António pessoa ungida pela sagacidade Guerreiro in Público
As mães do Pedro Nunes nunca terão lido Breton e Robbe-Grillet (dois gajos que não chegaram a ver a França campeã do mundo) mas daí até as mães do Pedro Nunes (como entidade institucional) desconhecerem as contradições implícitas no admirável e litúrgico mundo do pinanço em espetacularidade, vai uma distância do tamanho que for mais adequado à satisfação de cada um. Ou seja, o senhor general e almirante António Guerreiro, no seu confuso texto, comete um erro típico, várias vezes aqui aludido (e também por nós praticado, pois gostamos de meter a mão no prato com pecadores e publicanos) isto é, toma a realidade pelas coisas lidas nos livros, uma cena que já alegadamente motivou a má fama do Quixote.
Isto não significa privilegiar a experiência em relação à teoria (deixámo-nos disso desde que o António Veloso falhou um penalti em Estugarda) mas apenas reconhecer o gigantismo da nossa ignorância sobre a realidade, dada a amplitude da sua complexidade e a sua natureza amplamente precária, para não falar da problemática relação entre a realidade e os ponteiros do relógio. Esta ignorância não exclui um razoável domínio daquilo a que as pessoas em geral (e cremos que o Jorge Gabriel também) chamam a Literatura. Antes pelo contrário, a Literatura (bem como a fixação escrita de todas as linguagens) é precisamente uma forma de esconder a ignorância sobre as coisas em geral, e a arte de bem cavalgar toda a ignorância através da linguagem, implica conhecimentos técnico-táticos em múltiplos domínios, mas não nos detenhamos por agora em assuntos demasiado perigosos. Quero com isto dizer que não desdenharia visitar a vida sexual das mães do Pedro Nunes.
Com efeito, o António Guerreiro (com uma reacção à perda fortíssima e por isso mesmo, exagerando, no referido texto, as consequências extraídas do sucesso sociológico da angeologia no meio literário português) devia contudo saber que, precisamente, e em geral, o tipo de «alma» criada na Travessa da Lapa e na censura da porcalhice é também muito fértil em potência criativa ao nível da mesma e referida porcalhice, tal como já todos devíamos saber por intermédio desse vulto da pornografia doméstica, o arquitecto Tomás Taveira. António Guerreiro talvez pretenda, contudo, sublinhar isso mesmo. As mães do Pedro Nunes são umas porcalhonas mas não querem os filhos a serem iniciados na porcalhice. Uma posição aliás legítima. Se bem entendo, o caso é simultâneamente mais clássico e mais infelizmente esquerdalho, ao nível dos preconceitos culturais: António Guerreiro mostra-se tentado a afirmar que as burras das mães do Pedro Nunes são precisamente parte do grupo responsável pelo sucesso do Valter, mas somente enquanto o retrato público do Valter foi o da superficialidade mediática do curador de almas, transmitida pelo jornalismo, uma vez que só o António Guerreiro lê livros. Mas quando o referido Valter resolve mostrar o seu lado caxineiro, as mães do Pedro Nunes, segundo António Guerreiro, entraram em histeria existencial. O mundo é mais complicado, e estaremos todos de acordo, não se aprende sobre as relações entre erotismo e pornografia na Travessa da Lapa, mas muito menos se aprendem essas relações em Breton ou Robbe-Grillet, e com isto, já não estaremos todos de acordo. Talvez as mães do Pedro Nunes não pretendam que seja o Valter a explicar o mundo aos seus filhos, ainda que por aí tenham aparecido teorias sobre a importância da leitura, como se recomendar Valter Hugo Mãe a adolescentes, não fosse precisamente o mais directo caminho para erradicar da juventude todo o prazer da leitura. Nisto, estou com as mães do Pedro Nunes, com todo as minhas forças morais, talvez não pelas mesmas razões das mães do Pedro Nunes, que aliás desconheço, mas não desdenharia conhecer.
Não sei até quando será necessário repetir: a literatura não pode representar utilidade universal na vivência do mundo, como já acima se referiu quanto à supracitada tragédia do mais famosos leitor de romances. Por outro lado, e alegadamente, até o Diabo teve um passado ligado à Travessa da Lapa e à angeologia. Quanto a eventuais problemas de adequação literária às estratégias pedagógicas, confesso o meu desinteresse conjuntural no tema. No fundo, a Shakira também é mãe e deve estar para inscrever os filhos numa Travessa da Lapa qualquer, e não estou a vê-la a apreciar a literatura do valter hugo mãe, mas isto é por certo um preconceito da minha visão estética do mundo.
Lamentavelmente, somos forçados a regressar a um assunto encerrado. Valério Romão voltou à carga num artigo publicado no famoso e aclamado periódico, Hoje Macau. Afinal, as ideias expostas no excerto criticado não são dele mas de uma personagem que expõe «atabalhoadamente a sua visão redutora das relações». O ponto, contudo, não é esse, nem podia ser, pois nesse caso, Valério Romão devia estar orgulhoso por ter conseguido enganar os leitores, é o sonho de qualquer autor. Mas como bem sabe o professor doutor Valério Romão, está em causa, precisamente, a falta de talento para ser atabalhoado e fingir uma visão redutora das relações que não seja diretamente contaminada pelas ideias do escritor. Está em causa, sobretudo, e se me é permitido ter opinião (muito obrigado), o direito constitucional de considerarmos os seus textos e temas terrivelmente desinteressantes, pois são, precisamente, os temas da moda. Pior do que isso, a literatura de Valério Romão é em geral uma revisitação de António Lobo Antunes (e isto é um elogio), mas com maior ruído e desacerto metafórico, muita cornucópia dispensável, muita irónica referência a marquises e ao tupperware. Mais concretamente, reservamos o direito de considerar o elemento bizarro no referido excerto, pois (parece-nos) uma personagem atabalhoada, a primeira coisa em que pensa, é em relacionar, de forma redutora, a câmara de Fellini com as relações amorosas, envolvendo nisto a pila de alguém. Tenhamos paciência.
Quando à ideia da intermediação da personagem, então, mais uma vez, o doutor Valério escorrega na sua própria casca de banana, pois nesse caso, não será o rapaz da internet, também ele (eu) quem? apenas e tão somente uma pirandelliana desdobragem ficcional neste grande teatro do mundo? Para quê considerar como sujeito real uma persona qualquer a escrever sobre literatura? No fundo, talvez seja uma personagem atabalhoada a descrever redutoramente as suas opiniões sobre o grande escritor Valério Romão? Para quê tomar pelo valor facial um texto assinado por um extraterrestre num blogue obscuro?
Na verdade, tanto o senhor doutor Valério como o excelentíssimo senhor Valter esforçam-se por representar o papel de mártires da liberdade expressão, perseguidos pela fúria indignatória desses dois pólos da perversidade universal, as redes sociais e as mães do Pedro Nunes. O caso é tanto mais ridículo se pensarmos que as alusões ao texto de Valério Romão, foram lançadas em campo estético e as críticas apenas dirigidas ao autor, e nem poderia ser de outro modo, pois não temos o prazer de conhecer a pessoa. Ou muito me engano, e eu engano-me muitas vezes, o senhor professor doutor Valério Romão insiste em fazer aos outros o que considera inapropriado quanto à sua pessoa (e peço-lhe para voltar a considerar o que escreve quase mensalmente sobre escritores menores como Chagas Freitas ou líderes espirituais como Gustavo Santos). Na verdade, talvez se aprenda alguma coisa com Gustavo Santos, quanto mais não seja, a não ter medo de lavar as próprias cuecas. Reciprocidade: ora aí está uma coisa que se aprende consumindo boa pornografia, um campo socio-cultural onde uma boa cena implica a experiência mutuamente recíproca de cada centímetro corporal lambido. Somos pois chegados a um universo paralelo, onde um escritor acusado de ser mediano e literáriamente conservador (replicando temas e estratégias estafadas e exauridas na obra de Lobo Antunes) responde acusando os seus críticos de censura, e invocado o direito a utilizar palavrões. A vitimização, sobretudo em figuras privilegiadas pelos órgãos mediáticos e pelos centros de difusão nacional da cultura, é dos espectáculos mais lamentáveis a que temos assistido.
Bem sabemos como o mártir da liberdade de expressão é uma tipologia weberiana que está para a carreira literária como o pau de Cabinda para as mães do Pedro Nunes, basta pensar naquele autor perseguido e que semanalmente é forçado pela opressão de um valor monetário a escrever copiosas crónicas no Expresso. Na verdade, colar a este blog o epíteto censório (e para utilizar um famoso delírio da percepção) é o mesmo que confundir a experiência de amar uma mulher fumadora com uma lambidela a um cinzeiro. Meus amigos, é preciso mais concentração, pois, como já por diversas vezes referi, não andamos todos aqui a dormir.
Isto não significa privilegiar a experiência em relação à teoria (deixámo-nos disso desde que o António Veloso falhou um penalti em Estugarda) mas apenas reconhecer o gigantismo da nossa ignorância sobre a realidade, dada a amplitude da sua complexidade e a sua natureza amplamente precária, para não falar da problemática relação entre a realidade e os ponteiros do relógio. Esta ignorância não exclui um razoável domínio daquilo a que as pessoas em geral (e cremos que o Jorge Gabriel também) chamam a Literatura. Antes pelo contrário, a Literatura (bem como a fixação escrita de todas as linguagens) é precisamente uma forma de esconder a ignorância sobre as coisas em geral, e a arte de bem cavalgar toda a ignorância através da linguagem, implica conhecimentos técnico-táticos em múltiplos domínios, mas não nos detenhamos por agora em assuntos demasiado perigosos. Quero com isto dizer que não desdenharia visitar a vida sexual das mães do Pedro Nunes.
Com efeito, o António Guerreiro (com uma reacção à perda fortíssima e por isso mesmo, exagerando, no referido texto, as consequências extraídas do sucesso sociológico da angeologia no meio literário português) devia contudo saber que, precisamente, e em geral, o tipo de «alma» criada na Travessa da Lapa e na censura da porcalhice é também muito fértil em potência criativa ao nível da mesma e referida porcalhice, tal como já todos devíamos saber por intermédio desse vulto da pornografia doméstica, o arquitecto Tomás Taveira. António Guerreiro talvez pretenda, contudo, sublinhar isso mesmo. As mães do Pedro Nunes são umas porcalhonas mas não querem os filhos a serem iniciados na porcalhice. Uma posição aliás legítima. Se bem entendo, o caso é simultâneamente mais clássico e mais infelizmente esquerdalho, ao nível dos preconceitos culturais: António Guerreiro mostra-se tentado a afirmar que as burras das mães do Pedro Nunes são precisamente parte do grupo responsável pelo sucesso do Valter, mas somente enquanto o retrato público do Valter foi o da superficialidade mediática do curador de almas, transmitida pelo jornalismo, uma vez que só o António Guerreiro lê livros. Mas quando o referido Valter resolve mostrar o seu lado caxineiro, as mães do Pedro Nunes, segundo António Guerreiro, entraram em histeria existencial. O mundo é mais complicado, e estaremos todos de acordo, não se aprende sobre as relações entre erotismo e pornografia na Travessa da Lapa, mas muito menos se aprendem essas relações em Breton ou Robbe-Grillet, e com isto, já não estaremos todos de acordo. Talvez as mães do Pedro Nunes não pretendam que seja o Valter a explicar o mundo aos seus filhos, ainda que por aí tenham aparecido teorias sobre a importância da leitura, como se recomendar Valter Hugo Mãe a adolescentes, não fosse precisamente o mais directo caminho para erradicar da juventude todo o prazer da leitura. Nisto, estou com as mães do Pedro Nunes, com todo as minhas forças morais, talvez não pelas mesmas razões das mães do Pedro Nunes, que aliás desconheço, mas não desdenharia conhecer.
Não sei até quando será necessário repetir: a literatura não pode representar utilidade universal na vivência do mundo, como já acima se referiu quanto à supracitada tragédia do mais famosos leitor de romances. Por outro lado, e alegadamente, até o Diabo teve um passado ligado à Travessa da Lapa e à angeologia. Quanto a eventuais problemas de adequação literária às estratégias pedagógicas, confesso o meu desinteresse conjuntural no tema. No fundo, a Shakira também é mãe e deve estar para inscrever os filhos numa Travessa da Lapa qualquer, e não estou a vê-la a apreciar a literatura do valter hugo mãe, mas isto é por certo um preconceito da minha visão estética do mundo.
Lamentavelmente, somos forçados a regressar a um assunto encerrado. Valério Romão voltou à carga num artigo publicado no famoso e aclamado periódico, Hoje Macau. Afinal, as ideias expostas no excerto criticado não são dele mas de uma personagem que expõe «atabalhoadamente a sua visão redutora das relações». O ponto, contudo, não é esse, nem podia ser, pois nesse caso, Valério Romão devia estar orgulhoso por ter conseguido enganar os leitores, é o sonho de qualquer autor. Mas como bem sabe o professor doutor Valério Romão, está em causa, precisamente, a falta de talento para ser atabalhoado e fingir uma visão redutora das relações que não seja diretamente contaminada pelas ideias do escritor. Está em causa, sobretudo, e se me é permitido ter opinião (muito obrigado), o direito constitucional de considerarmos os seus textos e temas terrivelmente desinteressantes, pois são, precisamente, os temas da moda. Pior do que isso, a literatura de Valério Romão é em geral uma revisitação de António Lobo Antunes (e isto é um elogio), mas com maior ruído e desacerto metafórico, muita cornucópia dispensável, muita irónica referência a marquises e ao tupperware. Mais concretamente, reservamos o direito de considerar o elemento bizarro no referido excerto, pois (parece-nos) uma personagem atabalhoada, a primeira coisa em que pensa, é em relacionar, de forma redutora, a câmara de Fellini com as relações amorosas, envolvendo nisto a pila de alguém. Tenhamos paciência.
Quando à ideia da intermediação da personagem, então, mais uma vez, o doutor Valério escorrega na sua própria casca de banana, pois nesse caso, não será o rapaz da internet, também ele (eu) quem? apenas e tão somente uma pirandelliana desdobragem ficcional neste grande teatro do mundo? Para quê considerar como sujeito real uma persona qualquer a escrever sobre literatura? No fundo, talvez seja uma personagem atabalhoada a descrever redutoramente as suas opiniões sobre o grande escritor Valério Romão? Para quê tomar pelo valor facial um texto assinado por um extraterrestre num blogue obscuro?
Na verdade, tanto o senhor doutor Valério como o excelentíssimo senhor Valter esforçam-se por representar o papel de mártires da liberdade expressão, perseguidos pela fúria indignatória desses dois pólos da perversidade universal, as redes sociais e as mães do Pedro Nunes. O caso é tanto mais ridículo se pensarmos que as alusões ao texto de Valério Romão, foram lançadas em campo estético e as críticas apenas dirigidas ao autor, e nem poderia ser de outro modo, pois não temos o prazer de conhecer a pessoa. Ou muito me engano, e eu engano-me muitas vezes, o senhor professor doutor Valério Romão insiste em fazer aos outros o que considera inapropriado quanto à sua pessoa (e peço-lhe para voltar a considerar o que escreve quase mensalmente sobre escritores menores como Chagas Freitas ou líderes espirituais como Gustavo Santos). Na verdade, talvez se aprenda alguma coisa com Gustavo Santos, quanto mais não seja, a não ter medo de lavar as próprias cuecas. Reciprocidade: ora aí está uma coisa que se aprende consumindo boa pornografia, um campo socio-cultural onde uma boa cena implica a experiência mutuamente recíproca de cada centímetro corporal lambido. Somos pois chegados a um universo paralelo, onde um escritor acusado de ser mediano e literáriamente conservador (replicando temas e estratégias estafadas e exauridas na obra de Lobo Antunes) responde acusando os seus críticos de censura, e invocado o direito a utilizar palavrões. A vitimização, sobretudo em figuras privilegiadas pelos órgãos mediáticos e pelos centros de difusão nacional da cultura, é dos espectáculos mais lamentáveis a que temos assistido.
Bem sabemos como o mártir da liberdade de expressão é uma tipologia weberiana que está para a carreira literária como o pau de Cabinda para as mães do Pedro Nunes, basta pensar naquele autor perseguido e que semanalmente é forçado pela opressão de um valor monetário a escrever copiosas crónicas no Expresso. Na verdade, colar a este blog o epíteto censório (e para utilizar um famoso delírio da percepção) é o mesmo que confundir a experiência de amar uma mulher fumadora com uma lambidela a um cinzeiro. Meus amigos, é preciso mais concentração, pois, como já por diversas vezes referi, não andamos todos aqui a dormir.
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