasiado largo para caber na minha gama de ferramentas propulsoras do tempo histórico) e dinamicamente falsos (aqui presumo que se queira aludir a uma simulação de movimento, o que é para mim igualmente opaco do ponto de vista da modelização da paisagem) pois a saudade do passado e o fascismo (uma bóia significante a que recorre todo o homem que se sente perto do afogamento argumentativo) podem induzir o declínio económico, encerrando um potencial de destruição da paisagem pelo facto de esta ser conservada de acordo com regras que a própria evolução não contempla. A inconsistência é de tal ordem que custa acreditar como é que um Pedro Arroja não se sentiu particularmente excitado a ferrar os seus dentes pontiagudos no flanco desprotegido da seguinte frase:


«Não é possivel, porque é um esforço antodestrutivo, tentar modelar o desenvolvimento da paisagem recorrendo a esteoreótipos historicamente estreitos e dinamicamente falsos, que aniquilam a inovação e reduzem o conteúdo tecnológico das sociedades em nome de mitos e saudosismos fascistas (trau), que, se levados longe demais, até podem levar ao declínio económico (ou seja: civilizacional) e, finalmente, à destruição da paisagem como entidade evolutiva (que é o que uma paisagem é, e, portanto, deve ser: uma merda viva em evolução contínua).»


4.
Ora, isto não é mais do que o velho e repisado erro liberal que consiste em entronizar uma qualquer banal tautologia (pode ser a organização de uma fábrica de alfinetes que vende muito) como uma verdade profunda e auto-explicativa (indefesa e pronta a receber o baptismo fecundo da luz pública) cobrindo-a com as vestes da supresa para oferecer ao que existe a força de uma evidência que em si mesmas as coisas jamias possuirão, tornando particularmente poderoso não o critério de julgamente da realidade mas a própria ausência de combate contra o facto das coisas serem o que são. Se a paisagem é uma merda viva e em evolução contínua, todas as decisões sobre a paisagem, sejam estas decisões esforços para erigir uma catedral gótica em cada prado ainda não urbanizado, ou devolver manchas de pinhal ao centro montanhoso de Portugal, serão sempre o sinal de que a dinâmica está em processo e não vejo como a conservação de um pedaço de paisagem (que é sempre um conteúdo tão tecnológico como uma barragem ou uma cidade porque serve o propósito técnico da ação humana) possa gerar menos benefícios económicos do que uma outra qualquer solução. Parece-me, com todo o respeito que nutro pelas pessoas da margem sul que pesam mais de 80 kg, que existe aqui uma tentativa de fazer do pluralismo uma entidade filosófica eficiente em sentido absoluto, garantindo que a libertação das dinâmicas da espécie devem ser opostas ao esforço que algums membros da espécie fazem, ingloriamente, é justo reconhcer, para conservar as qualidades vitais da própria espécie.
 

5.
O que me parece é que de um modo ou de outro, o resultado será sempre a evolução dinâmica da paisagem, com morte, fascismo, catedrais, cenários historicamente estreitos, aeroportos no deserto, reflorestações da faixa atlântica, ou mesmo a proibição da permanência nocturna de belíssimas e peitudas adolescentes alemãs no sudoeste alentejano, e que ceder perante a morte é precisamente confiar na ideia de que a organização dinâmica da relação com o mundo, pelo facto de comportar a inexistência de interferência, ou de interferência mínima (como no caso da redução do pensamento paisagístico aos parques naturais, que são a aplicação do «estado mínimo» à ocupação política do espaço) será sempre a garantia de que tudo correrá pelo melhor, afinal, aqui estão as leis evolutivas da selecção prontas a ditar o que é o homem e o que deve ser a sua relação com as coisas, desde que não façamos muita força. Parece-me inútil dizer que levando esta lógica até às últimas consequências teríamos que ficar calados, pois a evolução político-biológica teria sempre a última palavra em matéria de paisagem, de uma forma ou de outra e quaisquer que fossem as nossas estratégias de ocupação do espaço. De igual modo, não será preciso lembrar que o homem ao revelar uma fotografia muito parcial da sua evolução apenas descodificou os fundamentos das suas origens (fisiológicas, neurológicas e comportamentais) a partir de abstrações inferidas das interações passadas (história natural) o que de modo nenhum nos habilita a dizer, nem sequer ao maradona, que no futuro a dinâmica nos conduzirá à imortalidade como seres evolutivos que somos. Veja-se o caso dos dinossauros, que não tendo o génio político de Mário Soares, já por cá não andam.
 

6.
Em todo o caso, não acho natural nem dinamicamente evolutivo que o maradona utilize tópicos retóricos (cuja análise da magnificiência instrumental deixarei para outra ocasião) e lance mão de conceitos como os de «irracionalidade» ou «justiça económica» sem que um qualquer Pedro Arroja  do alto do seu império de contactos com os jucas, os livros, os valores, a imparcialidade, o João Gonçalves, e todas as forças do bem em geral, não se sinta obrigado a desafiar o homem para uma fundamentação mais esclarecida destes operadores lógicos que estão tão gastos para a cultura democrática como a coragem de César estava para os senadores que decidiram esburacar-lhe o corpo com os seus punhais aguçados. É que não querendo chamar a Isabel Jonet para nos proibir a lavagem dos dentes com água corrente (uma prática de que me orgulho perante a minha mãe, e agora perante a minha mulher, pelo menos desde os 9 anos de idade) e agremiar um conjunto de pessoas valorosas em torno da salvação da democracia, o próprio maradona convirá que a sua defesa do regime democrático, com base neste tipo de argumentos, embora seja perfeitamente suficiente contra os ignorantes, maluquinhos e incomparavelmente burros do 5 dias, precisa de se articular melhor com a gigante incongruência das teorias da eficiência,  ou as fissuras do frágil sistema democrático tornarão a sua defesa cada vez mais difícel de sustentar perante a vitalidade lógica e o conhecimento monstruoso, e multifacetado, de terroristas versados em livros como eu. Que o maradona diga que o desaparecimento físico de algo não deve ser encarado como uma negação civilizacional é um facto injustamente negligenciado pela imprensa portuguesa pelo que revela de desorientação e perigosa aproximação ao tipo de argumentos malucos dos comunistas.
 

7.
O que justamente pariu o respeito eficiente pelos conteúdos tecnológicos, a investigação sobre a selecção dos homens e dos animais, o gosto sagrado pela dinâmica evolutiva das coisas, incluindo a nossa bela e economicamente atrasada paisagem, foi justamente a vontade de participarmos desses prazeres, pelo que não contem comigo para salvar a posição ideológica de respeito pela economia, o desenvolvimento tecnológico e o caralho, além do estafado tópico das coisas serem aquilo que são, uma vez que tudo o que eventualmente conduzir ao meu desaparecimento, ou ao desaparecimento das coisas que aprecio (e este é o ponto chave) não pode deixar de ser um fenómeno por mim violentamente combatido, vá ou não a evolução neste sentido, uma coisa que em todo o caso, nunca ninguém poderá saber a priori. Permitirão que deixe as promessa do amanhã que canta aos comunistas, aos católicos e a todos os malucos em geral. Quando à dinâmica da paisagem, cabe aos defensores da transformação defenderem democraticamente os seus benefícios colectivos e de preferência com argumentos políticos, não com ciência de bolso. Enquanto tal não sucede, até amanhã camaradas, uma vez que agora vou ver a inestimável Joana Carneiro naquele edifício manhoso nos falsos jardins da Gulbenkian.


 
A idéia de que a natureza nos ensina a reconhecer os nosso inimigos é uma falácia ainda mais antiga do que o génio de Shakespeare, para não falar do countryside inglês, e como é evidente, baseia-se num princípio filosófico sobre o «natural» que carece totalmente de demonstração. Deixo para deleite dos queridos leitores a bela e polémica fotografia de duas mulheres do exército norte-americano durante a amamentação dos seus amados filhos.

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