Ora, os problemas para os economistas começam neste ponto. Em muitos dos casos, dotados de alguma impreparação histórica (pelo menos que toca a períodos anteriores ao século XIX), tomam como racionalidade de escolha, uma racionalidade que não tem em conta a ponderação do meio-ambiente e a racionalidade intrínseca de factores que o iluminismo tomou - e se nos é permitido, muito bem - como irracionais, mas no contexto de uma luta espícifica: a revolução científica dos séculos XVII-XVIII levou a que, estrategicamente, se produzisse um saber agressivamente racional - o que quer dizer formalizado - para derrotar a espiritualização da organização social. Fora desse contexto, algo que Newton ou Voltaire entendiam, a racionalidade é um fenómeno auto-referencial. Isto implica que se abandone a ideia de que a produção de razão se faz de uma forma unívoca, como um oceano que nos envolve a todos beatificamente. Podemos então dizer que afirmar a maximização das vantagens como fruto da escolha racional é uma tautologia sem qualquer valor explicativa se não estivermos a par dos contextos específicos. Só à luz da situação concreta é possível identificar as vantagens, o que não deixa margem para elaborações essencialistas sobre a escolha em situações abstractas. Daí que já Aristóteles intuía a dimensão contingente de toda a ética. Da mesma forma, a leitura dessas vantagens depende não só do processamento da informação - conteúdos externos - mas também das estruturas internas da consciência. North esclareceu de forma cabal, neste caso, a importância das instituições na produção de “racionalidades”. Apontou para o valor positivo - no que toca à produção de um chão para a valoração dos elementos a escolher. Faltou porém clarificar que esta produção de racionalidade, que Foucault desenvolveu no âmbito da produção de sujeitos, i.e., da individualidade, é chave para a leitura das relações de poder que condicionam as escolhas que desde o século XVIII nos acostumámos a apelidar de económicas. Daí que seja necessário, para uma leitura das racionalidades económicas, encontrar as regularidades discursivas onde se produzem os sujeitos da acção.
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