Parece que este livro foi o mais vendido no último ano. Cinco milhões nos Estados Unidos da América, cento e quarenta mil em Portugal, e digo isto assim por extenso que é para não nos desencorajarmos a nós próprios com os algarismos, essa gritante fortaleza sem ponto de fuga.
Introduzamos uma pedra bem bicuda na mecânica dos hábitos. Que importância tem esta merda? Nenhuma. Na verdade, estou prestes a entrar na última etapa do imperialismo psicológico que faz todo o autor: uma total confiança nas suas capacidades, não por qualquer vantagem informativa sobre o funcionamento das coisas ou pelo prodigioso conhecimento sobre o mundo (o que é, aliás, uma impossibilidade), mas apenas por ter chegado à derradeira fase do caminho, em que o único tema e estilo está encerrado na vontade de efabular sobre o próprio sentido de efabular, o que implica uma total consagração da inteligência ao fio narrativo da nossa mente. A partir daí, o tema e o estilo são um prolongamento desse teatro decadente que todos os dias leva à cena dentro do nosso crâneo uma ópera satírica: é só fazer o relato crítico e rir com vontade e abandono. A realidade só tem existência segundos os dados da consciência, não dizia o velho Kant? Confiemos na expansão desses relatos e troquemos impressões sobre o espectáculo. É digno das grandes tragédias, é ainda mais digno das grande comédias, e é a única coisa digna da nossa história como criaturas que não se compreendem a si próprias mas que encontraram uma diversão para ocupar o tempo. Os rabis rabiscavam na areia, ou contavam histórias, pois perceberam que era a única forma de cair com dignidade na interferência do mundo. Se nos falta coragem para sermos invisíveis, então façamos o estrondo que nos cabe fazer, mas com elegância. Quanto a mim, nada mais elegante do que uma boa história com figuras de estilo adequadas. O livro é o único artesanato cujos segredos me são relativamente acessíveis. É mal pago? Paciência. Está em vias de extinção? Paciência. Caiamos com dignidade, perante um inimigo conhecido ou que julgamos conhecido, não importa. Só conta a nossa consciência, não é verdade?
Introduzamos uma pedra bem bicuda na mecânica dos hábitos. Que importância tem esta merda? Nenhuma. Na verdade, estou prestes a entrar na última etapa do imperialismo psicológico que faz todo o autor: uma total confiança nas suas capacidades, não por qualquer vantagem informativa sobre o funcionamento das coisas ou pelo prodigioso conhecimento sobre o mundo (o que é, aliás, uma impossibilidade), mas apenas por ter chegado à derradeira fase do caminho, em que o único tema e estilo está encerrado na vontade de efabular sobre o próprio sentido de efabular, o que implica uma total consagração da inteligência ao fio narrativo da nossa mente. A partir daí, o tema e o estilo são um prolongamento desse teatro decadente que todos os dias leva à cena dentro do nosso crâneo uma ópera satírica: é só fazer o relato crítico e rir com vontade e abandono. A realidade só tem existência segundos os dados da consciência, não dizia o velho Kant? Confiemos na expansão desses relatos e troquemos impressões sobre o espectáculo. É digno das grandes tragédias, é ainda mais digno das grande comédias, e é a única coisa digna da nossa história como criaturas que não se compreendem a si próprias mas que encontraram uma diversão para ocupar o tempo. Os rabis rabiscavam na areia, ou contavam histórias, pois perceberam que era a única forma de cair com dignidade na interferência do mundo. Se nos falta coragem para sermos invisíveis, então façamos o estrondo que nos cabe fazer, mas com elegância. Quanto a mim, nada mais elegante do que uma boa história com figuras de estilo adequadas. O livro é o único artesanato cujos segredos me são relativamente acessíveis. É mal pago? Paciência. Está em vias de extinção? Paciência. Caiamos com dignidade, perante um inimigo conhecido ou que julgamos conhecido, não importa. Só conta a nossa consciência, não é verdade?
Temos assim tanta necessidade de coerência, tanta vontade de anulação do movimento e de esmagamento da pluralidade de experiências sobre as coisas? Temos assim tanta certeza de que aquilo que se passa dentro de nós não tem importância suficiente para que nos dediquemos a construir um monumento à nossa vida? Acontece que a vida, e sob todos os pontos de vista, e em todos os lugares do mundo, é sempre uma cena maravilhosa que merece ser contada, mesmo um papagaio colorido esfarrapado pelo vento, um desastre aéreo sem sobreviventes, uma floresta queimada pelo fogo, um pássaro eletrocutado por um relâmpago (isto é possível?), uma adolescente deslumbrante de pálpebras tingidas de negro e lágrimas fáceis, o seio inchado de vigor, muita ignorância da lógica, muito desprezo pela reflexão política, toneladas de interesse por cada suspiro em frente ao espelho, a tragédia de uma borbulha, meu deus, os épicos que poderiam ser escritos sobre a tragédia de uma borbulha que ameaça um dia predestinado a grandes coisas.
Nunca mais aquela apatia sentimental própria dos profissionais da abstração, nada de raciocínios especulativos, actividade que tanto nos tem feito adoecer. Só porque a vida nos tem corrido mal, a nós, os convencidos da potência de raciocínio, não confundamos o nosso crâneo, e muito menos os nossos circuitos neuronais, que são plásticos e flexíveis, com os limites da fortaleza, pois pode ser que a única fortaleza esteja apenas no medo de nos tornarmos especialistas em fortalezas por vergonha de não saber (ou querer) fazer mais nada.
Nunca mais aquela apatia sentimental própria dos profissionais da abstração, nada de raciocínios especulativos, actividade que tanto nos tem feito adoecer. Só porque a vida nos tem corrido mal, a nós, os convencidos da potência de raciocínio, não confundamos o nosso crâneo, e muito menos os nossos circuitos neuronais, que são plásticos e flexíveis, com os limites da fortaleza, pois pode ser que a única fortaleza esteja apenas no medo de nos tornarmos especialistas em fortalezas por vergonha de não saber (ou querer) fazer mais nada.
9 comentários:
Recebo este post como uma benção :)))
Muitos beijos
muito bom.
e eu a pensar que as cinquentas sombras de grey tinha sido a obram mais consumida em 2012!
mas esta, do menino que foi ao céu falar com jesus, é muita boa também.
vou consumir!
Obrigada
ai ai os papagaios coloridos esfarrapados pelo vento...
cuidado com essas introduções bicudas LOL :)))
Comecei por ler o título do post onde alf cometeu o pecado cromático do azul (que mobiliza ao tolan a energia necessária a uma toyota de talibans para apedrejar uma adúltera devidamente incriminada e suficientemente indefesa) e o link que informou ser uma “obra de não ficção” e o bolt dos livros no ano não sei quantos, deixando ao orelhas o papel de tyson gay (coisa que me parece que não é).
Cheirou-me a epidemia alucinogénica e antes de prosseguir mandei o meu nariz goglear. O elegante apêndice (directamente proporcional ao outro que queria ir ao redtube) informou-me, ligeiramente enfastiado, que a coisa era mais ou menos assim.
Um puto de 4 anos, monotonamente vividos a folhear cenas bíblicas pra crianças e a ouvir do seu pai, padre de profissão, relatos adequados à sua idade sobre a tal de religião céu e inferno, entra em curto-circuito numa operação ao apêndice. Os tais de circuitos neuronais entram em hipoxémia e desatam a trabalhar por conta própria. Não tendo ainda consultado a colecção de ginas do pai nem a hélice do adn desenrolado a tal de tusa, tiveram de trabalhar com a informação disponível: Céu, anjinhos, jesus, deus, a virgem maria e as fotos do álbum de família.
Um dia chateado no banco traseiro do chaço do pai, lembra-se dos registos que ficaram perdidos e desindexados na pequena caixa dos pirolitos e verbaliza. O pai decide escrever um livro, vem a calhar porque nos EUA os padres pagam bué de impostos e a hipoteca da barraca era tóxica. A coisa a princípio não dá pró petróleo mas a CNN e a NBC metem-se ao barulho e a coisa dispara. Cá é do domínio público que a CNN e a NBC só relatam factos comprovados e a coisa também corre bem. Continua tudo bem, nem vejo que seja notícia. Tivessem os pastorinhos chamado a TVI e o correio da manhã, vedado a zona e cobrado 10 paus pró milagre, e hoje a lúcia estava no lugar da isabel dos santos.
De modos que… não li o resto!!!
Se perdi alguma coisa de jeito… avisem que eu leio.
hehehehe
Poursan, explica ao pequeninos o post do alf :)
saravá !!
Não é garantido que a Isabel dos Santos não seja a irmã Lúcia após uma metamorfose induzida pelo Inferno.
Atenção, sou muito amigo de Angola, está tudo bem, não retirem o dinheiro das nossas contas bancárias.
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