William Blake, Michael binding Satan, c. 1805
Se uma pessoa diz que o capitalismo contemporâneo não pode ser compreendido sem uma adequada historiografia do romantismo inglês, quem sou eu para duvidar? Além do mais, há muito que desenvolvo suspeitas sobre o estado comatoso-enamorado de economistas como Nogueira Leite ou Vítor Bento, dois cientistas apaixonados pela sua própria voz. No que me toca (e olhem que me tocam muitas coisas) nunca alimentei especial interesse pela minha própria voz e vomito pelo menos três vezes a cada dez páginas no decorrer de uma revisão de texto. De qualquer forma, esta semana prometo fazer a travessia Cacilhas-Cais do Sodré recortado contra um céu cinza, ondas de veludo azul, segurando entre as mãos um dos meus magníficos hardcovers produzidos no país onde Blake desenvolveu a sua arte de enlouquecer com estilo, e juro consumir a próxima semana em projectos individuais de transformação do meu espírito, uma substância pela qual nunca nutri grande simpatia, não obstante todas as tentativas denodadas da reprodução social para fazer de mim uma pessoa e tudo. Não se preocupem, uma vez que, nestes dias que são os últimos, continuo a acreditar no poder transformador da chamuça, da imperial, e do correio internacional, tudo isto na mesma e exacta semana em que postarei a primeira recensão portuguesa a um livro de uma Professora da Universidade de Chicago em que se explica porque razão Portugal falhou a construção de uma sociedade socialista, a vitória no Festival Eurovisão da Canção, o pleno emprego, e a extradição de Rosa Casaco, tudo isto sem esquecer que o Luciano Amaral é uma pessoa que compara a situação actual a um incêndio (no meio do qual devemos procurar salvar alguma coisa, deixando arder o resto) algo que nunca mais tinha sucedido desde que Sá de Miranda pensou que tudo ardia só pelo facto de se ter apaixonado, um fenómeno psico-social que Lobo Antunes respigou para descrever a vida interior de um travesti sem particular sucesso, enfim, dois exemplos que seriam fundamentais para compreender a vida, se a Agência Ficht não tivesse já atingido por nós todos o Nirvana da precisão por meio de uma pirueta à rectaguarda com mortal encarpado. Como não podia deixar de ser, as retrospecções são como as maçãs do Fundão, normalmente têm bicho.
4 comentários:
xenófobo as maçãs do fundão
A Coca-Cola não faz mal nenhum :)
Aguardo serenamente a Mão invisivel que nos levará
ao bem comum ...
Marx e Lenin foram abomináveis.
antes fruta com bicho
que
fruta deslavada
Peço desculpa de não ter nem conhecimento cientifico nem o dom da palavra.
Tenho um problema pueril:)
não consigo resistir
à tentação terrível de sujar uma caixa de comentário
(cada um com a sua luta interior).
suja à vontade silvia.
e Alf dois comentários:
1. o que farei quando tudo arde ainda assim como assim é um bom livro.
2. as maças do fundão até são boas. mesmo com bicho.
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