O blogue de Paulo Pinto Mascarenhas é como um passeio pelas áreas desmatadas da Sertã num dia tórrido de Agosto: os lábios ficam secos, engelha-se a pele, o cérebro é invadido por um frémito húmido, primeiro, e depois, lentamente, começa a encortiçar-se, causando uma estranha sensação de vertigem, até que já nada faça sentido e o caminhante implore, erguendo as mãos ao céu, o fim da viagem e o regresso a territórios mais verdejantes. Acontece que, não obstante o filão de ideias, preciosidades analíticas e discussões ponderadas, bem pesadas e densamente percorridas por dados originais e milagrosos, este ilustre comentador, ladeado pelo filósofo Paulo Tunhas, acaba, invariavelmente, a praticar o desporto preferido do pensamento conservador português: maldizer as eleições, a propaganda eleitoral e as campanhas políticas. Isto não é, de forma alguma, anti-democrático. Anti-democrático seria, por exemplo, decretar subidas de impostos progressivas em relação ao rendimento. Considere-se a seguinte afirmação de Baldaia, um estimado jornalista, subscrita por Pinto Magalhães: «Como director de um órgão de Comunicação Social, apelo ao senhor presidente da República para marcar as Legislativas para o mesmo dia em que o engenheiro José Sócrates marcar as Autárquicas. Rádios, televisões e jornais pouparão muito dinheiro. Os partidos pouparão muito dinheiro. E o país será poupado a um tempo infinito de campanhas, habitualmente pouco esclarecedoras.» Paulo Baldaia, director da TSF». Como é evidente, as campanhas dos partidos são pouco esclarecedoras, sobretudo quando comparadas com aqueles programas repletos de erudição e preciosidades políticas da TSF onde pontificam figuras de maior relevância como Ricardo Araújo Pereira, um indivíduo que está precisamente a entrar naquela perigosa fase que antecede o cansaço; Pedro Mexia, um candidato a Júlio Dantas do século XXI, ou João Miguel Tavares, aquele sujeito dos rrrs e barba rolha de cortiça style. Na verdade, os portugueses são tontos, sempre que deixam de considerar a inutilidade das campanhas eleitorais. Há que poupar dinheiro, a fim de comprar mais um automóvel importado, com rádio topo de gama, importado, onde possamos ouvir as decisões editoriais - irrepreensiveis - tomadas por Baldaia. Pinto Magalhães é, com efeito, um homem prudente, sobretudo quando nos chama a atenção para a irrelevância do dinheiro gasto em campanhas democráticas. Uma maçada, quando Portugal inteiro podia, como alternativa plausível e eficaz, passar antes a seguir, atentamente, Paulo Pinto Mascarenhas no Twiter.
1 comentário:
O "insulto" a João Miguel Tavares é de uma elevação atroz. Aliás, todo o post contribuiu para que eu me tenha tornado fã incondicional. A sério que aprecio estes exorcismos, caramba.
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