Se não me engano, e eu engano-me quase sempre, foi Werner Sombart - o predileto discípulo de Maximiliano Weber Pereira, e erudito estudioso da emergência do capitalismo na União Europeia Ocidental -, o primeiro a notar que se as mulheres não existissem, o dinheiro não tinha nenhuma importância. Dedicou a isto milhares de páginas de enfadonha exposição com inatingível demonstração histórica, um conhecimento profundo das fontes (as primárias, as secundárias e as terciárias) para não falar da extensa utilização de processos lógico-racionais como só os alemães são capazes de enfadonhamente utilizar (e não me venham com essa merda de que o gajo era Austríaco ou Húngaro - só o Benfica teve para aí 4 treinadores húngaros de cultura alemã - uma cena que o Rui Tavares já explicou com essa trapalhada bélico-semântica da primeira guerra mundial, e isto para não dizer que só o Benfica tem 7 sérvios e um deles parece uma menina apesar de ser claramente o melhor jogador do Benfica desde Fernando Chalana, o que é um claríssimo desafio à mais recente polémica na blogosfera, mas já lá vamos). Sombart chegou mesmo a datar o triunfo das cortesãs nas urdiduras palacianas das Repúblicas italianas como o ufano momento do nascimento da nossa estimada e santa civilização comercial, ou na sua versão iluminista patriótica e de esquerda, democracia constitucional. Como se isto não bastasse vi recentemente à venda numa livraria de uma grande superfície um livro livremente comercializado onde figurava o seguinte título: The End of Men: And the Rise of Women. Já Plauto e Aristófanes, nas suas comédias, concediam o protagonismo do amor a cortesãs e escravas, mas na antiguidade a cena revestia-se de uma misteriosa complexidade e estaremos todos de acordo sobre a não representatividade da literatura na resolução de dilemas político-jurídicos. O que mais me inquieta são os juízos cronológicos em matéria tão sensível. Alguém terá descoberto o medidor do progresso? E o medidor do poder? Quem manda verdadeiramente no mundo? Será o homem? Será a mulher? Haverá lugar para o piropo numa sociedade sem classes? Creio que são dúvidas mais do que suficientes para um individuo do meu gabarito se ver obrigado a fazer um ponto de ordem nesta importante discussão em torno do piropo, da criminalização da boçalidade, comentando a hipotética estrondosa queda da masculinidade.
Há quem diga que vale a pena ler este post. Concordo com a leitura e concordo com o conteúdo. Mas todas as razões apresentadas sobre a espetacular capacidade da opinião pública portuguesa em rebaixar um debate ao nível coiso são precisamente as mesmas que explicam porque razão o piropo preocupa a sociedade portuguesa. Sociologicamente, não tenho dúvidas de que o piropo constitui um problema, um sintoma, uma marca, um sinal, uma epifania do longo caminho a percorrer na estrada da mudança das mentalidades. Contudo, não podemos deixar de considerar perversa a forma como mulheres de esquerda, patrióticas e socialistas, como Fernanda Câncio, ou mesmo mulheres de extrema-esquerda como Daniel Oliveira - e que isto não seja entendido como um piropo - consideram não legítimo o direito dos trabalhadores a considerarem com redobrada esperança o seu futuro sexual - não recorrendo ao complexo mercado do engate por subscrição cultural e aos dolorosos e cansativos jogos de cintura, capazes de levar um Gogol à loucura. Ainda que isso inclua desconhecidas, a linguagem privada ainda é um domínio privado ou estaremos a querer entrar também por aí? Parece-me que desde que não seja quebrada a ténue e sagrada fronteira de filigrana minhota, a saber, a diferença entre dizer e fazer, não estamos perante um crime mas apenas e tão só, o que não é pouco, perante uma sórdida falta de educação. Queremos reprimir esse comportamento? Queremos gastar o dinheiro dos contribuintes a investigar o piropo? Não seria melhor deixar que o assunto percorresse por si só o caminho do esquecimento, à medida que a educação e o convívio disciplinado entre sexos vai grassando nas nossas escolas? Se o facto de um estucador - e atenção que não faço aqui uso de determinismos sociais, simplesmente utilizo a minha longa experiência com honesto estudo misturado, que serviu a Camões, a Sá de Miranda, a Duarte Pacheco, a Pedro Nunes, e a outros intelectuais do renascimento português - se dirigir a uma adolescente com palavras indecorosas passar a implicar a tipificação de um crime, senhoras e senhoras, aí sim, estaremos bem tramados quanto a dívida pública, e os piropos serão o menor dos nossos problemas. Quer isto dizer que subscrevo a coutada do macho ibérico? Claro que não. Desde o triunfo de Iniesta e Xavi que a coutada do macho ibérico se encontra em acelerado declínio e até já me tentaram vender máquinas para desenhar espirais na barba e patilhas em bico numa grande superfície comercial da Península Ibérica.
Toda esta espiral problemática em torno de algo tão insignificante como a metafísica do piropo - e não me refiro ao caso concreto, bem o sabemos, desde Kant, o caso concreto não existe - é francamente sintomática da solidez do pensamento político ao nível das mulheres de esquerda - não estou a pessoalizar, pois muitos homens estúpidos se revelam também, e igualmente, inteiramente de esquerda - mas agora estou francamente apostado em polemizar com as mulheres e quem sabe se isto não meterá uma piscina de lama e camisetas (como dizem os brasileiros) muito fininhas. O fato de quererem dirigir o aparato policial do Estado contra o homem produtor de piropos é um símbolo do machismo da sociedade portuguesa, mas pelas razões erradas (eis uma bonita charada para os meus inteligentes comentadores decifrarem). Adianto apenas que em primeiro lugar, qualquer estudo estatístico demonstraria rapidamente uma singela verdade: cão que ladra não morde. Em segundo lugar, e no que diz respeito a todos os estudos de impacto ambiental sobre o direito das mulheres andarem na rua sem medo, é muito interessante constatar que, por vezes, o medo urbano também serve o pensamento político libertário.
Qualquer reclamação deve vir acompanhada de fotografia de corpo inteiro e uma sugestão de preferências sobre os tempos livres.
5 comentários:
doutor alf, bem vindo de volta. o melhor piropo que ouvi por estes ouvidos que a terra há de comer: "eh boa dá beijinho ao trolha". diria que nem o Peixoto conseguiria escrever melhor.
Bom dia :)
Concordo :) não passa tudo de uma falsa questão, o que garotas do BE precisam é de mimo.
Bom regresso (não é um piropo)
piropos a gajas do bloco (Daniel Oliveira incluído) é em boa verdade wishful thinking.
e é muito bem visto que se elas não levam com eles, pois ninguém há de ter o direito levar. e isto é ser de esquerda: ou levam todos (independentemente das diferenças naturais) ou não leva ninguém.
A forma jocosa como o assunto foi tratado, paradoxalmente, mostra que existe um assunto que importa tratar. Vejamos: Se um tipo que passa na rua me disser que eu tenho umas mamas boas, não se passa nada porque é um piropo. Se eu me virar para ele e lhe chamar porco, acabei de cometer um crime de injúria.
Parece-me evidente que há aqui qualquer coisa que não está bem. Aquilo a que nesta discussão se tem chamado piropo é, na maioria das vezes, assédio sexual. É certo que o tempo e a educação e patati patata se encarregarão de resolver ou atenuar essa chatice. Mas se vivemos numa sociedade em que se é multado por apitar de noite dentro das cidades e fazer barulho em casa fora de horas, será assim tão despropositado cominar esse tipo de comportamentos com contra-ordenação? É que, pessoalmente, incomoda-me mais um mentecapto na rua a fazer comentários ao meu corpo do que os carros a apitar na estrada quando estou em casa, à noite.
Uma falsa questao o caralhinho, Alf. Literalmente.
Uma miuda de 12 anos ser solicitada para fellatio por alguem com idade para ser seu pai eh falsa questao? Uma adolescente ter que atravessar a rua porque sabe que mais ah frente vai ser verbalmente assediada, possivelmente apalpada, eh falsa questao? Fuck that shit!
Nao sabes do que estas a falar. Nao tens direito a opiniao.
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