terça-feira, 26 de março de 2013

O Ministro das Finanças da Alemanha é uma pessoa humana, tenham calma.

Nos meus estudos completos acerca da oferta de refeições em tascas da grande Lisboa, obra que estou a levar a cabo de um só fôlego durante o dia de hoje, refere-se (p. 371, nota 26) como me serviram por 9, 90 euros um pedaço de vaca prensado com bota alemã no Bar da Praia do Guincho, acompanhado por inaceitáveis pedaços longitudinais de lascas de batata frita em óleo requentado, além de uma garrafa de vinho verde (375 ml), vendida por uns escandalosos 8,50 euros, o que só isto perfaz 18,40 euros (um assalto) minutos depois do próprio e simpático empregado, de raça negra, me ter abalroado com uma bandeja, perguntando-me, logo em seguida, com ar ameaçador:
- Magoou-se?
- Não, que ideia, não vê que sou feito de aço e rebitado a parafusos de ferro? - respondi prontamente.
A verdade é que é muito difícil argumentar sobre efeitos de substituição em mercados com informação escassa e onde os consumidores reagem de forma primária a declarações do Ministro das Finanças da Alemanha, ainda para mais, sendo este uma pessoa que se desloca em cadeira de rodas.
 
Elizabeth Hardwick

 
Como devem calcular os meus eruditos e estimados leitores, a  filha do Tony Carreira prepara-se, alegadamente segundo a literatura da especialidade, para arranjar namorado durante as filmagens de mais uma série de Morangos com Açúcar, o que imediatamente me recordou os comentários de Elizabeth Hardwick acerca de Lolita,  a obra prima da imaginação ocidental. Embora várias pessoas se esforcem para fundar nos dotes superiores de observação da realidade o critério da excelência nas descrições literárias, é evidente que, segundo a autora de Bartleby in Manhattan and Other Essays, a observação das páginas dos livros também faz parte da realidade, não só os postes de electricidades, os anúncios histéricos dos motéis, as trancinhas amarradas por fios de seda das jovens universitárias, o reflexo violeta da chuva solar nos charcos oleados do alcatrão, o ondular das copas das sequóias canadianas, estendendo com paciência o seu outonal manto escarlate sobre as avenidas, continuamente pisado por rodas de carroças - efeito que Gogol utilizou para ilustrar o ininterrupto barulho das folhas nas repartições públicas da Rússia Czarista. Desse modo, são as descrições das viagens de Marco Polo pela China, em busca de um espelho onde possa encontrar o seu passado veneziano, e em busca do momento desesperado em que se descobre que este império que nos parecera a soma de todas as maravilhas é uma ruína sem pés nem cabeça, o único e exacto modelo dos exaustos artefactos do cenário americano descritos em Lo-li-ta, luz da nossa vida. É verdade que Nabokov percorreu essas estradas intermináveis num Verão escaldante, na companhia da sua aluna de Stanford, Dorothy Leuthold, que se ofereceu para guiar o exótico casal russo pelo Oeste americano, maluquice só ao alcance de uma californiana. No carro novo da jovem mulher (não havia perigo, confronte-se a fotografia na página 227 da magnificente obra de Brian Boyd, Vladimir Nabokov, The American Years, Princeton University Press, 1991) atravessaram o Tennessee, o Arkansas, o Mississippi (onde a referência de Vladimir era Chauteubriand e não Mark Twain) até chegarem ao Grand Canyon, onde, finalmente, localizaram uma nova espécie de borboleta, baptizada como Neonympha Dorothea, e avistada num carreiro de mulas a 9 de Junho de 1941.
 
 
Não sei em que fase do emaranhado de acontecimentos se encontrava a Segunda Guerra Mundial nesse preciso dia, mas sei que a Alemanha cavalgava a sua própria destruição com a ferocidade de uma adolescente apaixonada. À falta de melhores exemplos, veja-se como uma newtoniana mutação de perspectiva se torna tão inspiradora quando reveladora dos férteis territórios à disposição da consciência, pelo que deixo aqui uma demonstração de eloquência meridional (com especial referência à coordenação da linha defensiva, aos 4 segundos, a que se juntam os dois médios, aos 5 segundos, rematando-se este superior momento, de combinação estético-motora, com um soberbo pontapé - o chamado charuto em linguagem técnica -, efetuado aos 6 segundos, prosseguindo o bailado russo, com indomável vitalidade, até ao fundo das redes alemãs) movimento que é todo um programa de resistência perante as dificuldades destes dias. As pessoas devem manter a calma pois enquanto existirem livros, está tudo bem.

3 comentários:

Capt. Paddock disse...

Vais sempre muito bem até ao momento em que falas de bola.

Desta vez estragas tudo ao citares o charuto do Cardozo quando o charuto bíblico da semana é o do Fokobo do Sporting, num jogo contra o Tottenham, numa competição chamada Next Gen Series, prova que, quanto mais não seja, serve para antecipar a brilhante carreira literária dos srs. da UEFA que dão os nomes às competições, quando o departamento de scouting da Leya deixar de buscar futuros escritores apenas na comunicade de semi-analfabetos que usam piercings e aceitar como candidatos cavalheiros de fato e gravata que tenham trabalhado na UEFA.

Todo um programa, como diria o outro. (nem sei quem)

E agora o golo e caganda golo:

http://www.youtube.com/watch?v=1PYMAzG49jQ

fas-me um laike disse...

«A editora portuense Edições Mortas, conjuntamente com a Black Sun Editores e a Edição N, lançou a revista literária Estúpida. Desenvolvida por António S. Oliveira, a publicação lançará o segundo número em setembro, sob o mote "Deve ou não o intelectual prostituir-se."

"A estupidez é tanta que ninguém percebe o porquê da edição da Estúpida nestes tempos digitalmente estúpidos e à beira de um banho de sangue". Assim escreveu António S. Silva no editorial da nova revista literária. Estúpida porquê? Numa era em que são escassas as edições literárias e as redes sociais imperam, esta revista pretende ser uma contra corrente. "É de facto estúpido avançarmos com esta revista agora" explicou António S. Oliveira, o mentor do projeto. Mas o pretendido, salienta, passa por desenvolver "um espaço de fuga à escrita comercial que nada acrescenta à literatura."

Ex-Vincent Poursan disse...

Oh alf, como é???!!!
já lá lá vai mais duma semana e tu nada?

tás armado em inconstitucional???!!!

fodaçe... depois querem questa merda produza!