sábado, 10 de novembro de 2007

Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris

Entrou para o mosteiro nova. “Tão novinha, que desperdício” disseram familia e amigos, de acordo com o relato da própria. Depois riu, contente, no ecrã.

A irmã Raquel vem à televisão confessar a sua conversão. “Senti um desejo total de me consagrar a deus, não consigo dizer mais”.
Não conseguia, portanto, dizer mais, que é outra forma de dizer que não se consegue explicar a própria vida que é a coisa mais difícil de explicar. Com ou sem hábito. Mas mais adiante a reportagem encerra com a irmã Raquel a entoar um hino da liturgia das horas

“Em vós meu deus me refugio e não serei confundido”

A resposta está então em ti, Raquel, límpida como as águas vivas, pelas quais tu, certamente, dizes que o veado anseia: custa muito ser apenas mais um neste lagar do mundo, sabendo que, no fim, seremos todos mais ou menos a mesma coisa - terra. Confundidos e desprotegidos.

Por isso, voltemos ao mundo Raquel e saibamos viver com limpidez e dignidade, não como quem contempla, mas como quem, em cada pequena coisa, nunca deixasse de ser contemplado.

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