quarta-feira, 25 de maio de 2011

Rana Farhan ou como eu ontem fui agradavelmente surpreendido

pelo filme "Os Gatos Persas", sobre uma banda que tenta fazer pela vida no Irão. Sob o pretexto de encontrar mais elementos para a banda, vamos conhecendo a música rock/pop/blues/heavy metal iraniana. Não é um documentário, mas retrata um aspecto da vida no Irão. Não é um musical, mas qualquer pretexto é bom para passar uma musiquinha. É um bom filme, que faz mais pela revolta verde que imagens de feridos e mortos na televisão. Afinal, a música é uma linguagem universal. Fiquem-se com a Rana Farhan.



Se alguém me souber indicar quem são os moços que aparecem antes da Rana no filme, ficava-lhe eternamente grato. Os iranianos que me acompanharam ao cinema não me souberam dizer.

domingo, 15 de maio de 2011

Bendita seja a Nossa Senhora das Autorizações Escritas

Para conseguir acabar o doutoramento, tenho andado nestas últimas semanas a passear um robot pelo campus doTécnico. Regra geral, sempre por volta das 17h em dias de semana, que é quando se verifica um considerável volume de tráfico automóvel derivado ao zelo dos funcionários em sair a tempo e horas do local de trabalho. Para além dos olhares tipo "olha pó crómo c'ali vai", nunca ninguém me incomodou durante os passeios.

Hoje, no justo e exacto dia em que não havia em todo o campus mais de 5 carros, vem ter comigo um dos seguranças (os antigos Mikes) de carro para me explicar que, passo a citar, "sem autorização escrita do professor responsável você não pode andar com o robot pelo Técnico." Porque, e volto a citar, "pode desaparecer com o equipamento e depois é uma chatice." Claro está que o senhor foi simpático comigo já que, novamente cito, "eu até conheço o senhor, sei que não há problema".

Este tipo de coisas é típico do Técnico, e aventuro-me, de provavelmente o resto do país. Porque haveria um funcionário fazer uso do seu bom senso ou puxar pelas meninges quando basta uma prece à Nossa Senhora das Autorizações Escritas para lhe resolver os enigmas insofismáveis que todos os dias lhe aparecem no local de trabalho. O senhor deseja defecar na porta de entrada enquanto canta o malhão e bate palmas ? Tem autorização escrita ? Pois então, ó meu amigo esteja à vontade.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Com exemplos não se provam argumentos

Em Portugal, que instituições têm sido dirigidas pela mesma pessoa (e não um partido ou um clã) durante dez ou mais anos ?

De memória, o Pinto da Costa no FCP, o Alberto João na Madeira, o Gilberto Madaíl na FPF, o Francisco Louça no BE, o Portas no PP. E dois exemplos que conheço melhor, o Mariano Gago no MCTES e o Narciso Mota na Câmara Municipal de Pombal.

Primeira nota. Não estou a querer louvar nenhuma destas pessoas ou sequer indentificá-las como líderes magníficos e gestores brilhantes. São apenas exemplos de gente que ocupa o mesmo cargo há já bastante tempo, por comparação com outros em instituições semelhantes.

Segunda nota. Não estou a pretender argumentar que estas instiuições servem como exemplos modelo de funcionamento e gestão. Se assim fosse, o problema do FMI resolvia-se com chocolates e fruta antes cada ronda negocial.

Então aonde é que quero chegar ? Que do ponto de vista dos interesses mesquinhos e egoístas das instituições, manter o mesmo chefe (é disto que estamos a falar) durante largos anos é extremamente benéfico. O BE, por exemplo, há 12 anos atrás era um conglomerado de gente sem qualquer expressão eleitoral. Hoje tem 3 deputados europeus, 16 nacionais e é grande o suficiente para meter medo ao PCP e ao PS. Nos restantes exemplos, os resultados falam por si.

E mais importante que os benefícios qualitativos que o chefe de longa duração possa trazer (que ao fim e ao cabo serão sempre subjectivos), é o estabelecimento de uma forma de trabalho e de uma ideia de instituição. Contra as quais é possível construir uma oposição, fazer uma revolta, identificar alternativas. E este é o aspecto fundamental. Se for tudo a mesma merda (vide PS, PSD, PP e BE) acabamos neste marasmo de onde não se vislumbra saída. Exceptuando o BE que ainda não provou o doce sabor da governação, os três restantes partidos não oferecem alternativa. Pior, os partidos mais pequenos não se conseguem fazer ouvir nem representar numa época em (supostamente) os média são livres.

Aqui chegados, convêm ter presente que uma coisa é gerir uma agremiação de interesses, outra é gerir um país. Longe de mim querer um Alberto João ou um Pinto da Costa a presidir em Belém aos destinos do país. É portanto necessário encontrar uma forma para escolher o chefe de longa duração de tal forma que a coisa não produza ditaduras tal como a que tivemos no passado recente. Talvez um colégio eleitoral ? Sinceramente ainda não sei.

A meu ver, o principal problema desta forma de organização governativa sofre do problema da personalização. A Madeira e o FCP são casos paradigmáticos. No dia em que ou o Pinto da Costa for forçado a sair (provavelmente pela morte),  o que vai ser do FCP ? Que eu saiba não se conhece dissidência ao homem, para além de alguns arrufos por causa de dinheiros de transferências. É portanto vital que o chefe de longa duração não seque o país, tal como fez o Salazar.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Somos um país lusco-fusco

Uma possível resposta à pergunta aqui deixada. Não é original, já O Miguel Esteves Cardoso tinha dito falado na permanente insatisfação que nos caracteriza. E o Pedro Arroja fala constantemente em Portugal como uma figura feminina.

Nunca estamos contentes com nada, existe sempre algo no país que deve ser mudado e melhorado, porque na Alemanha é assim, na Islândia é assado e em Inglaterra cozido. E não se admite que no século XXI, em plena Europa, ainda ... (inserir situação escandalosa e terminar com um sonoro "por isso é que este país nao avança"), etc...

E o resultado é uma multiplicação de esforços, uma divisão de recursos que raramente produz efeito. E lá caímos outra vez na insatisfação. Por isso é que é tão difícil governar este rectângulo de terra. Não se pode ceder a todas as exigências, a maior parte terá que ser ignorada.

A tradição da nossa democracia dita exactamente o contrário. O povo reclama, o povo tem. E com povo quero dizer qualquer agremiação com ligação directa aos média ou ao palácio de São Bento. E actualmente, não existem distinções entre os dois. Existem excepções, como Canas de Senhorim, mas convenhamos que são excepções.

Estou convicto que a democracia, à lá mundo civilizado, não se aplica a Portugal. Anteontem mesmo, o primeiro-ministro anunciava com alegria a suspensão da democracia por cinco anos. E o evento cívico de 5 de Junho tem como único propósito escolher o Miguel de Vasconcelos para os próximos cinco anos.

Note-se, não estou contra o que na generalidade, a troika nos impõe. Apenas que a decisão sobre o caminho a percorrer tem de ser feita de livre vontade. Daqui a cinco anos, anuncia-se o fim da crise (tal como o primeiro-ministro fez periodicamente no passado) e lá vamos nós outra vez ceder a tudo quanto é exigência, necessidade e ou opção estratégica para o país. Portanto, estou convencido que a democracia não é viavél em Portugal.

Voltar para trás também não, para trás mija a burra. Um regime com uma polícia política e personalizado num líder carismático funciona bem apenas enquanto o líder tiver forças para continuar. E sufoca de tal forma a vida intelectual do país, que no dia em que o poder cair nas rua existem apenas ideias enviesadas e tóxicas para o substituir. Ainda hoje considero um milagre Portugal não ter virado comuna em 74.

Uma monarquia também me parece impensável nestes tempos. Que eu saiba, nenhuma dinastia subiu ao trono em Portugal sem antes limpar o sebo à concorrência. A única coisa que os bigodes de Cascais matam é perdiz e lebre, e apenas ao fim-de-semana em espaços próprios para o efeito. Tudo demasiado conforme as regras, mentalidade imprópria para revoluções.

Então fazemos o quê ? Uma possível solução é eleger, periodicamente, um tirano. Eu sei, parece absurdo, mas primeiro estranha-se e depois entranha-se. Escolher uma pessoa, a cada dez ou vinte anos, entregar-lhe as chaves da cidade e deixá-lo fazer o que bem entender. A principal vantagem que vejo nesta solução é moral. Seja quem for que controle a cidade, faça-o da forma que fizer, o povo tem sempre uma figura contra quem a revolta é moralmente legítma. Tem um ponto em que centrar as suas fúrias e as suas bajulações. Evita-se a dispersão de recursos e de vontades. E como todos sabemos, o povo unido jamais será vencido.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Porquê ?

Basta passar os olhos pelo que se passa para lá fora para perceber que, mutatis mutandis, temos políticos, média e economia na tão maus quanto o resto do mundo. Assim sendo, porque é que nós estamos constantemente a chover no molhado, com uma visita do FMI a cada década, e o resto do mundo parece aguentar-se alegremente ? O que é que nós estamos a fazer de errado ?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Do fundamentalismo

Entretanto acordei hoje a saber que mataram o bin Laden. Ao ver as reacções ao longo do dia e especialmente os festejos, não posso deixar de pensar que não andam longe dos mesmos fundamentalistas que pretendem dar caça. Ou como no que melhor li sobre este assunto: "Festejar a morte de Bin Laden como se de uma vitória no Super Bowl se tratasse perpetua o Carnaval do ódio trivializando a vingança enquanto hipótese de justiça."

De regresso

Após uma pausa de alguns dias. Consegui um facto histórico de iniciar a leitura de um livro e acaba-la. Enganam-se se pensaram que era o programa eleitoral do ps. De facto fiz um exercício de me afastar do email e dos blogues por mais de uma semana. E o mais surpreendente para mim: não me fizeram falta nenhuma. O campo tem destas coisas. Roçar mato ou ficar simplesmente à espera que o chapim pouse.

Tenho escutado e lido com cada coisa que até me arrepio

A semana passada era tópico recorrente a comparação Portugal hoje com o país no tempo do Salazar. Penso que todos nós entendemos os saudosismo do passado, frequentemente idealizado nos bons velhos tempos. Por isso que exista quem suspire pelo Salazar, eu entendo. E em certa medida compreendo, pois havia muito menos incerteza já que o poder estava concentrado nas mãos de apenas um homem advesso a aventuras. Se alguém quer realmente voltar a estes tempos, não sei. Eu já antes aqui o disse, a ditadura é em certo sentido romântica pois encoraja actos de transgressão social que não podem ser tolerados em liberdade. Talvez seja isso de que muitos sentem falta.

Depois dizem-me que antigamente não havia déficit porque não havia infraestructuras nem apoio social. Para começar, a afirmação é falsa e serve de base ao mito muito comum de que até ao dia 24 de Abril de 1974 todo o país vivia em cabanas feitas de estrume, caminhava descalço e nú por terrenos ermos. Segundo, ignora-se a conclusão óbvia de que se nos endividámos para ter este bem-estar social, então ele não vai durar muito mais. É muito bonito termos hospitais quasi-gratuitos, mas esquecemos-nos que são quasi-gratuitos porque pedimos emprestado para os pagar.

E depois o Pacheco Pereira publica isto. Eu não entendo como é que alguém com a cultura do Pacheco Pereira não percebe que em democracia não se pode insultar o adversário, e que dê por onde der, o discurso tem que ser sempre cordial e pacificador. Não me confundam, não temos que ser mosquinhas mortas e concordar com tudo e todos. Mas não podemos ser agressivos, birrentos e trauliteiros. Este tipo de comportamento é o Rubicão da democracia. Depois de cruzado, já não se volta atrás. Não dá votos ? Azar para a democracia e o país.