Num blogue mundialmente famoso por vestir estátuas com pedaços de bandeiras desactualizadas, pode recolher-se um exemplo daquilo que constitui o ponto "Pacheco Pereira" de um dado problema político. Para o leitor menos familiarizado com os modelos de análise estúpidos, o ponto "Pacheco Pereira" é aquele ponto em que um determinado problema é identificado nos seus contornos essenciais. Ora, o ponto "Pacheco Pereira" a que me refiro é atingido por um exemplo de Sofia Bragança Buchholz no 31 da Armada. Depois de espatifar o seu carro, alegadamente novinho em folha, Sofia Bragança Buchholz guinda a sua elegante pessoa à espectacular consciência da Absoluta Relatividade das Coisas , conclusão alcançada pela experiência e pelo passar dos anos, segundo confessa, e subitamente trazida ao salão da sua decorada mente pelo emergir de um acidente na espessura interessantíssima dos seus dias. Tive um acidente com um carro novo? As coisas são relativas. Podia ter chegado às mesmíssimas conclusões pela leitura de Marcel Proust ou pelas operações aritméticas nos princípios matemáticas da filosofia da Natureza de Newton, mas isto seria "apenas" teoria que não se compara com os altos picos de incidência emocional de um acidente com um carro novinho em folha. O carro podia ser velho, o que não nos levaria à relatividade das coisas. Mas novinho em folha? Ele há coisas relativas. O ponto "Pacheco Pereira" está em que o pensamento político dos primatas se faz normalmente pelos mesmos indícios da experiência: o que me acontece é certamente um prisma definitivo para avaliar a justiça da organização do mundo. É por estas e outras como estas que «não vale a pena dizer nada», conclusão melancólica que dará título a um livro que, em parceria com um filósofo amigo, certamente nunca escreveremos.
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