Estava a fazer outra coisa na aula porque o tom monocórdico se tornou insuportável. Pelo que vos deixo, professores de todo o mundo, um belo poema para desintoxicação da quotidiana labuta. No fundo, no fundo, sois uns porreiros.
Os rouxinóis inexoráveis da primavera
trazidos até nós por certa curta carta
em que canto da noite cantarão agora
que já os frágeis frios vindimam?
E os lilases crudelíssimos de junho
inalteráveis como o céu das férias grandes
talvez desdobradas sobre a adolescênciade
que nos valerão perante a insinuante música do outono?
E a mãe que o filho suga a ruga
que mãos estenderá sobre estes rostos
onde poisaram patas implacáveis dias?
E quando o vento verga os choupos do princípio
e despe os ramos dos plátanos familiares
faltará muito que nos cubram provisioriamente
as folhas fatigadas das desoladas árvores?
Já sobe a nossos pés o cedro do silêncio
Promete-nos o sol que sobre os nosso rostos
hão-de na primavera ondular os trigos.
Ruy Belo
2 comentários:
A VERDADE MEU CARO É UMA MENTIRA QUE AINDA NÃO FOI INVENTADA...
2 perguntas:
1. Afinal quem é o intelectual de café? por este comentário vejo que há mais escritas kafkianas na sua cozinha.
2. Sabe que o seu teclado tem lá uma coisa que se chama Caps Lock?
Obrigado e volte sempre
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