Nos últimos dias os autores deste blogue têm sido atingidos por referências à falta de rumo com que irresponsavelmente conduzem o camião desgovernado do seu batimento cardíaco. Dei por mim a pensar se isso estaria relacionado com o índice de inutilidade representado pela dedicação às chamadas matérias do conhecimento, como todos sabem, uma espécie de desordem mental que desvia infalivelmente os seres humanos das suas funções biológicas vitais para práticas completamente desadequadas ao bem-estar, como sejam passar várias horas a percorrer os mesmos caminhos lógicos, repetir frases com pequenas oscilações de artigo até que as palavras deixem de significar coisas, dobrar a cabeça várias horas sobre folhas de papel e outras que me escuso agora de referir por motivos que se prendem com a própria desordem já referida. Isto é tanto mais grave quanto mais incisiva e definitiva é a falta de rumo, sobretudo num momento em que se celebra a capacidade de definir objectivos. Porém, a falta de objectivos é um dos desportos mais praticados em todo o mundo, actividade capaz de garantir a salvação humana, apenas com o efeito devastador de uma mesa de matraquilhos. Ora, este é o acontecimento que se manifesta na própria condução deste post, linhas esguias, acumulações de letras, uma cobra incapaz de percorrer o deserto branco da folha, assim cada frase vai mergulhando na inutilidade do seu próprio desenho. O Gonçalo M. Tavares e o Lobo Antunes dizem que é preciso escrever todos os dias, mesmo quando o resultado é este. Claro que aqui não se invocam faias de cabelos desgrenhados, filas de pombos nos telhados, naprons dormindo sobre a televisão, o risinho irónico das louças nas prateleiras, e a divorciada que se abandona à pena de si própria, derramando lágrimas na mala de napa carmezim. Escrever é muitas vezes um acto ignóbil mas que nos traz dinheiro, conforto e lisonjeadores. Ninguém morre da escrita. Há é quem escreva para não morrer. E talvez fosse por isso que os egípcios preferiam as imagens.
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