Não me ponham perante imagens que não quero comentar. Não preparem discursos ou análises. Não sou sequer um pequeno-burguês. Não tenho loja a defender nem mercado a conquistar. Não tenho qualquer interesse em movimentos democráticos, mesmo em países de tendência autoritária e cultura muçulmana, que vestem as mulheres da cabeça aos pés a fim de não se verem confrontados com a precaridade da virtude, com a estupidez incomensurável que há no sentimento religioso que pretende religar aquilo que para sempre foi rompido. Não tenho qualquer interesse na geo-estratégia e nas suas particulares influências no campo energético, falamos, como é bom de ver, na possibilidade de uma linha de abastecimento alternativa ao gás russo, com planos e interpretações de planos, bibliografia, comunicados oficiais reconhecidos pelas embaixadas, com todas as consequências do ponto de vista do equilíbrio entre facções, seja nos processos negociais do médio-oriente, seja nas ramificações ideológicas destes conflitos no resto do mundo, das margens arenosas do Lago de Tiberíades aos terraços ventosos do Empire State Building. Não tenho qualquer interesse em redigir posts sintético e certeiros, informados pelos pergaminhos analíticos da ciência política, avançando soluções, prognósticos, recomendações, palpites, planos de desenvolvimento, medidas a implementar para o aprofundamento democrático, denúncias de crimes, repressões, disparos, desvio de informação privilegiada, leitura sobre a importância das redes sociais na oposição a forma centralizadas de autoritarismo. No fim, nada há a acrescentar. Seria útil que convsersássemos longamente sobre as montanhas nevadas de Alborz, o imenso espelho de água colocado aos seus pés, a humidade aí abundante e a sua influência no cultivo de oliveiras e de chá. De resto, nada a comentar. Podemos seguir num carro utilitário ou na carruagem de um metro. Na rua, ou no hospital, de súbito ou demoradamente, ao som do bip ininterrupto da tecnologia que nos garante suporte aritifical e vida. Nada há a fazer. Não há declarações eloquentes, juramentos de fidelidade, promessas de justiça numa outra vida, ou da sua realização, ainda nesta, para os que ficarem. É certo, sou um pós-moderno e não acredito em missões democratizantes ou em razões que justifiquem a nossa morte. Mas o leitor não deve levar a mal esta profissão de fé, uma vez que a proclamo com o mesmo desinteresse com que recolho a roupa lavada e a penduro, cuidadosamente, no estendal. Acredito apenas na filosofia e na sua capacidade de nos colocar, inevitavelmente, perante a violência, tarde ou cedo, conforme o movimento incontrolável dos corpos e dos tiros, desde séculos disparados cobardemente na ilusão de que alguma coisa, alguém, algum sistema nos vai salvar da morte.
1 comentário:
Não acredito que sejas pós-moderno. Não acredito e prontoxe!
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