O arraial de S. João chegou mais cedo. Ontem, as Juventudes reentraram no espaço mediático. Agradecimentos, entusiasmo, palavras de ordem, saltarelos, camisas de padrão listado várias, freeks, irreverência, uma incontinência visual tamanha que me obrigou a descolar da televisão a gloriosa foto de José Águas, erguendo a taça dos campeões europeus em 1961, foto que tinha colocado a fim de suportar o discurs de Paulo Rangel, agora substituída por uma rede anti-mosquitos de tom verde, especialmente eficaz contra movimentos indesejados. As eleições são um momento solene. Não me anima nenhum sentimento proto-fascista, ou proto-totalitário, porque, meus amigos, todo este festival declarativo, onde a palavra "urna" foi pronunciada 10456 vezes - facto que nos deve obrigar a retirar algumas consequências - foi devidamente coroado com a dignidade que a circunstância merecia. Como diria HerbertoHelder: «ouro por cima». Não há nada mais vibrante do que um político de 1,65 suado até às órbitas, rasgando sorrisos no momento em que acaba de lhe cair em cima um camião Luís Simões carregado de merdas para resolver. Talvez a questão seja esta: é verdade que, por vezes, se nos cola à pele uma certa desistência. Nem todos têm a fibra, a "combatividade" - como se diz agora - necessária à "vida pública - como se não tivessemos todos nós a nossa "vida pública". A pergunta que não quer calar é, sem dúvida, a que vou fazer de imediato, e me persegue desde criança, pergunta que sarapateia no meu cérebro, qual avião à espera da ordem de aterragem, e que não posso fazer antes de beijar três vezes o livro de João Gonçalves: porque será que os eleitos sorriem tanto?
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