«a objetividade, esse andrógino fantasma jornalístico»
Rogério Casanova, Trabalhos de Casa
I
A primeira e devida vénia prestada em forma de pastiche, aquele que julgo ser o segundo maior autor de língua portuguesa vivo, corresponde ao reconhecimento de que precisamos uns dos outros, nomeadamente, para continuar a alimentar esperanças sobre a vital e impreterível importância da criatividade humana; e isto, por si só, constitui a negação da mais estafada e cantada cantilena da modernidade: a discrição (em termos matemáticos) da vontade individual como explicação da história.
Com efeito, ou nos salvaremos juntos ou morreremos juntos, é esta a nossa terrível maldição como muito bem têm ensinado as Tribos, as Igrejas, as Universidades, os Partidos Políticos, os Ranchos Folclóricos e os Clubes de Futebol. Como notará o leitor erudito deste blogue, abre o presente texto com subliminar referência às maravilhas do cruzamento genético, ainda que com romântica ascendência, entre o fervoroso adepto do Sporting, tão só envergando como defesa a tatuada historiografia do seu sofrimento, e os efeitos nefandos, por epidémica multiplicação, dos presidentes sportinguistas oriundos do grande capital, nomeadamente a banca. Sendo o Sporting um clube cuja génese e existência se deve, essencialmente, à sobrevivência das camadas socio-monárquicas do nosso «tecido no vale do ave social», parece-me que estamos, portanto, e lamentavelmente, na presença de um perturbante e perigoso, para a epistemologia portuguesa, equívoco.
Quero antes de mais, se me for permitido, deixar uma nota prévia de interesse declarado, ainda antes de se me acabar a vontade de vos dizer alguma coisa. Tenho na minha família populares pessoas infectadas com o lamentável vírus do sportinguismo (irmã e tio ex-combatente da guerra colonial) pelo que estou habilitado a incorrer em território inimigo, escolhendo para o efeito um texto de maradona sobre Bruno de Carvalho, sem prejuízo de um outra referência diversa.
A crítica do inconfundível estilo de maradona deve começar por destacar, desde logo, como fazendo uso do fluxo da consciência (joyceano) o referido maradona optou por abandonar a narrativa, invadindo o registo jornalístico, com notáveis realizações e fecunda originalidade. Passemos em revista alguns aspectos formais pelo que contêm de iluminador para as letras portuguesas.
A qualidade das metáforas utilizadas por maradona asseguram ao leitor aquilo a que Calvino chama o uso especializado de códigos metafóricos, sejam o geográfico, o futebolístico ou o religioso. O que conta sempre em maradona é a eficácia da mensagem, como quando se compara com pertinência o campeonato do mundo a uma «celebração que se reacende» ou quando se referem «a verdade profética da mensagem» e a «natureza apostólica da batalha» de Bruno de Carvalho, duas qualificações bem ritmadas de ressuscitação do aparato instrumental da linguagem bíblica. Por outro lado, ninguém ignorará que a maior virtude dos textos de maradona (mas também de Sérgio Gouveia e Rogério Casanova) se prende com a desfamiliarização, não das metáforas, mas do protocolo da linguagem formal da ciência, que é meticulosa, objectiva e procedimental.
No caso de maradona, o escritor desloca, transforma, rebenta, em suma, reconstrói, a torto e a direito, a própria arquitectura gramatical, sugerindo como um cientista pode também, ou sobretudo, expressar conhecimento com os cacos do laboratório que acaba de partir, fazendo uso de um martelo; a dificuldade está em dispor os cacos de forma a reconstruir o conteúdo semiótico de uma mensagem, tornando-a ainda mais original, rigorosa e pessoal, do que seria possível fazendo uso dos equipamentos vulgares da experiência convencional utilizando um laboratório intacto. Ao utilizar a analogia da demolição do laboratório, quero apontar para uma linguagem «partida», precisamente porque é num contexto aparente de escombros sintácticos, que maradona recupera a nobreza da comunicação com uma convicta fé no poder expressivo da língua como veículo capaz de albergar tanto os perigosos poderes da beleza como a generosa fecunidade do conteúdo. Isto só confirma como maradona está familiarizado com o problema da poesia depois de Auschwitz, e como também está absolutamente convicto da irrelevância, ou pelo menos da esterilidade, dos dramáticos debates causadores de vãos esgotamentos nervosos, a jovens e belas estudantes de filosofia que apertam contra o peito uma obra de Wittgenstein; maradona não ignora como podem ser mortais os pântanos fumegantes da ambiguidade, cada vez mais húmidos e lamacentos a cada nova leitura de uma frase difícil; simplesmente acredita que se poderia ter dado melhor uso a tão torturados peitos.
Considere-se o seguinte excerto referente aos presidentes do Sporting anteriores a Bruno de Carvalho:
pessoas que (por fim) refletem cientificamente sobre a filiação clubística que um adepto do futebol sente pelo seu clube em termos puramente de evidência - a que estamos condenados e a que não podemos fugir -; pessoas destas, queria eu estar a dizer, pró caralho, ou seja, isso mesmo.
O que à partida parece uma construção encavalitada não é mais do que uma experiência da própria capacidade de ultrapassar a incomunicabilidade da linguagem, precisamente o contrário do que o texto parece sugerir. Expliquemos melhor este relevante mecanismo. A ideia da incomunicabilidade é um terrível vício do século XX, já execrado pelo fabuloso, nobre e sempre elegante Primo Levi. Se as mais trágicas exterminações da história podem ser alvo de uma expressão pública dos seus efeitos, em termos de linguagem, e com inegáveis virtualidades de compreensão, porque razão não se poderá expressar a seguinte ideia: que o aparente discurso racional da qualidade da gestão, que não era mais, no caso do sporting, do que um prolongamento da famigerada teoria da escolha racional aplicada ao fenómeno desportivo, pode ser combatido (esse discurso frio e científico de um amor ponderado e racional pelo sporting, mantido como mero intervalo de uma vida concentrada na acumulação de capital) pode ser combatido, dizíamos nós, pela demolição das próprias regras locutórias, utilizando o elenco frio, cirúrgico e formal da linguagem científica, tanto no conteúdo como na forma, ilustrando como a inteligência nos pode proteger da infelicidade decorrente de uma paixão descontrolada, e isto como anestesiando o leitor, após tê-lo conduzido pela mão entre os corredores desinfectados, para o precipitar em seguida, numa morgue repleta de horrores, mostrando como se queria no fundo, e desde o início, enviar as pessoas defensoras de tais teorias «pró caralho», sendo a vida também feita de imponderabilidades e imprevistos, paixões, decisões abruptas e inexplicavelmente inexplicáveis.
Como diria um filósofo que não aprecio particularmente, Paul Ricoeur, a solidão da vida é aí (nessa expressão pública de uma vertiginosa linguagem, invulgar e imprevisível, oriunda do movimento de uma inteligência) iluminada, por um momento, pela luz comum do discurso, transferindo a corrente de uma consciência particular para muitas outras correntes de consciência, tornando o sentido um objeto público, passível de crítica, e pronto a entrar na memória colectiva, pelo trabalho crítico da comunidade, de forma a constituir uma memória mais alargada dos instrumentos e formas possíveis da arte de comunicação, a serem utilizados por futuros expressionistas da sua consciência. Se fossem necessárias citações académicas para assinalar a qualidade textos de maradona (mas também dos outros participantes no blogue que aqui se comenta, Rogério Casanova e Sérgio Gouveia), bastaria invocar o conceito de qualidade artística apresentado por Umberto Eco (e isto para voltarmos a autores italianos, os principais candidatos à vitória em qualquer campeonato do mundo, e a nação onde as mulheres provocam o desfalecimento de qualquer mortal só por se inclinarem ao balcão e pedirem um copo de água) nomeadamente, a qualidade artística como decorrente da baixíssima frequência de redundâncias e de um altíssimo grau de imprevisibilidade da informação. Passo a exemplificar com a resposta de maradona a uma pergunta, onde se arriscava uma comparação entre o equipamento da selecção e um pijama, notoriamente uma péssima comparação, sendo que a resposta comporta toda uma teoria aristotélica da analogia como uma arma, objectiva e eficaz, para identificar semelhanças e produzir novo e acutilante conhecimento sobre a realidade:
A comparação com
“pijama” para denegrir uma determinada indumentária fez-me lembrar as
sequências de tesouras que o Denilson proferia sobre a bola quando se sentia
pressionado a tentar relembrar a audiência da razão porque, num dia pretérito e
louco, foi considerado um grande jogador em potência; assim como a fadiga das
tesouras inconsequentes estupidamente me alergizaram contra toda a dança que as
recordasse, também a saturação da analogia “pijama” me leva ao instinto de
imediatamente me seduzir a ideia de andar de pijama pela rua, o que sucederá de
seguida quando for despejar o lixo de quatro dias e três cabeças de pescada.
II.
Quer isto dizer que a invocação de um sportinguismo mais profundo, mais verdadeiro, mais democrático, mais santo, mais digno, mais fraterno, mais gay, mais socialista e de esquerda, mais popular e mais autêntico, por parte de um clube cuja força decorre (como a de todos os outros clubes, diga-se em passagem) da shakespereana capacidade de construir um inimigo, dificilmente pode suceder em sucesso, utilizando apenas as mesmas e cuspidas armas envergadas pelo mesmo, isto é, o inimigo, e a saber, o amor popular, incondicional e santo que as camadas ululantes e totalmente ensandecidas nutrem pelo Sport Lisboa Jhavé e Benfica. No entanto, não lembraria a ninguém justificar as derrotas ou vitórias de um clube de futebol, sujeito às leis de um jogo, com as qualidades etnográficas dos seus presidentes (já sei, já sei), pois isso seria ignorar aquela lei fundamental da vida: a absoluta ausência de relação entre as qualidades de um indivíduo e o seu sucesso, desesperante conclusão, perturbadora evidência, diante da qual a maioria foge atemorizada, e que como todos sabem é o grande amor da minha vida.
Não ignoro que preside ao elogio de Bruno de Carvalho a ideia de que o sportinguismo do presidente foi e é necessário, para levar de vencida a escassez de sportinguismo dos restantes presidentes, ou de que a ausência de rendimentos outros transforma Bruno de Carvalho num mártir comprometido com a única grelha onde, por meio da sua fritada carne, poderá ascender aos céus. O problema é a extrema pobreza desta lógica apresentada em opa de ouro roçagante, gemas várias e luminosa pedraria. Os caros leitores aprenderão que aqui se trava um combate mortal contra todos os vícios de linguagem: os da pobreza e os da riqueza, não fazemos acepção de pessoas.
Estou portanto a tratar de um doloroso tema, nomeadamente, a forma incauta, irresponsável, gigantonte e vaidosa, como o sportinguista se prepara para a sua fase demagógica e suicida, movido pelo desejo e a paixão (esse ídolo da actualidade pós-concílio do Vaticano II) convencido de que pisa os tijolos dourados a caminho de Oz, o que não implica (aliás, tal como pode suceder ao suicida, a quem a sorte eventualmente reverteu o cognome) um irremediável (olé) caminho de infelicidade. Temos a norte do mondego uma agremiação a quem a fase demagógica, étnica e estruturalmente fanática guindou aos mais elevados sucessos, incluindo a construção do, morra o Dantas morra, sucesso internacional e tudo, pum, bem como a uma metódica recolecção de várias experiências humanas, femininas, e estéticas, por parte do seu ilustre, reverendíssimo, boçal, notável, digno e corrupto presidente. Contudo, a ideia de que a paixão é por si só uma garantia de deleite estético humano (ao contrário dos altíssimos critérios de verdade e método impostos em matéria de ciência), oferecendo-se a espontaneidade do gosto e a opinião como estrada escancarada do paraíso, está para a nossa época como os homens do lixo estão para a higiene urbana, o que nada nos diz sobre os méritos da higiene na história da salvação evolucionista (o mecanismo não é finalidade, até quando vai ser necessário ilustrar os analfabetos das ciências naturais sobre este singelo ponto? Obrigado).
A ideia de que Bruno de Carvalho compreende o desporto futebol, na sua natureza (oi) ao contrário da «paneleiragem que abunda no Sporting (...) em que se mitifica um sportinguismo primevo (...) que depois se desenvolve na compreensão do desporto e do futebol» (e logo nos vem à imagem o doutor Rui Eduardo Rogério Oliveira e Costa Barroso Alves) não representa muito mais do que chamar burros a um conjunto de pessoas, afirmando a burrice e a compreensão da natureza do futebol como dados essenciais na distinção entre um bom e um mau jogador de futebol. No mínimo estamos diante de uma pobre tautologia. No máximo, estamos na presença de um hediondo acto de fé.
Não lembra portanto às mais competentes individualidades do nosso meio físico e social (e estou no pináculo de sinceridade deste curto interregno do meu gandiano silêncio) que qualquer forma de dedução lógica (mesmo a naturalista, darwinista e, o senhor vos abençoe, a liberal-libertária) implica um pilha de pratos racio-dedutivos que a dado ponto da sua altitude se escaqueiram num mar de falácias, quando não de contumazes irrelevâncias. Por isso, ou somos convictos da nossa atracção pelo holocausto filosófico, e vamos para o caralho que nos foda, embrulhados num honroso silêncio, ou teremos que enfrentar as acusações de produção espontânea de catecismos (pejados de erros) implícita em qualquer acto locutório. Considerar que um homem se revela apropriado e catalisador de alegrias afetivas, pela simples constatação da sua paixão pelo objecto que lhe permite a notoriedade (e da nossa paixão por ele, em face do nosso amor pelo objecto, de onde decorre a aparente e referida notoriedade do nosso referido homem) além de uma incomensurável paneleirice, não passa de uma pura perda de virilidade metafísica, à la Emanuel Kant esteja connosco. Os resultados promissores alcançados por esse referido homem, Bruno de Carvalho, quanto a mim, não qualificam de forma alguma o futuro como passível de classificações, o que não só assinala como a força do Benfica deriva de uma total indiferença pela racionalização dos aspectos administrativos do jogo como confirmam fatalmente como não ligo a mínima importância aos sinais da realidade, razão pela qual tenho o dobro do cuidado ao atravessar linhas ferroviárias.
O que eu preconizo como estilo de vida e como filosofia do ambiente é uma definitiva e cabal constatação da nossa limitada condição intelectual (uma espécie de castidade argumentativa, no sentido de varrer o ruído dos nossos descontrolados impulsos) cabendo aos mais responsáveis, porque mais dotados de atributos críticos e mentais, uma posição de coragem, uma nobreza, uma anti-espanholada contenção diante dos exércitos do prazer, e da proclamação, ainda que espantosamente ornamentada, dos nossos gostos, e nessa medida, julgo ser urgente o reconhecimento de que (penso eu) pelo menos desde a invenção da máquina de Turing, estamos sob uma terrível ameaça: a ideia de que o conteúdo de uma mensagem é indiferente. Isto só é verdade para efeitos de transporte, tal como não importa se um camião está cheio de cópias de Moby-dick ou da perene obra Prometo Falhar se o objectivo é considerar o tempo de deslocação entre duas cidades.
Não sei até quando vamos continuar a querer manter a nossa ignorância sobre as origens dos nossos de gustibus non est disputandum mas a criação de repúblicas constitucionais, liberais e animadas pelo centralismo democrático, devia ser matéria suficiente para se deixar de considerar que os estímulos mentais apresentados como realidade, como aliás as séries estatísticas econométricas (cuja amplitude nenhum filha da puta de Piketty ousou estudar na sua significância histórica, ou não poderia encher os benditos cornos capitalistas com o maior número de vendas de sempre da Bendita Harvard Belknap University Press) são suficientes para projectar o futuro, e muito menos justificam que consideremos que o gosto é um problema individual. A liberdade com que dizemos tolices devia ser o combustível para nos pormos a caminho de criar filtros, construídos pelo maior número possível dos tolos que somos nós todos, com que filtrar as referidas tolices, sob pena de nos atulharmos todos no lixo (porque isto, ilustres leitores, depende tanto de «nós» como das acções espontâneas do colectivo, entendendo nós por espontâneas as acções que não compreendemos e era bom que começássemos a compreender ou ainda acabamos muito mal; não esquecer além do mais que a grande maioria dos gajos que pariu o transgénero filosófico chamado liberalismo, acreditava na ordem natural e no criacionismo da natureza com especial referência ao paneleiro do ser humano, como se o universo estivesse preocupado connosco). Daqui resulta que: a) sim, a escolha de um processo de coordenação (por exemplo, um presidente de um clube de futebol) pode ser de elevada importância para a sobrevivência da colectividade; b) a sua paixão pelo clube não o qualifica como mais habilitado, não negando eu que possa coabitar em Bruno de Carvalho a paixão com as capacidades críticas; c) o acerto da estratégia, de acordo com as nossas previsões, é apenas uma tentativa que não assegura eficácia final, em face de imponderabilidade do mundo, razão pelo qual estamos metidos neste sarilho filosófico há mais de 200 anos.
Julgo que a construção, em acto, de uma hierarquia estética (essa tão injustiçada atriz pornográfica) é o dever de todo o escritor, filósofo, palhaço, defesa-esquerdo, ou artista, pelo menos do artista que não teme a turba, a história, o tempo, a poeira cósmica, o pecado, os dinossauros, os buracos negros, a evolução, o mercado, o anonimato, a democracia constitucional, a fama, a perda dela, ou qualquer outros dos demónios de papel, apresentados, desde sempre, para nos atemorizar, impedindo-nos de trilhar um caminho em defesa da nossa espécie nesta perigosa brincadeira. Isto não significa que até na descontrolada criatividade metafórica de Bruno Carvalho não existam elementos clamando por um juízo capaz de aguentar um cenário de generalização, derrubando as falsas barreiras entre juízo estético (resultante do efeito do objecto no sujeito) e juízo de conhecimento (decorrente das características do objecto), mesmo que, muito erradamente, nos pareça ser o estilo e a forma, e portanto a beleza, uma matéria do domínio da consciência individual. Falta demonstrar, o que espero fazer antes de ingressar num forno crematório, que a arte também é um objecto com características das quais é possível deduzir conhecimento sobre os seus efeitos no sujeito, hossana nas alturas.A razão pela qual Bruno de Carvalho foi constituído como mecanismo soteriológico pelos adeptos do sporting prende-se com a crença nas possibilidades salvíficas da racionalidade humana, o que está certo. Só falta convencer as pessoas em geral a considerarem uma política do juízo estético que não se restrinja à simples opinião embrulhada em papel de celofane.
No fundo, vale tudo, menos colocarmo-nos do lado da natureza. Sabemos que já os romanos sujavam as suas cansadas e nobilitadas mãos nas vísceras das aves e era espectável que tantos séculos depois nos mostrássemos capazes de fazer melhor. Que esse velho e cansado sonho continue a ser uma quimera, só demonstra como as séries estatísticas são um franco auxílio no nosso cada vez mais artilhado (e talvez por isso pesado) cérebro. Apesar das constantes provas de fé na ciência, continuamos a acreditar demasiado na nossa inteligência individualmente considerada, e nem as laudes ao advento da idade tecnológica nos impedem de mergulhar, quem sabe cada vez mais furiosamente, na demasiado frágil iluminação fornecida pelas nossas intuições biológicas (individualmente consideradas) pobremente tocadas por impulsos cuja origem ignoramos (mas gostamos de esconder que ignoramos), confiando a sorte do corpo aos espasmos cinzentos da nossa rede neuronal (individualmente considerada), com uma parda vaidade de que podemos com a esponja cinzenta, o que não tem sido possível com o estômago e os intestinos, esquecendo que a descoberta da evolução e da complexa submissão das populações a efeitos imprevistos, nos deviam empurrar para esforços de raciocínio mais sistemático, abandonado as robinsonadas do mercado e a ideia de que a acumulação espontânea dos nossos gostos, constitui uma ponte de ferro entre o mérito, o trabalho, a qualidade e o sucesso de vendas ou as vitórias de um clube de futebol.
Agora que temos computadores, ao invés de trabalharmos em conjunto para limitar os impactos dos nossos erros, forjando um sistema capaz de misturar a liberdade de escolha com a crítica da escolha, aproveitando os baixos custos da comunicação, insistimos nas maravilhas do individuo, para depois proclamar em seguida que o indivíduo está racionalmente condenado à irracionalidade onde o enjaulámos. De tal modo que não há maneira de nos contentarmos com a nossa ignorância, graças a deus.
2 comentários:
Sim. Vou assinar pelo Sporting. Camadas jovens, claro está.
Sou o maradona e acho que és o maior. Abraços
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