O João Pereira Coutinho é um jovem. Lembro-me, neste preciso micro-segundo que já passou, de um centrocampista que espalhou perfume e traulitada pelos relvados nacionais - antes de ter ido pontapear os cus germânicos para climas mais frios (opção nunca devidamente valorizada) - e que um dia disparou o seguinte comentário: «O Cristiano é um jovem». Cristiano Ronaldo era, com efeito, um jovem. Nessa fatídida noite num estádio de Lisboa, passou noventa minutos a ser pontapeado por Beto e Petit e acabou o jogo a sinalizar orgão genitais na direcção da plateia para gáudio da educadíssima multidão. Acontece que João Pereira Coutinho é um jovem que foi a Londres antes de tirar o bilhete de identidade, toca piano e estudou na Católica qualquer coisa que termina em "política", o que faz dele uma grande personalidade da cultura nacional. Ontem brindou-nos com um livro onde se prova que Deus existe quase de certeza, num título intraduzível (os títulos em inglês são sempre intraduzíveis, ao contrário do português que se traduz para qualquer dialecto sabujo). Deus existe quase de certeza? É verdade. Existe. Ainda ontem, eu e Deus comentávamos que não passa deste ano a assunpção, leve e silenciosa, de uma minha decisão final de me lançar na carreira da publicação de obras literárias. Mas Deus lembrou-me nesse preciso momento que na história do mundo ocidental, a inovação e a originalidade, tão apreciadas no meio literário, se encontram ligadas umbilicalmente à indústria e às suas necessidades. Fiquei triste. E nem me valeu o facto de Deus me ter dito com convicção, enquanto me dava palmadinhas no ombro, «Não desanimes. És um jovem».
Sem comentários:
Enviar um comentário