A opereta do empreendedorismo pode ter deixado alguns a pensar que nesta casa só se pega no teclado para bater nos pobres de espírito. Em parte é verdade, mas se todos os caminhos vão dar a Roma, nem todos os pobres de espírito alcançaram o céu. E desses, cá estamos nós para nos ocupar.
Ora, se a Maria (enterremos o estereótipo do empreendedor masculino) percebe umas merdas de biotecnologia (e voltámos aos estereótipos) e consegue ver uma oportunidade para fazer uns trocados, a última coisa que ela deve fazer é pôr-se a brincar com o Excel e as 1002 páginas do Código Tributário. Por uma simples razão, a especialidade da Maria não é o malabarismo fiscal mas sim a biotecnologia (uma contradição de termos, mas isso é assunto para outro dia).
Expondo por momentos a rabadilha, o autor destas linhas anda a tentar empreender desde há anos. O esforço e a dedicação variam conforme o tempo e os humores, mas o insucesso esse é constante. Por experiência própria, posso afiançar que o empreendedorismo é uma figura geométrica com três pontos focais: o que é que vamos fazer, com que orçamento e a quem o vamos vender. Os impostos só aparecem, se aparecerem, enterrados numa secção escondida no final do plano de negócios.
Curiosa coincidência, o estado-nação onde agora me encontro tem sido palco de uma acesa discussão sobre empreendedorismo entre este que vos escreve e outros operários da empresa capitalista que se apropriou dos nossos meios de produção e nos explora sem dó nem piedade. Nesta discussão os impostos nunca foram tidos nem achados. E a taxa máxima de IRC não só é mais alta na Bélgica mas, qual cereja em cima do bolo, esta tem vindo a diminuir em Portugal. Por outro lado, os impostos sobre os indivíduos passivos têm vindo a aumentar. Se isto não é um incentivo ao empreendedorismo por parte do Estado, não sei o que será.
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