Como era esperado, o debate entre Sócrates e Louça, entre a cabeça do poder e o protesto, deu origem ao delírio colectivo. Entre as várias rábulas passíveis de comentário - quem é a Irmã Conceição Pequito e em que convento político-académico fez os seus votos perpétuos de nunca dizer senão banalidades conservadoras? - vou cingir-me à questão dos benefícios fiscais. Desde sempre, o problema da política é um problema de justiça redistributiva, não de técnica organizacional. Se fosse um problema de sistema, como acreditam os mais ingénuos e ignorantes, há muito estaria resolvido a partir de uma qualquer representação em algoritmo. A questão é bem mais complexa: como retirar a quem tem para dar a quem não tem, de forma a evitar a guerra social? A questão da privatização é bem simples de descrever e muito complexa de resolver, uma vez que assenta precisamente numa questão de justiça. Porque razão a privatização da saúde, das poupanças reforma gera este alarido tão inaudito como o penteado de Jorge Jesus? Porque todos os serviços de repartição da riqueza, prestados pelo Estado - e passíveis de escrutínio público - foram, desde há cerca de vinte anos, novamente capturados por grupos sociais que rentabilizam a movimentação de capital e a prestação de serviços em seu benfício. Algo que deverá ter cuidado são os custos elevados dos PPR, apesar de a lei conferir ao subscritor o direito de renúncia ao contrato nos 30 dias após recepção da apólice. Há imensas comissões. As comissões não acabam nos PPR… Há comissões de entrega, de gestão, de resgate antecipado e de transferência. (...).Os seguros PPR com garantia de capital cobram, em geral, comissões mais elevadas (média de 2,1%, pela subscrição e 1,2%, pela gestão). António Ribeiro, economista da Deco afiança que os bancos e as seguradoras acabam por carregar nestes valores devido à benesse dos benefícios fiscais. Isto é tão antigo como as mal afamadas barbas do profeta. Não viria sequer mal ao mundo se esta privatização dos serviços e da vida social se encontrasse norteada pela distribuição dos lucros - lembrem-se que nos E.U.A. um liberal é um perigoso homem de esquerda. O problema é que a política assenta numa luta pela riqueza, riqueza que não sendo elástica ou é puxada à força da pancada ou vai parar necessariamente aos bolsos dos mais fortes e espertos. O governo será sempre paternalista ou não será governo. Pai é aquele senhor que nos impedia de levar nos cornos no meio da rua se aparecia um caramelo com o dobro do nosso tamanho. Não admira que o Estado se tenha tornado a última esperança dos que são pouco dados ao negócios mas que, mesmo assim, gostariam de não ser miseravelmente explorados pelos accionistas da pátria mesmo que sejam uns quantos milhões.
1 comentário:
Pela primeira vez concordo inteiramente com o que você escreveu.
Ou o mundo vai acabar brevemente ou o Benfica vai ganhar o campeonato. Nenhuma das duas hipóteses felizes.
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