«Calhou-me há tempos ler um texto de Karl Marx, chamado "O Poder do Dinheiro". Sempre que leio Marx apercebo-me de que o barbudo acertou em imensa coisa, mesmo que tivesse falhado depois no essencial. Esse texto sobre a força do vil metal foi escrito em 1844. E é a melhor prosa que alguma vez li sobre o assunto.»
O bizarro excerto que aqui se apresenta é da autoria do ilustre assistente de Direito Constitucional, Pedro Lomba, e foi publicado recentemente no mais arrojado projecto editorial português das últimas três semanas. Karl Marx foi enfim descoberto pelos juristas. Pelas barbas do economista, celebramos o facto. O texto é um dos muitos exercícios críticos de Marx incluídos nos Manuscritos Económico-Filosóficos, que serviram de especulação à monumental obra de análise, o Capital. O Leitor ficará supreendido ao descobrir que estes manuscritos permanceram praticamente desconhecidos até meados do século XX. Deve dizer-se, em abono da verdade - uma elegante mulher, de hábitos recatados mas díficil acesso, no entanto, curiosamente, desde sempre muito mal frequentada - que os textos de Marx, mesmo os publicados no final do século XIX, nunca mereceram grande atenção, sequer da crítica, quanto mais do público. São difíceis, o leitor sabe como é: uma maçada.
Mas nada disto nos deve distrair do essencial. Mesmo que a comunidade durma, ao som de mais discurso Presidencial, há sempre um jurista liberal pronto a indicar o caminho. Como são belas as almas dos juristas ao decobrir a sabedoria filosófica no mais vilipendiado dos anti-juristas: com efeito, comove-nos - «o barbudo acertou em imensa coisa» - mas sem que ao jurista seja permitido perder o dever de serviço ao verdadeiro poder - «mesmo que tivesse falhado depois no essencial».
Uma constitucional pergunta: através de que exercícios jurídicos e constitucionais se conseguirá acertar em imensa coisa e, simultaneamente, falhar no essencial?
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