domingo, 22 de novembro de 2015

Profunda vénia ao Edward Said, seguida de uma oferta de explicação para os tempos que vós acompanhais pela televisão e eu tenho a felicidade de assistir quase em directo. No momento em que vos escrevo, estão a occorrer várias operações policiais, duas delas a menos de 3 km da minha excelsa pessoa e as sirenes são audíveis. Mas está tudo bem, o Islam marcou e o Sporting ganhou.

Tal como o Edward Said, eu não acredito que o que se está a passar actualmente seja um confronto civilizacional. Não me interpretem mal, a Europa e o Médio Oriente são como o dia e a noite e se (actualmente) vivem lado a lado é devido a meras contigências geográficas e históricas. Pese embora representantes das supracitadas civilizações, EUA e agora a França de um lado e o Daesh do outro, andarem a trocar mimos entre eles não deixa de ser verdade que na Síria o Daesh está a levar com a Rússia (civilização ortodoxa com sabor a comunismo e temperada com pós de KGB), o Bashar (nationalismo arábico sabor a comunismo requentado) e outros ramos do Islão que agora não me lembro. A situação é portanto mais complexa do que aparenta, e portanto deixemos o mundo de faz de conta para o Costa, Centeno e associados.

O problema com o Huntigton é que está meio certo, não acertando no alvo também não o falha completamente e isso é quanto basta para que os comentadeiros se sintam confiantes em desfilar ignorância pela tv, rádio e jornais. Pior ainda no caso de quem, como este vosso criado, efectivamente leu o "Confronto de Civilizações". O Huntington fornece uma teoria, e as ferramentas, para a trabalhar. E como o homem falha o alvo por pouco, é extremamente sedutor alinhar pela melodia do confronto de civilizações.

Olhando para o desperdício de ribossoma e demais ácidos nucleicos que andaram por Paris a espalhar destruição, constato que se trata de indivídios (passe o abuso de linguagem) com vidas profundamente antisociais. Até terem encontrado o caminho para a Síria, um dia bom consistia em foder, ganzar e beber. Chegados à Síria, continuaram como dantes mas de kalash nas mãos. Estou em crer que em condições normais, estes tipos acabavam ou presos por tráfico e roubo ou com vários tiros no lombo, cortesia do gangue rival.

E o que são condições normais ? Demos um salto até ao Brasil. Nas favelas do Rio e São Paulo, decorre uma guerra urbana entre traficantes e polícia. Estou em creer que os tipos de Molenbeek, nunca teriam encontrado o caminho para a Síria se tivessem nascido no mui cristão Brasil. Porque para a vida de miséria espiritual e material, que os tipos levavam aqui em Molenbeek e noutros quartiers de Paris, o escape social devidamente sancionado no Brasil é a criminalidade e a violência com a bófia.

Trazidos de volta a Bruxelas e Paris, podemos constatar que uma não desprezável parte da população atrás das grades são exactamente magrebinos. Dito de outra forma, a criminalidade como a válvula de escape existe por cá também. Então porque é que os tipos fizeram a merda que fizeram ?

Aqui chegados é altura de jogar a manilha de trunfo, que tínhamos guardada. Eu estou convencido que o Islão facilita e justifica a via da violência como meio de afirmaçao, e controlo territorial, de um grupo. Olhando para os tempos iniciais do Islão, vemos um pequeno grupo a tentar sobreviver num meio que lhe é hostil, matando e roubando sempre que necessário. A identificação que um terrorista fará entre a sua vida e a do profeta, parece-me fácil de fazer. Aliás, a biografia que Lawrence Wright faz de Zawahiri e Bin Laden é disso exemplo. Os tipos passaram as passas do Algarve, e muitas vezes quase tudo parecia perdido. Penso que se viam como encarnando uma versão moderna do profeta, e a forma quase miraculosa como foram escapando com vida das várias encrencas em que se meteram, apenas reforçou a esta crença.

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O irmão do Salah Abdeslam foi hoje entrevistado pela televisão belga. Prefere que o irmão seja preso antes que morto. Eu também. Já chega de morte.

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