quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
A liberdade de expressão
Ou a importância de se conhecer a dinâmica de um sistema de segunda ordem.
Fatal como o destino, após o sarrabulho de Paris, as reacções cristalizaram em torno das categorias já comuns: "morte aos sarracenos", "condeno, mas a culpa é nossa" e, o alvo deste texto, "a liberdade de expressão é sagrada".
As duas categorias, sendo as de mais fácil accesso intelectual, foram e continuam a ser mastigadas na comunicação social. Não vale a pena gastar largura de banda com elas. Centremos a mira da 338TP na última categoria, portanto.
D. Duarte criticou o Charlie Hebdo, subrepticiamente introduzindo o termo pasquim na discussão, um abraço e um bem haja, pasquim é claramente sub-utilizado no português moderno. Os comentários rapidamente concorreram para a necessidade de liberdade de expressão, como se fosse um fim em si mesmo. E quando aqui se bate, ao de leve e mansinho, no Papa, lá aparece o tradicional "Mas alguém disse que o Papa não tem direito a ter uma opinião livre? Ele tem o direito de ter e dar a sua opinião, e eu tenho o direito de, depois de a ouvir, ter uma opinião sobre a opinião dele, e criticá-la. Foi só isso que fiz." pelo autor do post.
A liberdade de expressão é tal qual como arrear o calhau em plena Rua Augusta. Todos temos o direito de o fazer, mas será que devemos ?
A liberdade de expressão é um meio, não um fim, e parece-me impressionante que tanta gente ainda não tenha percebido isso.Se nos ficamos pelo estúpido "não concordo com o que dizes mas defenderei o direito de o dizeres", estúpidos ficamos. Tão óbvio quanto a inaptitude para o futebol de Naby Sarr, é o facto de a expressão da mente humana se querer livre. Porque só assim nos podemos levantar da lama primordial onde todas as outras bestas da criação chafurdam alegremente. Aceitar a discussão só porque o outro grunho tem o direito a babosar idiotices, é um puro desperdício de tempo. Mais vale ir ver o Goucha mais a Cristina.
A liberdade de expressão é um meio, não um fim, e parece-me impressionante que tanta gente ainda não tenha percebido isso.Se nos ficamos pelo estúpido "não concordo com o que dizes mas defenderei o direito de o dizeres", estúpidos ficamos. Tão óbvio quanto a inaptitude para o futebol de Naby Sarr, é o facto de a expressão da mente humana se querer livre. Porque só assim nos podemos levantar da lama primordial onde todas as outras bestas da criação chafurdam alegremente. Aceitar a discussão só porque o outro grunho tem o direito a babosar idiotices, é um puro desperdício de tempo. Mais vale ir ver o Goucha mais a Cristina.
domingo, 18 de janeiro de 2015
Vocês podem ser o Charlie Hebdo, mas
eu não sou, e tento não ser, o Charlie Hebdo. Primeiro, porque o humor é rasco e segundo, porque tem como único objectivo ofender os visados. Típico de adolescentes. E não sou o único a pensar assim, visto que antes do ataque os tipos estavam com dificuldades em pagar as contas. Parece que, ao contrário dos lamúrios do alf, o mercado das ideias ainda vai revelando alguma racionalidade. O dinheiro que os manos Kouachi gastaram em kalashnikovs e lança foguetes, era mais bem empregue a comprar o Charlie para depois mudar a linha editorial.
Esta história toda impressionou-me, não pela proximidade, mas porque pura e simplesmente não consigo compreender o que levou os tipos a fazer isto. Ou os que os camaradas deles se preparavam para fazer na Bélgica. Por partes.
As atrocidades que vão sendo cometidas na Nigéria, Síria, Iraque, Paquistão, etc, fazem todo o sentido. São senhores da guerra a tentar alargar o pátio. Não deixam de ser atrocidades, e todos, em conjunto com os débeis mentais que no Facebook colocaram a bandeira do ISIL, merecem como destino uma vala comum bem regada de cal. Mas ao menos eu percebo o que os move.
Agora os tipos que fazem estas merdas na Europa, isso já é algo que eu não consigo entender. A razão oficial é infantil: sentiram-se ofendidos com caricaturas. Poderão existir outros motivos, que eu por ignorância desconheço. Em verdade vos digo irmãos que tenho andado bem mais ocupado a ler sobre paradigmas de computação e não me tem sobrado tempo para radicalismos muçulmanos. Mas mesmo que a minha ignorância possa ser a chave da minha incompreensão, também é certo que eu nunca consegui perceber o mal.
Ou seja, eu entendo o ódio (olá José Sócrates) e o desejo de violência física contra terceiros (bom dia Paulo Portas). Mas o mal, a pura essência da maldade, essa tenho sérios problemas em compreender. Serão graves deficiências psicológicas, serão as vicissitudes da vida?
Há uns tempos tive esta discussão com autóctone, cuja tese de doutoramento em história tinha sido o comportamento dos nazis belgas no pós-guerra. Ele não percebia porque é que pessoas que tinham, não só saudado os soldados alemães como dado ainda o corpo ao manifesto na campanha, não mostravam um pingo de vergonha pelos actos criminosos que foram cometidos na época. Não chegámos a uma conclusão, em parte porque nos perdemos a tentar definir o que era o mal. E quando conseguimos, não fomos capazes de aplicar a definição.
Portanto de volta à estaca zero. O que leva esta gente a fazer isto ?
Esta história toda impressionou-me, não pela proximidade, mas porque pura e simplesmente não consigo compreender o que levou os tipos a fazer isto. Ou os que os camaradas deles se preparavam para fazer na Bélgica. Por partes.
As atrocidades que vão sendo cometidas na Nigéria, Síria, Iraque, Paquistão, etc, fazem todo o sentido. São senhores da guerra a tentar alargar o pátio. Não deixam de ser atrocidades, e todos, em conjunto com os débeis mentais que no Facebook colocaram a bandeira do ISIL, merecem como destino uma vala comum bem regada de cal. Mas ao menos eu percebo o que os move.
Agora os tipos que fazem estas merdas na Europa, isso já é algo que eu não consigo entender. A razão oficial é infantil: sentiram-se ofendidos com caricaturas. Poderão existir outros motivos, que eu por ignorância desconheço. Em verdade vos digo irmãos que tenho andado bem mais ocupado a ler sobre paradigmas de computação e não me tem sobrado tempo para radicalismos muçulmanos. Mas mesmo que a minha ignorância possa ser a chave da minha incompreensão, também é certo que eu nunca consegui perceber o mal.
Ou seja, eu entendo o ódio (olá José Sócrates) e o desejo de violência física contra terceiros (bom dia Paulo Portas). Mas o mal, a pura essência da maldade, essa tenho sérios problemas em compreender. Serão graves deficiências psicológicas, serão as vicissitudes da vida?
Há uns tempos tive esta discussão com autóctone, cuja tese de doutoramento em história tinha sido o comportamento dos nazis belgas no pós-guerra. Ele não percebia porque é que pessoas que tinham, não só saudado os soldados alemães como dado ainda o corpo ao manifesto na campanha, não mostravam um pingo de vergonha pelos actos criminosos que foram cometidos na época. Não chegámos a uma conclusão, em parte porque nos perdemos a tentar definir o que era o mal. E quando conseguimos, não fomos capazes de aplicar a definição.
Portanto de volta à estaca zero. O que leva esta gente a fazer isto ?
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
Eu também sei fazer gráficos
para desenfastiar das mamas da Alexandra, a variação do desemprego (em % da população activa) sobreposto com o Salário Mínimo Nacional (SMN) a preços constantes. Valores do PORDATA, a base de referência é o ano de 1983:
Em mais de 20 anos, o SMN aumentou quase dez vezes enquanto o desemprego praticamente nem piou. E quando o fez foi a partir da crise mundial de 2008. Portanto ou estamos a falar de (ou a graficar) coisas diferentes ou não existe relação directa, linear entre estas duas variáveis.
Em mais de 20 anos, o SMN aumentou quase dez vezes enquanto o desemprego praticamente nem piou. E quando o fez foi a partir da crise mundial de 2008. Portanto ou estamos a falar de (ou a graficar) coisas diferentes ou não existe relação directa, linear entre estas duas variáveis.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
Com quantas palavras se descreve um problema?
Os compêndios, manuais, breviários, conjuntos de regras, bíblias, listas telefónicas, sobre as famigeradas leis da escrita perfeita têm estado na ordem do dia, não sei se devido ao triunfo comercial do modelo «se podes foder-te em companhia, para quê perder mais tempo a tentar fazê-lo sozinho?» ou se por colonização massiva do espírito computacional sobre as nossas melancólicas cabeças, a saber, uma obsessão incontrolável em reduzir tudo a um algoritmo manejável pelas máquinas, não querendo, de modo algum, cometer aqui a superficialidade de explicar o fenómeno por meio da infecciosa proliferação do grande capital.
Como alternativa, este magnífico texto apresenta uma invejável síntese do mais assustador zombie da literatura moderna, a saber, uma suposta ideia de maior verosimilhança patente no pechisbeque psicologista, ou seja, uma escrita que faz do fluxo da consciência (mas que raio é essa merda?) a única forma de retratar os abismos da personalidade humana. Não entro sequer pela crítica de uma suposta profundidade da consciência (e o sublinhado é nosso), devido às minhas evidentes limitações em topologia, mas tendo em conta o sucesso comercial dos livros de António Damásio (como todos sabem, um dos piores presidentes da história do Benfica) já seria o momento do venerável público assumir que a ideia de consciência é tão inefavelmente paneleira como a de alma ou de personalidade, no fundo, um outro nome para a nossa puta ignorância sobre nós mesmos, numa frase que poderíamos atribuir ao grego Samaris, ou a Herberto Helder, com toda a certeza, um gajo que torce pelo Sporting.
Por outras palavras, quem já se confrontou com livros de divulgação na área das neurociências (e tendo em conta que a Leonor Beleza seria em nova uma gaja com um certo nível de agressividade morfológica, de um ponto de vista do homem sensível) sabe perfeitamente como os mais reputados génios da especialidade, não fazem ponta de ideia acerca do que seja a consciência. Mesmo a descrição do seu funcionamento (pelas mãos de um Gazzaniga, gajo menos espalhafatoso do que o António Damásio - e não lhe perdoamos a contratação de Artur Jorge) corre o risco de se assemelhar mais à descrição do funcionamento de uma máquina retroprojetora de transparências (e lembrei-me agora de umas aulas sobre arte rupestre dadas pela reencarnação da Marlyn Monroe, uma gaja de quem toda a Universidade dizia ter galgado o estrado do ensino académico por motivos obscuros, digamos assim) do que à descrição de um organismo vivo, qualquer que seja a definição de organismo vivo, não me fodam agora o juízo com duas questões fodidas em simultâneo, ainda que a indústria pornográfica muito nos tenha ensinado sobre essa matéria.
Em suma, estamos a secar o terreno da ficção publicável, por estarmos todos fodidos do miolo, e não há gajo nem gaja (do Chef'sAcademy ao Factor X, do Alta Definição paneleiro Oliveira à Casa das espetaculares mamas da Sofia, sejamos rigorosos, passando pelo comentário do professor Rebelo de Sousa heil hitler) repito, não há gajo nem gaja, capaz de aguentar cinco minutos de oratória confessional televisiva sem incorrer nas lágrimas, apostando eu que isto se deve a não encontrarmos solução original para os nossos problemas, que é como quem diz, uma voz própria, foda-se, caralho, quando nada nos impediria de procurar um caminho, veja-se o caso de Tolstoi (outro merdas) que via na infelicidade da adúltera sentimental um maior emblema distintivo do aquele representado pela mulher desinibida disposta a vender o corpo de forma especializada e profissional, o que não o impediu - justiça lhe seja feita - de nos falar com uma cristalina objetividade, pelo que, pergunto, teriam os russos à época um «mestre de gramática armado com régua de madeira» em lugar de um cérebro habitado por uma consciência?
Do meu triste ponto de vista, tudo se deve à imaginação lunática de uns quantos literatos que encostados à parede pelas circunstâncias específicas da sua vida (e tanto Joyce como Proust se envenenaram o suficiente com a ideia platónica de alma) deram em ressuscitar a parafernália sentimental do cristianismo sob a forma científica e mecânica da consciência, esse esgoto a céu aberto.
Do meu triste ponto de vista, tudo se deve à imaginação lunática de uns quantos literatos que encostados à parede pelas circunstâncias específicas da sua vida (e tanto Joyce como Proust se envenenaram o suficiente com a ideia platónica de alma) deram em ressuscitar a parafernália sentimental do cristianismo sob a forma científica e mecânica da consciência, esse esgoto a céu aberto.
I believeit is also worth pointing out that (for some sections of the novel especially),a tweet feels like (and, tripping off the tongue, even sounds like) the idealdelivery mechanism for a fractured stream-of-consciousness monologue, an artJoyce didn’t invent but certainly cemented and codified as a literary techniqueof incredible aesthetic potential. Ulysses is, in some sense, about thefragmentation of thought and culture in the modern world — a panoramic snapshotof human minds in 1904.
Logicamente, a literatura vive da descrição das coisas, 1) por uso da inteligência, e 2) com recurso ao alfabeto, as únicas regras passíveis de serem formuladas com total segurança. Quanto ao estilo e tamanho das descrições, esperamos sempre esfomeadamente esse divino momento em que alguém, libertando-se em vertigem, tanto do medo do abismo como da consolação da esperança, decide expressar-se, mandando-vos a todos vós, venerando e respeitável público, para o caralho que vos foda.
Logicamente, a literatura vive da descrição das coisas, 1) por uso da inteligência, e 2) com recurso ao alfabeto, as únicas regras passíveis de serem formuladas com total segurança. Quanto ao estilo e tamanho das descrições, esperamos sempre esfomeadamente esse divino momento em que alguém, libertando-se em vertigem, tanto do medo do abismo como da consolação da esperança, decide expressar-se, mandando-vos a todos vós, venerando e respeitável público, para o caralho que vos foda.
A deslumbrante leitora de Marcel Proust, Vittoria Risi.
Subscrever:
Mensagens (Atom)