quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A luta continua

Completei hoje mais um capítulo do livro espectacular que estou a escrever em parceria com aquela metade mim mesmo que abomina visceralmente todas as formas de cornucópia intelectual menos as que são desenhadas em prol da expulsão de Jacinto Lucas Pires do território nacional. Atente-se que o livro referido, do qual nada posso dizer (a capa é constituída pela minha esfinge, mas em nu) é escrito como quem tira imperiais: pressão, rigor, golos do Benfica e muita espuma. O capítulo em questão descreve como dois gandulos interagem durante um exame de piano prestado por uma jovem monumentalmente talentosa mas destrambelhada candidata a pianista mais famosa do século, enquanto num outro plano, em pano de fundo com papel de parede padronizado anos oitenta, em homenagem ao homossexual Almodovar, decorre uma moscambilha que envolve uma velha caduca, um estudante de medicina, um poster do Benfica - época 93-94 -, e uma mesa de cozinha de madeira prensada de cor verde-garrafa. Mal finalizei o capítulo entreguei a mim próprio o prémio nóbel de Vila Franca de Xira. Só não esperava, ao sair do café, ser trespassado pela primeira página do Jornal de Letras, pendurada no quiosque manhoso que surgiu, qual cogumelo alado, na calçada mijada da rua em frente. valter hugo mãe acenou da página e mirou-me, recomendando que metesse o capítulo no lixo ou ainda acabava careca, com ar de gay, na primeira página do Jornal de Letras. Como não sou escritor, não obedeci à recomendação e fui para a porta do cabeleireiro esperar pela saída de miúdas que decidiram cortar o cabelo, e vêm, apesar de inseguras e selvaticamente belas, chorar a mágoa de terem decidido cortar o cabelo por qualquer coisa que sempre permanecerá inacessível para níveis cognitivos dotados de sexo masculino (diga-se em passagem, o Tolan é de facto genial, e ainda o seria mais se tivesse adoptado como nickname a espectacular palavra -Tolano - que vi estampada no chapéu de um pastor na Serra Amarela, vai para dez anos, dois segundos antes de aterrar com o focinho num charco de um ribeiro naturalmente biodiverso).

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