Tenho constatado que a morte de João Benárd da Costa tem servido de pretexto a tutti quanti para se declararem frequentadores da Cinemateca desde pequeninos. Desde confessos antigos estudiosos da 7ª arte (Henrique Raposo) até iniciados estéticos deDreyer (Pedro Lomba) toda a minha santa gente tem entoado cânticos às suas memórias da Cinemateca. Ele são salvíficas fugas dos bancos da Faculdade (o que explica muita coisa), ele são tardes de deleite na contemplação de Rio Bravo. Por mim, sempre achei a cinemateca um lugar repelente onde certo dia me cobraram 5 euros por um folhado de queijo de cabra com bróculos (eu que o vivi é que dou testemunho), repleto de indivíduos caracterizados por camisolas caneladas inquietantemente chegadas ao corpo, coroados por óculos de massa. Além desta bizarra fauna, o lugar distingue-se ainda por uma proverbial infestação de candidatos a crítico, sem paralelo em qualquer latitude portuguesa (à excepção, talvez, de Serralves). Não tendo pistola para sacar quando oiço falar em Cinemateca, deixo apenas um convite à introspecção: que relações entre a juvenil frequência da Cinemateca e a produção de ensaios políticos inoculados com a genialidade do liberalismo democrático de filiação anglo-saxónica? Mas não se aflijam. O problema tem cura. Trinta e seis horas de visionamento da final da Taça dos Campeões Europeus de Viena de 1989 (com repetição do penalty de Veloso, pelo menos 1047 vezes). Como é sabido, o Benfica defrontava o clube de futebol neerlandês Philips Sport Verening Eindhoven, fundado a 31 de Agosto de 1913 por um grupo de operários da fábrica Philips. O desfecho foi fatal para os lisboetas e encheu de regozijo a classe operária, poucos meses antes da queda do Muro de Berlim. É garantido: não há paralelo dramático na história do cinema.
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