Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de troçar de nós a tua loucura? A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda nocturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, quem convocaste, que deliberações foram as tuas? Oh tempos, oh costumes! O Senado tem conhecimento destes factos, o cônsul tem-nos diante dos olhos; todavia, este homem continua vivo! Vivo?! Mais ainda, até no Senado ele aparece, toma parte no conselho de Estado, aponta-nos e marca-nos, com o olhar, um a um, para a chacina. E nós, homens valorosos, cuidamos cumprir o nosso dever para com o Estado, se evitamos os dardos da sua loucura. À morte, Catilina, é que tu deverias, há muito, ter sido arrastado por ordem do cônsul; contra ti é que se deveria lançar a ruína que tu, desde há muito tempo, tramas contra todos nós.
Primeiro discurso de Cícero contra Catilina.
O discurso foi proferido em 8 de Novembro de 63 a.C.
Todos os dias são dias a perder. Este elogio da derrota talvez siga inspirado pela derrota que todos sabemos anunciada. Derrota de quem? Será o Estado de direito democrático o grande perdedor? Serei eu? Serás tu, caro leitor?
“Gente que acerta, gente que erra”, na expressão do poeta de Queluz. Com efeito, existe uma derrota inevitável. A de todos os que teimam em procurar razões onde apenas forças, movimentos, inércias e vontades, repousos. O homem no lagar do mundo. O homem…
De modo que o estado de direito democrático são os soluços do peixe miúdo. Ou a forma liceal com que o Professor Aníbal lê os discursos. A forma caduca com que anuncia o que não faz. O que não fez. Ele já venceu. Nós, caro leitor, quem sabe num futuro próximo.
Quem sabe a paciência acabe. Quem sabe o bastonário acabe demitido, saindo por baixo, sem voz e com umas palmadinhas nas costas. Ou processado. Quem sabe sejam as palavras do poeta de Queluz a triunfar um dia. Ele que escreveu no Outono, esse inspirado livro denominado Homem de Palavras.
Talvez o bastonário seja um homem de palavras. Um homem inspirado. Talvez seja apenas o “estilo agressivo”. Ele que arrasta pela lama, com as luvas da “irresponsabilidade cívica”, a frágil honra da dignidade política – essa varonia da pátria ilustre. Parece que os advogados servem apenas para defender (com moderação e cálculo responsável) os interesses dos accionistas bancários. Ou fazer estudos sobre a aplicação jurídica do cágado francês. Não para proteger a República. Aliás, a República resume-se hoje às “boas práticas”. Quais práticas? Ah, já sei, as práticas do banquete oitocentista. Senhor Comendador faça o favor. Concerteza senhor Secretário de Estado. É para já Senhor Presidente da Tribunal Constitucional. Ohh, caríssimo Procurador. Como está ilustríssimo Senhor Ministro.
“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, perguntou um dia Cícero no meio da revolta, dos punhais do turbilhão em sangue.
O estado de direito democrático, a respeitabilidade, o bom nome, as boas práticas, a credibilidade do sistema. Quando vier o sangue e a fúria (como sempre vem) eu já aqui não estarei. Talvez esteja na bancada a torcer por um de vós. Um dos que no calor do jogo ainda acredita no lance.
Ou como diria o poeta de Queluz à boca da noite:
“Nada se perde por mais que aconteça, uma vez que já tudo se perdeu”.
“Gente que acerta, gente que erra”, na expressão do poeta de Queluz. Com efeito, existe uma derrota inevitável. A de todos os que teimam em procurar razões onde apenas forças, movimentos, inércias e vontades, repousos. O homem no lagar do mundo. O homem…
De modo que o estado de direito democrático são os soluços do peixe miúdo. Ou a forma liceal com que o Professor Aníbal lê os discursos. A forma caduca com que anuncia o que não faz. O que não fez. Ele já venceu. Nós, caro leitor, quem sabe num futuro próximo.
Quem sabe a paciência acabe. Quem sabe o bastonário acabe demitido, saindo por baixo, sem voz e com umas palmadinhas nas costas. Ou processado. Quem sabe sejam as palavras do poeta de Queluz a triunfar um dia. Ele que escreveu no Outono, esse inspirado livro denominado Homem de Palavras.
Talvez o bastonário seja um homem de palavras. Um homem inspirado. Talvez seja apenas o “estilo agressivo”. Ele que arrasta pela lama, com as luvas da “irresponsabilidade cívica”, a frágil honra da dignidade política – essa varonia da pátria ilustre. Parece que os advogados servem apenas para defender (com moderação e cálculo responsável) os interesses dos accionistas bancários. Ou fazer estudos sobre a aplicação jurídica do cágado francês. Não para proteger a República. Aliás, a República resume-se hoje às “boas práticas”. Quais práticas? Ah, já sei, as práticas do banquete oitocentista. Senhor Comendador faça o favor. Concerteza senhor Secretário de Estado. É para já Senhor Presidente da Tribunal Constitucional. Ohh, caríssimo Procurador. Como está ilustríssimo Senhor Ministro.
“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, perguntou um dia Cícero no meio da revolta, dos punhais do turbilhão em sangue.
O estado de direito democrático, a respeitabilidade, o bom nome, as boas práticas, a credibilidade do sistema. Quando vier o sangue e a fúria (como sempre vem) eu já aqui não estarei. Talvez esteja na bancada a torcer por um de vós. Um dos que no calor do jogo ainda acredita no lance.
Ou como diria o poeta de Queluz à boca da noite:
“Nada se perde por mais que aconteça, uma vez que já tudo se perdeu”.
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