Além de invulgarmente inteligente e bem constituído fisicamente eu sou uma pessoa espectacular, como é do conhecimento público. Partilho, aliás, estas raras qualidades com outros dois espécimes da blogoesfera: casanova e maradona. Caro senhor leitor: acalme-se. Isto é apenas um exercício de estilo. Não vale a pena ranger os dentes por tão pouco. Repare nisto: vinha eu a descer as escadas do metro, mergulhado numa forma de começar um post de forma menos desastrada, quando me surge hierático, no horizonte sombrio dos túneis, o espírito de Pedro Lomba montado numa libelinha cujo corpo metalizado verde-ranho era concerteza uma alegoria da Constituição da República Portuguesa. Espantado com esta aparição, acontecimento único na história pátria deste as famigeradas vidências dos pastorinhos da aldeia de Fátima, perguntei-lhe em que vinha montado, a ver se a coisa era real ou resultava de um rissol de camarão com sabor a gasóleo que tinha comido há cerca de 5 minutos e meio. Pedro Lomba respondeu: «Não conheces este belo insecto? No Brasil designam-no por vários nomes: papa-fumo, helicóptero, cavalinho-de-judeu, cavalinho-do-diabo, corta-água, donzelinha, jacina, jacinta, lava-bunda, lavadeira, odonata, macaquinho-de-bambá, pito, ziguezigue ou cabra-cega.» Um pouco abalado logo perguntei: «Lomba, que merda de artigo era aquele no Público de Ontem? O espírito comanda a matéria? De onde é que te sopraram esse aforismo ridículo rachado pelo prego ferrugento da profunda ignorância?» E logo Pedro Lomba, puxando o nó da gravata contra o pescoço esgalritado, fitou-me com duas fogueiras de gelo em lugar dos olhos e disparou: «Ó esquerdalho, não sabes que "onde Marx falhou com estrondo foi em pensar que a consciência pessoal é tudo menos determinista e económica. Uma pessoa pode ver-se como um burguês e não passar de um pé-rapado. Tal como podemos aperceber-nos de que somos tão socialmente desarrumados que a nossa classe está em não ter nenhuma classe. O espírito comanda a matéria".» Esmagado pelo espírito omnipotente de Lomba, a minha pobre matéria sentiu um leve sopro de fome na arcada do estômago. Desorientado, perguntei: «Lomba, não me queres pagar aqui, espiritualmente falando, claro, uma tosta mista?» Pedro Lomba, zurziu o chicote de prata no corpo da libelinha (e só então reparei que a coroar o corpo fusiforme do insecto, agitava-se frenética a cabeça de Pacheco Pereira que entoava em surdina o hino de Inglaterra). Lomba e o seu insecto alado de asas transparentes dispararam pelo túnel a grande velocidade, afundando-se na escuridão constitucional do metro.
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