terça-feira, 16 de junho de 2009

À consideração de quem talvez não saiba que existem portugueses a ensinar literatura aos bifes, uma vez que não escrevem nada de jeito desde 1650

O tema do sacrifício, a que chamaremos a Via Crucis, o tempo litúrgico da História, aparece em Levantado do Chão. O caso verídico de Germano Vidigal, um dos heróis da luta popular alentejana, assassinado pelas polícias da ditadura, é contado nos passos do seu calvário entre a prisão e a morte. A descrição deste episódio acomoda-se ostensivamente às estações da Via Sacra e conforma-se com ela nos pormenores. Acentua o paralelismo entre a flagelação da vítima e o exemplo de Cristo, numa identificação que é um dos rasgos da narrativa oral popular desde tempos medievais, e tem, entre nós, o admirável precedente de Fernão Lopes nas suas crónicas. Luís de Sousa Rebelo King´s College, Londres

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