segunda-feira, 2 de maio de 2011

Tenho escutado e lido com cada coisa que até me arrepio

A semana passada era tópico recorrente a comparação Portugal hoje com o país no tempo do Salazar. Penso que todos nós entendemos os saudosismo do passado, frequentemente idealizado nos bons velhos tempos. Por isso que exista quem suspire pelo Salazar, eu entendo. E em certa medida compreendo, pois havia muito menos incerteza já que o poder estava concentrado nas mãos de apenas um homem advesso a aventuras. Se alguém quer realmente voltar a estes tempos, não sei. Eu já antes aqui o disse, a ditadura é em certo sentido romântica pois encoraja actos de transgressão social que não podem ser tolerados em liberdade. Talvez seja isso de que muitos sentem falta.

Depois dizem-me que antigamente não havia déficit porque não havia infraestructuras nem apoio social. Para começar, a afirmação é falsa e serve de base ao mito muito comum de que até ao dia 24 de Abril de 1974 todo o país vivia em cabanas feitas de estrume, caminhava descalço e nú por terrenos ermos. Segundo, ignora-se a conclusão óbvia de que se nos endividámos para ter este bem-estar social, então ele não vai durar muito mais. É muito bonito termos hospitais quasi-gratuitos, mas esquecemos-nos que são quasi-gratuitos porque pedimos emprestado para os pagar.

E depois o Pacheco Pereira publica isto. Eu não entendo como é que alguém com a cultura do Pacheco Pereira não percebe que em democracia não se pode insultar o adversário, e que dê por onde der, o discurso tem que ser sempre cordial e pacificador. Não me confundam, não temos que ser mosquinhas mortas e concordar com tudo e todos. Mas não podemos ser agressivos, birrentos e trauliteiros. Este tipo de comportamento é o Rubicão da democracia. Depois de cruzado, já não se volta atrás. Não dá votos ? Azar para a democracia e o país.

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