Blogue Ciberescritas (http://blogues.publico.pt/ciberescritas/) da jornalista Isabel Coutinho, Ipsilon/suplemento cultural (risos, risos) do Público/ Grande Capital/Espírito Santo Finance/Sonae, SA/Tony Carreira/Instituições/As forças do mal, etc, etc.
Parece que efectivamente, contudo, morreu o companheiro de Marguerite Duras. Este tema levaria a colocar em perspectiva a ascensão da mulher no mercado do livro, quer enquanto consumidora, quer enquanto autora, quer enquanto crítica, quer enquanto unidade de potência, quer ainda enquanto força de tracção à retaguarda. No entanto, somos forçados a admitir que as coisas vão muito mal, quer dizer, vão muito bem, uma vez que nos é dado sempre experimentar a áspera e salgada língua da realidade.
Poderemos extrair de um irrelevante evento da vida da, portanto, já falecida Marguerite Duras, algo de substancial? No caso de uma potencial e impotente resposta afirmativa, poderemos, nesse caso, e efectivamente, apenas concluir alguma coisa acerca da pertinência do artigo recentemente publicado no Público pela sempre bela, helénica e atractiva (a julgar pelas fotografias) Isabel Coutinho (que esperamos, em Cristo, não ser relacionada geneticamente com a família Pereira Coutinho, a bem de Portugal, de Fátima e da necessária aleatoriedade dos poderes cósmicos do Universo).
Poderemos extrair de um irrelevante evento da vida da, portanto, já falecida Marguerite Duras, algo de substancial? No caso de uma potencial e impotente resposta afirmativa, poderemos, nesse caso, e efectivamente, apenas concluir alguma coisa acerca da pertinência do artigo recentemente publicado no Público pela sempre bela, helénica e atractiva (a julgar pelas fotografias) Isabel Coutinho (que esperamos, em Cristo, não ser relacionada geneticamente com a família Pereira Coutinho, a bem de Portugal, de Fátima e da necessária aleatoriedade dos poderes cósmicos do Universo).
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/yann-andrea-companheiro-de-marguerite-duras-morreu-aos-63-anos-1662528
(é que já nem um link sei introduzir nesta merda)
Tentaremos neste breve intervalo da nossa tragédia profissional responder a esta elegante, pretensa e ociosa, questão: qual o interesse para o público de uma notícia sobre a morte do companheiro da escritora Marguerite Duras? Evidentemente, nenhum. Todavia, o jornalismo insiste em fazer dos suplementos culturais a coutada da sobrevivência das espécies nacionais em extinção, nomeadamente, os funcionários e colaboradores dos jornais. Se isto é iniciativa privada, venha a função pública em todo o seu vibrante esplendor, paramentada de roxo e ajaezada à Andaluza. Claro que os leitores mais versados em Paulo Coelho, ou noutra qualquer quincalharia psicológica mais sofisticada, estarão agora a arquear a felpuda sobrancelha, exclamando: este gajo (ou seja, eu) quer é ir para lá. Nada mais errado. Eu quero é que não me venham foder a paciência com a ideia da justiça e da sustentabilidade dos projectos mediáticos, que isso sim, me inferniza a vida e a de todos os que pretendem sobreviver (sem lamber o cu ao sistema mediático-editorial) pelo uso das faculdades mentais, nomeadamente no uso inteligente do alfabeto e da narrativa.
Vi em diversos espaços culturais, sem excepção do facebook, menções aos Cavalos de Tarquínia da autoria de Marguerite Duras, livro que tenho todo o gosto em nunca ter metido as mãos. Gostaria contudo, e portanto, de muito ter sido convencido pelo artigo de Isabel Coutinho. No entanto, e infelizmente, os livros continuam a ser entendidos pelas pessoas dos livros como objectos sem capacidade para marcar a agência noticiosa, pois a mesma encontra-se saturada pelos eventos biologicamente associados aos autores dos livros. Por outras palavras, as pessoas que vivem à custa dos livros, continuam a não estar dispostas a morrer pelos livros, razão pela qual, e não me canso de dizer isto, Cervantes já ridicularizava o romance como destino comportamental. Quer dizer que um gajo a quem a guerra e a puta da vida decepara um braço em batalha, estava disposto a sofrer, apesar de tudo, por um destino cujo fim último seria a ambiguidade, o equívoco, e depois, o esquecimento, última estação de todo o animal falante.
Contudo, os comerciantes do livro são os primeiros a enterrar as propriedades do livro num monte de contradições, contribuindo para a misteriosa evolução da natureza, sem que nenhum deles, ou mesmo nós, possamos resolver o irremediável labirinto de erros, razão que nos deveria levar a maior prudência nos actos, mas de caminho temos de almoçar. Isto é muito mais do que trágico, isto é Impulse. A bondosa jornalista Isabel Coutinho, estimulada pelo chefe, e o próprio chefe, estimulado por uma percepção dos gostos dos indivíduos, ou muito pior, a jornalista Isabel Coutinho, ela própria, convicta da importância da morte do companheiro de Marguerite Duras, decide gastar o caríssimo e acossado espaço da imprensa generalista para nos brindar com bugigangas reais (meu deus, reais, reais) a propósito da vida sexual (eventualmente, eventualmente) do companheiro da escritora Marguerite Duras, ela própria tão estimulante sexualmente como uma melancia. Bem, talvez a melancia, enfim.
Quero portanto concluir, com júbilo e ao som de trombetas, que o artigo jornalístico de Isabel Coutinho não é muito melhor do que O poder do amor, programa de entretenimento da SIC generalista, ao entronizar a realidade como produto cultural, dando-se ao jogo mortal (por fraqueza de raciocínio e homérica ignorância) de uma suposta eficácia económica baseada na visão sobre o papel dos sentidos e dos afectos nas relações de comunicação entre orgãos mediáticos e público. Claro que esta merda vai desabar a qualquer momento, mas enquanto não desaba, eu passo por maluquinho e a realidade passa por ajustada à «realidade». Ou seja, está em marcha um triunfo sensacionalista do sensualismo moderado, e seria interessante avaliar o papel das mulheres nesta evolução. Fariam os estúpidos dos homens melhor? Claro que não. Em primeiro lugar, não pretendo, deus me livre, fazer aqui qualquer apologia da relação entre sagacidade crítica e orgãos genitais masculinos. Em segundo lugar, o fenómeno é por demais complexo para que possa conferir-se às mulheres uma unidade de intenções ou uma planificação dos produtos culturais. Não pode contudo negar-se que há qualquer coisa de diverso num certo triunfo da novela/romance/amor enquanto tragédia dos afectos moderados, de longo prazo, bem como dos cálculos de segurança e previsão do lar, por oposição à novela/romance/amor enquanto tragédia do desejo apolíneo, violento, efémero, múltiplo, destrutivo, sistemático, artificial, irónico, anti-natural e anti-reprodutivo, e por isso, tido como anti-humano.
Contudo, os comerciantes do livro são os primeiros a enterrar as propriedades do livro num monte de contradições, contribuindo para a misteriosa evolução da natureza, sem que nenhum deles, ou mesmo nós, possamos resolver o irremediável labirinto de erros, razão que nos deveria levar a maior prudência nos actos, mas de caminho temos de almoçar. Isto é muito mais do que trágico, isto é Impulse. A bondosa jornalista Isabel Coutinho, estimulada pelo chefe, e o próprio chefe, estimulado por uma percepção dos gostos dos indivíduos, ou muito pior, a jornalista Isabel Coutinho, ela própria, convicta da importância da morte do companheiro de Marguerite Duras, decide gastar o caríssimo e acossado espaço da imprensa generalista para nos brindar com bugigangas reais (meu deus, reais, reais) a propósito da vida sexual (eventualmente, eventualmente) do companheiro da escritora Marguerite Duras, ela própria tão estimulante sexualmente como uma melancia. Bem, talvez a melancia, enfim.
Quero portanto concluir, com júbilo e ao som de trombetas, que o artigo jornalístico de Isabel Coutinho não é muito melhor do que O poder do amor, programa de entretenimento da SIC generalista, ao entronizar a realidade como produto cultural, dando-se ao jogo mortal (por fraqueza de raciocínio e homérica ignorância) de uma suposta eficácia económica baseada na visão sobre o papel dos sentidos e dos afectos nas relações de comunicação entre orgãos mediáticos e público. Claro que esta merda vai desabar a qualquer momento, mas enquanto não desaba, eu passo por maluquinho e a realidade passa por ajustada à «realidade». Ou seja, está em marcha um triunfo sensacionalista do sensualismo moderado, e seria interessante avaliar o papel das mulheres nesta evolução. Fariam os estúpidos dos homens melhor? Claro que não. Em primeiro lugar, não pretendo, deus me livre, fazer aqui qualquer apologia da relação entre sagacidade crítica e orgãos genitais masculinos. Em segundo lugar, o fenómeno é por demais complexo para que possa conferir-se às mulheres uma unidade de intenções ou uma planificação dos produtos culturais. Não pode contudo negar-se que há qualquer coisa de diverso num certo triunfo da novela/romance/amor enquanto tragédia dos afectos moderados, de longo prazo, bem como dos cálculos de segurança e previsão do lar, por oposição à novela/romance/amor enquanto tragédia do desejo apolíneo, violento, efémero, múltiplo, destrutivo, sistemático, artificial, irónico, anti-natural e anti-reprodutivo, e por isso, tido como anti-humano.
O mais relevante, neste tipo de problemas, é a existência de uma ideia de sustentabilidade económica, de burrice estratégica, de enviesada concepção da natureza, ao entender o jornalismo da obra de ficção como sujeito às mesmas leis da comunicação de acidentes ou eventos de sociedade, em si, um sub-produto das gazetas e crónicas aristocráticas do século XVII. O livro de ficção é o contrário do jornalismo, e se isto não é claro para um jornalista, devia ao menos servir como um supositório anti-febril. Meteu-se na cabeça das pessoas que escrever sobre livros do passado não faz parte da actualidade actuante, e de caminho mergulha-se na necrologia de sub-produtos da vida mental dos escritores. Ou estão o Jornal Público e a Isabel Coutinho convictos da importância deste incidente (a morte do não sei quantos) na vida biológica mundial, ou, naturalmente, teriam de assumir a sua vocação quixotesca e analisar os problemas (o que é um texto? a quem se dirige? que instrumentos usa? que comportamentos induz? em que pressupostos lógico-científicos se baseia? propõe explicações para a tragédia da indecisão humana, etc, etc) mesmo que para tal fossem forçados a trabalhar um pouco mais a linguagem. Gostaria de lembrar que enquanto Cervantes escreveu merdolas a gosto, cirandou pelos becos, e quando escreveu a sua imortal paródia, alcançou o sucesso comercial. Não sou ingénuo ao ponto de pensar que existe um Cervantes potencial em cada jornalista/colaborador do Público. Em todo o caso, acredito na inteligência das pessoas.
Palpita-me que, como em muitas outras coisas, o problema reside neste entroncamento: o trabalho custa. Ao ser necessário introduzir mecanismos retóricos (humor, sensacionalismo) no tratamento dessas questões, para além do domínio das mesmas referidas questões (e passo a repetir: o que é um texto? a quem se dirige? que instrumentos usa? que comportamentos induz? em que pressupostos lógico-científicos se baseia? propõe explicações para a tragédia da indecisão humana) o jornalismo entende ser mais democrático entregar ao público o que o público, supostamente, já conhece, incorrendo, o referido jornalismo, na ideia de que o jornalista não é um professor mas apenas um simples e humilde mensageiro. Esta é, porém, a terrível ferida mortal por onde sangra o jornalismo: nesse caso, o jornalismo deixou de ser necessário, pois somos todos jornalistas, razão pela qual os jornais se estão a foder à grande e à francesa.
Que a política (luta pelos orçamento de Estado) incorra nesta demagogia infértil, desculpa-se com um certo conhecimento dos vários totalitarismos, um pouco de boa vontade e alguma vaselina. Que o façam os jornalistas culturais, sempre prontos a choramingar atenção diferenciada para a cultura, constitui-se como uma realidade chocante. Deste modo, e continuando a festa, não virá ao mundo nenhuma decadência moral pelo facto de os livros desaparecerem da nossa paisagem mediática, nem sequer se forem eliminados, por completo, das nossas ferramentas digitais e dos nossos hábitos de consumo. Não incorro sequer no tremendismo das críticas ao inevitável empobrecimento da linguagem se os textos literários se virem extintos às mãos, digitalmente adestradas, de universitárias mamalhudas, cheias de sonhos e esperanças, que fazem do terrorismo ortográfico o mais doce dos cantos. Só não admito que imputem à natureza e ao progresso o que só à burrice, e à trágica liberdade, dos homens e das mulheres diz respeito.
Palpita-me que, como em muitas outras coisas, o problema reside neste entroncamento: o trabalho custa. Ao ser necessário introduzir mecanismos retóricos (humor, sensacionalismo) no tratamento dessas questões, para além do domínio das mesmas referidas questões (e passo a repetir: o que é um texto? a quem se dirige? que instrumentos usa? que comportamentos induz? em que pressupostos lógico-científicos se baseia? propõe explicações para a tragédia da indecisão humana) o jornalismo entende ser mais democrático entregar ao público o que o público, supostamente, já conhece, incorrendo, o referido jornalismo, na ideia de que o jornalista não é um professor mas apenas um simples e humilde mensageiro. Esta é, porém, a terrível ferida mortal por onde sangra o jornalismo: nesse caso, o jornalismo deixou de ser necessário, pois somos todos jornalistas, razão pela qual os jornais se estão a foder à grande e à francesa.
Que a política (luta pelos orçamento de Estado) incorra nesta demagogia infértil, desculpa-se com um certo conhecimento dos vários totalitarismos, um pouco de boa vontade e alguma vaselina. Que o façam os jornalistas culturais, sempre prontos a choramingar atenção diferenciada para a cultura, constitui-se como uma realidade chocante. Deste modo, e continuando a festa, não virá ao mundo nenhuma decadência moral pelo facto de os livros desaparecerem da nossa paisagem mediática, nem sequer se forem eliminados, por completo, das nossas ferramentas digitais e dos nossos hábitos de consumo. Não incorro sequer no tremendismo das críticas ao inevitável empobrecimento da linguagem se os textos literários se virem extintos às mãos, digitalmente adestradas, de universitárias mamalhudas, cheias de sonhos e esperanças, que fazem do terrorismo ortográfico o mais doce dos cantos. Só não admito que imputem à natureza e ao progresso o que só à burrice, e à trágica liberdade, dos homens e das mulheres diz respeito.
Cavalos de Tarquínia, ao que parece, fabulosa escultura etrusca, terra das imortais italianas de longas pernas e ágil língua.