O caro leitor não deve ter deixado de reparar na consagração académica que hoje teve lugar na Universidade do Porto. Antes de elaborar o seu veemente protesto, saiba que não me move nenhuma animosidade anti-capitalista. Apenas não gosto de basófia. E Belmiro de Azevedo, entre duas tiradas sobre a importância do trabalho - e quatro cânticos à humildade das gentes nortenhas - é um monumento vivo à basófia do novo-rico. E não há empreendorismo, nem multiplicação de postos de trabalho - muito obrigado senhor engenheiro -, que disfarcem a raiva de quem julga poder comprar com o reconhecimento público, o que o dinheiro, ou mesmo a ascendência social, nunca poderá conferir. Há pouco tempo Álvaro Pereira, um recém-conhecido economista, vituperava Portugal por não aclamar Belmiro de Azevedo como um homem de excepção. Se fosse nos EUA - afirmava - Belmiro seria coberto com o manto púrpura dos triunfos e recebidos com folhas de palma pela multidão. Ora aí está como Portugal sabe assemelhar-se ao primeiro mundo. Chegou o reconhecimento da Academia. O doutorado confessou: "realizei projectos, enfrentei desafios, venci obstáculos e, chegado a este meu Outono, olho à distância e admito que deixei algumas pedras brancas para sinalizar o caminho das gerações futuras". E nós que não realizamos projectos, fugimos aos desafios e estamos ainda na nossa singela Primavera, desconfiamos sempre de quem nos sinaliza o caminho. Com efeito, poderão chamar-nos marxistas, esquerdalhos ou simplesmente irresponsáveis mas não julgamos que hipermercados e telemóveis sejam propriamente razão para consagrações. Se o capitalismo é apenas o resultado da libertação económica, a perseguição do interesse próprio, porquê celebrar num homem a soma enriquecedora das trocas económicas de toda uma sociedade? Ou será o capitalista, afinal, o aristocrata de um regime cujas sedes do saber já ajoelham, de mão estendida, na esperança de serem poupadas à vertigem irracional do poder?
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