Antes de mais quero agradecer ao Tolan (sinceramente e sem qualquer ironia) ter feito o trabalho
de casa. Passemos à correção.
Quando nada o fazia prever, eis que o atarefado Tolan, libertado dos seus deveres profissionais pelas leis da oferta e da procura, leis que sem dúvida permitem ao profissional Tolan escrever de forma tão brilhante, se bem que amadora, em blogues (o que espero não o impeça de aspirar à qualidade mínima que a si mesmo se impõe) resolve oferecer em bandeja de prata a sua própria cabeça, isto é, ao pretender criticar um suposto artista, apresenta no seu próprio texto um exemplo prático e actualizado daquilo que pretende criticar. Começo então por recomendar ao sacerdote Tolan a leitura do seu mandamento número 4, a saber, Tem sempre presente que em caso de emitires crítica, ela deve ser para ti. Nem mais.
Não sei se o Tolan reparou, enquanto elaborava a sua lista de mandamentos para a sagrada salvação do artista enquanto pessoa moralmente irrepreensível, mas incorre no mesmo erro que pretende corrigir. Se era esse o objetivo, parabéns pelo acto de contrição mas creio que a minha obra é demonstrativa da minha difícil relação com as Igrejas da mortificação espiritual. Vamos dividir pedagogicamente o problema em dois. As coisas que o Tolan julga criticáveis na minha crítica de José Luís Peixoto - que gerou sem dúvida os seus belos mandamentos do artista - e as coisas em que o Tolan se revela um crítico de fraca qualidade, enquanto não consegue ser o artista que sonha para si e vai criticando nos outros o que julga indigno dos pressupostos sociológico-religiosos da arte da arte da arte, o que é aliás aquilo que pretende criticar na minha crítica de José Luís Peixoto. Como são labirínticos e fascinantes os caminhos da mente humana.
O Tolan enquanto crítico:
O Tolan enquanto crítico é uma desgraça, expliquemos porquê. Começa por inclinar respeitosamente a cabeça diante da livraria Bertrand, não se percebe com que objetivo. Se era ironia, não compreendi, e portanto há que encomendar rapidamente uma Introdução às Figuras de Estilo, mas pode ser apeans o facto de eu ser muito estúpido, às vezes acontece, tenho que admitir. Começa por pretender analisar o estilo de Calvino e insinua que Calvino utiliza parêntesis e travessões porque se dá mal com a sequenciação das
ideias pela escrita e, como tal, com a própria linearidade do tempo. Perdão? A utilização de parêntesis implica uma má relação com a sequenciação de ideiais pela escrita? Não me lembro de ter sido dado como pressuposto que: a) que a sequenciação implica rapidez - eu posso sequenciar frases de trezentas palavras; b) que os parêntesis impedem a sequenciação de ideias - eu posso sequenciar frases de trezentas palavras dentro de parêntesis; e c) a não sequenciação das ideias impede a linearidade do tempo. Neste último aspeto creio que o Tolan incorre em dificuldades que se prendem com o seu paradigma de eficiência: a frase curta e o avanço de factos na narrativa, o que é apenas um dos milhões de caminhos que o artista pode utilizar para se expressar. Confesso antes de mais que não entendo o que é linearidade do tempo, e convido o sempre tão confessamente humilde Tolan a fazer eco de um indivíduo tão problemático como Heidegger que dizia ser muito arrogante querer fingir claridade onde há escuridão como julgo que é manifestamente o caso da representação do tempo. Ficamos no entanto a saber que o Tolan tem um problema com os parêntesis e os travessões porque se enerva perante recursões e excursos, esquecendo que a literatura só existe enquanto o leitor se mantém em suspenso, ouvindo a belíssima e sensual princesa das Mil e Uma Noites que esperava adiar a sua execução desfiando histórias a partir de histórias a partir de histórias, adiando a chegada da sua morte, e prolongando a madrugada, e não necessariamente em torno dos mesmos assuntos, ou com o mesmo ritmo narrativo.
O problema é a escrita do Italo Calvino, uma escrita demasiado fria,
intelectual, madura e distanciada. É de tal forma adulta, dissecadora, escalpelizadora e
auto-analítica, digamos assim, que não me suscitou qualquer recordação emotiva
ou sentimento capaz de me arrancar a tal reflexão suprema sobre a morte de um
dos meus progenitores, nem mesmo quando do ponto de vista descritivo e
circunstancial, parece haver uma sobreposição entre o que era o pai do Italo
Calvino e o que o meu era, respectivamente, para cada um de nós.
Meu deus, por onde começar? Aquilo que as pessoas julgam como frio, intelectual - como se existisse na nossa cabeça alguma coisa que não fosse intelectual - maduro, distanciado, dissecador, escalpelizador, auto-analítico (então não era isto que era um artista?) parece não suscitar qualquer recordação emotiva ou sentimento, capaz de arrancar a reflexão suprema sobre a morte dos progenitores. Eu diria ainda bem, o senhor seja louvado, ou então a literatura seria uma mera projecção daquilo que juglamos ser os nossos sentimentos individuais, santa pobreza, ou qualquer coisa como um Gabinete de Ajuda Metafísica às Pessoas Sensíveis, o que graças a deus, não é. É apenas uma conversa entre espíritos especialmente prodigiosos, potentes, irrepetíveis e invulgares, et in secula seculorum. O sempre generoso Nabokov explica que identificação sentimental é, com todo o respeito, o que os tolos procuram na literatura porque já não acreditam no Espírito Santo. Aliás, é essa uma das razões mais poderosas que explicam o facto de uns terem mais sucesso do que outros: há escritores que fazem livros para a celebração do santo sacríficio das multidões, enquanto outros lutam consigo próprios e com as suas memórias (razão porque o caminho de San Giovanni é sobre Calvino, então havia de ser sobre quem se foi ele que o escreveu?). Procurar o sucesso é perfeitamente legítimo. O que me parece arrogante e uma sincera falta de humildade e da devida prática da dúvida metódica como uma escassez de auto-crítica sobre as nossas capacidades, é querer justificar o sucesso com base quantitativa (parece que a Joana Vasconcelos pesa para aí um quinhentos quilos, logo é boa como o milho) e ao mesmo tempo erigir a quantidade como critério de verdade. Eu recomendaria cuidado com a utilização das palavras sucesso e verdade: queimam a língua.
Claro que estamos aqui a falar de densidade, profundidade, compreensão da complexidade do mundo, expressão do absurdo da vida, elegância, beleza, proporção, variáveis tão escorregadias e cortantes que apenas podem ser manejadas em simultâneo por malabaristas ciganos como é o meu caso. Não é preciso explicar que até uma criança de 3 anos compreende a dor de se perder uma cadela a quem nos afeiçoamos ao longo da vida, mas dificilmente compreende uma página de Calvino. Significa que as crianças não têm lugar no mundo? Não, significa que nos deviamos preocupar com a infantilização dos nossos comportamentos e que a catequese pseudo-liberal aprendida em duas linhas de maus livros de economia, onde se defende que o que acontece é sempre o resultado eficiente da realidade, pode levar à extinção, porque a natureza não tem critério moral e nós, que o vamos tendo e alterando para nossa utilidade, deviamos ser mais activos na consideração do que é bom e do que é mau, o que não significa que isso é uma tarefa fácil, se fosse não existiriam tempo ou morte. Significa a crítica do sentimentalismo (e da apologia do mercado como critério de verdade absoluta em todos os domínios da vida) que não devemos escrever livros sobre o que sentimos quando nos morrem animais queridos? Não, significa que é muito arrogante e pouco avisado, diria eu, se quiserem aceitar o meu conselho, achar que as pessoas estão todas interessadas (nem sei mesmo se a maioria está, mas a comunicação de massa fica para outro post) nos nossos animais queridos e nos sentimentos do conjunto de pessoas que possam eventualmente ter passado pelo mesmo. Na verdade, são muitos e ínvios os caminhos da vida.
A mais inaceitável conclusão, isto na minha opinião, como diria Jorge Jesus, é espetar com a etiqueta do aborrecimento num autor por falta de ouvido, esquecendo Tolan o seu belo mandamento número 7, a saber, Tenta sempre ter em perspectiva que podes
ser pior, mais preguiçoso e mais estúpido do que pensas que és, ou seja, cuidado, olha que o Calvino pode mesmo ser um autor extraordinariamente quente, emocional, imaturo, e tu é que não estás a ver a coisa como deve ser.
Parece que se a malta vai escrever sobre os pais, então por favor, é obrigátório incluir aquele episódio em
que o pai lhes pregou um estalo ou lhe disse que não valiam nada ou o outro dia
em que, do nada, o pai lhes disse que tinha muito orgulho no filho e o filho
ficou com um nó na garganta. Isto está muito bem, e curiosamente, apareceu ontem, ao jantar, numa novela da TVI, havias pessoas aos gritos, copos partidos, beijos, muitos palavrões, lágrimas, emoções, abraços, um cão aos saltos e muitos sapatos de salto alto, gajas boas, pernas longas, mas entretanto adormeci. É aliás revelador a utilização da expressão aquele episódio. A parte mais lamentável da péssima escola democrática que temos em Portugal, que espero consigamos corrigir em breve, prende-se com esta mania de confundir o nosso quintal com as dimensões do mundo, precisamente por falta de combate e guerra argumentativa com os outros. Aquilo que o Tolan julga interessante, ou aquilo que eu julgo interessante, vale o que vale. O que não podemos aceitar é que se faça uma apologia sentimental da literatura interessante, de um ponto de vista meramente subjetivo, e ao mesmo tempo se queira moralizar e limitar o que artista deve ou não criticar noutros artistas. Conheço suficientemente a história da teoria económica para saber que o mercado é um mecanismo que não deve ser aviltado submetendo todos os fenómenos humanos ao seu funcionamento, e depois caindo no relativismo militante quando o caos nos vem sufocar porque entretanto descobrimos que as condições desse mercado (externalidade, falhas de informação, descontrolo ou efeitos de escala das diversas fases da produção e do consumo) geram mais problemas do que benefícios.
O Tolan enquanto crítico do crítico:
O Tolan enquanto crítico do crítico revela uma confiança excessiva nas suas qualidades, justamente o que também critica nos seus mandamentos para a salvação do crítico como artista. Não me lembro de ter escrito em lugar algum que atribuia compensações acrescidas a textos longos mas quero dizer ao sacerdote Tolan, tão preocupado com a salvação moral do artista, que gosto de muito de introduzir assuntos que nada têm a ver com os textos ou com os critéros de avaliação dos textos sobre os quais estou a pensar, sobretudo porque esse tipo de princípios metodológicos são muito característicos do genuíno fedor da escolástica, como diria o meu amigo obscuro, indisciplinado, e pouco lido em Portugal, James Joyce, e por isso, recomendações disciplinares sobre os limites temáticos parecem-me bastante mais policiais do que simplesmente ir expressando o raciocínio tal como me apetece que seja expressado, isto se me for permitido pelo sacerdote Tolan da Santa e Imortal Igreja dos Últimos Dias do Mercado.
Confesso que me senti particularmente atingido pela inconsistência entre o mandamento 5 e 6. A rejeição que um artista faz do mundo pode ser, em muitos casos, a última réstea de esperança para a salvação do mundo, não o sabemos, e convém não menorizar os artistas em demasia. O facto de um artista ser bilioso pode não estar relacionado com o sucesso de um outro artista inimigo (pode ser o caso de o artista bilioso estar mesmo a educar generosamente os outros e, lá está, os outros é que não estão a ver) e mesmo quando um artista é bilioso devido ao sucesso de um outro artista, isso não significa sempre vulnerabilidade. Também pode significar que o artista de sucesso é um esbirro, um pífio, um desconte escondido, um hipócrita ressentido, que vendeu a sua arte aos meios de comunicação de massas e ao agenciamento das editoras por não acreditar que sozinho conseguiria ser ouvido e produzir a sua arte, e portanto, o artista bilioso, corajoso e confiante na sua arte, longe de ser vulnerável, pode estar a combater pela sua independência e modo de vida, em face dos poderosos que esmagam a sua sensibilidade em toneladas de lixo, por associaram o que as pessoas querem à arte geral, e unicamente aceite, impedindo o artista bilioso de expressar a sua diferença e independência, relativamente aos interesses das editoras e do que as editoras definem que as pessoas devem querer. Desde que se cumpra o código penal e civil, não vejo onde está o problema da batalha.
Concedo que a preguiça de tentar pode ser a besta negra de um grande artista, até por estar careca de saber que o grande artista é aquele que se esforça por se manter nas alturas, sobrevoando a generaliade dos restantes artistas e seu públicos ovinos, revelando precisamente a sua arte como a única arte, por técnica, individual e irrepetível e até, em algum momento, incompreensível, razão porque lhe chamam artista e não vendedor de automóveis ou funcionário das finanças, embora este possa por vezes revelar maior dificuldade com os públicos.
Para terminar o meu longo texto, quero deixar cumprimentos ao Tolan, e a todos os comentadores biliosos que me incitam a raciocínar, neste combate pela clarificação, com virilidade, do que pensamos e de como pensamos sobre o que fazemos. Mas antes que caiamos de lágrimas nos olhos nos braços uns dos outros, não posso deixar de expressar a minha fúria contra aquilo que julgo ser uma das maiores hipocrisias da mentalidade do homem democrático. Sabendo que os meios de comunicação de massas, televisões, rádio e jornais, geram automaticamente, e pela sua própria natureza tecnológica, uma só saída, a partir de autorias reduzidas, que chegam a milhões de consumidores passivos, gerando diferenças de consumo brutais, razão pela qual os próprios meios de comunicação de massas prosperam a par dos grandes monopólios económicos ao longo do século XX, é da mais vil hipocrisia, indigência mental e cobardia artística, confundir o número com a qualidade. Não quero dizer que nunca se dá a feliz coincidência do sucesso recair sobre um artista de mérito razoável (Saramago ou Lobo Antunes) mas negar que o sistema editorial do momento é profundamente fascista, totalitário, ineficiente e medíocre, só porque se espera beneficiar da mesma máquina que perpetua este estado de coisas, e possuindo nós as ferramentas que nos permitiriam criar economias de menor escala, mas mais competitivas e democráticas, é colocar-se ao lado daqueles que enquanto eu for vivo, não terão descanso, nem paz.
9 comentários:
pego só no final
«negar que o sistema editorial do momento é profundamente fascista, totalitário, ineficiente e medíocre, só porque se espera beneficiar da mesma máquina que perpetua este estado de coisas, e possuindo nós as ferramentas que nos permitiriam criar economias de menor escala, mas mais competitivas e democráticas, é colocar-se ao lado daqueles que enquanto eu for vivo, não terão descanso, nem paz.»
quem nega isto? Eu? tu dizes "não terão descanso, nem paz"... mas tu chateias alguém, para além do Tolan que te dá troco? Percebeste o que te dizia quando te disse para seres alternativa? Eu falei na revista literária uma vez, tiveste aqui uma ou outra reacção entusiástica e o que tu fazes? Ridicularizas a ideia, mandas trabalhinho de casa (e eu fiz). Lá está, uma merda dessas dava trabalho, montar, fazer, divulgar, chatices, estruturar e, tchanan, sujeitar-se ao falhanço... Mas depois lamentam-se. O que esperas que aconteça? Aqui nos blogues é um território livre. Não te podes queixar de nada, de fascismo, de meios, de filtros... e eu pergunto-te, que eficácia tens em agir e mudar o meio, se isso te preocupa tanto? A resistência é só um grito ou é, por exemplo, colocar explosivos numa ponte do inimigo e arriscar a pele?
outra coisa, isso dos números com qualidade, ninguém aqui confunde. Não sei bem de onde isso veio. Mas cuidado com esse raciocínio, é tudo relativo e mesmo num nicho, há uma medida que de facto tem relação com a qualidade. O mais importante é a reacção e a escala da mesma. Se ninguém diz "uau, fodasss isto é brutaaaaaal" ou "a sua obra é deveras espantosa, meu caro, espantosa", esquece. Não estás lá, seja qual for o teu público. Às vezes basta meia dúzia de pessoas para te sentires bem e que vale a pena (o meu caso). Agora para quem, como tu, quer combater o mercado e dar guerra ao meio e mudar as coisas e convencer que este é bom e aquele é mau, ui, precisas de engrossar fileiras e de dinheiro.
Tolan: sobre toda a economia moral do trabalho libertador e do empreendorismo como virtude espiritual, é melhor não falares do que não conheces, pois continuas a incorrer nesse erro. Mantém a concentração no texto e na construção intelectual e fria do argumento, é tudo o que temos.
Sobre a quantidade, claro que fazes constantemente raciocínios desse género: leis da oferta e da procura como critério de verdade, como se existissem mercados com custos de transação zero (nem na blogosfera), por exemplo o número de visitas que teve a Joana Vasconcelos em Versalhes. Sabias que o Hitler ganhou umas eleições e que empresas altamente eficazes como o Ikea podem ter sido construídas com comportamentos filhos da puta? Não gosto de usar o argumento nazi, mas cuidado, pois foram os alemães quem mais teorizou sobre maiorias como critério de verdade. Respeita o mercado e não faças dele uma chave inglesa.
Se eu preciso de dinheiro para dizer que isto é bom e aquilo é mau? Parece-me que há aqui dois erros: primeiro, todos nós queremos dizer isto é bom e aquilo é mau, todos os dias e a toda a hora, não fazemos aliás outra coisa. Pode é existir uma diferença entre quem é e quem não é ouvido. Aqui entramos no ponto 2, o dinheiro.
Se a construção da opinião sobre o que é bom ou mau precisa de engrossar fileiras e dinheiro, e não de raciocínio, conhecimento do ofício, consistência lógica e qualidade estética, então obrigado por me dares razão, isto é, as leis da oferta e da procura são distorcidas por quem engrossou fileiras e tem dinheiro e não refletem a qualidade dos escritores.
Mais importante que tudo. Eu também levo a revista literário a sério e quero até convidar-te. Só que não é uma revista literária, é algo muito mais bombástico. Falamos em breve.
os anónimos podem brincar ou esta posta é apenas para vocês os dois?
seja como for, eminente alf, e venerável tolan, respondam-me a esta questão, que me tem ocupado a mente desde que me apercebi que sou um génio: como é que eu, genial anónimo, como todos nós, anónimos da internet (o nós não está a aqui por acaso, vocês também entram no grupo de anónimos, reverendíssimos tolan e alf) mas voltando ao eu, como é que eu, brilhante desconhecido, me distingo dos mauzões que estão no "topo" (certamente só lá chegaram com cunhas) se eu não consigo vender a minha obra, ou encontrar alguém que a venda por mim?
como se passa essa fronteira sem que exista algo por trás pronto a quantificar o nosso trabalho?
o que é que um gajo tem de fazer para existir?
e como é que eu posso ser bom, se não existo?
e neste contexto, o que é ser bom?
como é que nós medimos a qualidade do que desconhecemos?
e se o que conhecemos nos foi vendido, como é que podemos medir a sua qualidade sem fazer quantificar (elogios, vendas, criticas positivas, etc..)?
já me perdi, vou parar com as questões.
mas parece-me que o raciocínio humano não opera no vácuo, e a quantificação, que pode muito bem assumir a forma de organização, categorização, catalogação, etc.. é inerente à natureza humana.
adeus.
vou almoçar. galinha caseira com esparguete.
bem bom.
Alf, mas eu acho que o conhecimento do ofício, consistência lógica e qualidade estética engrossam um certo tipo de fileiras... Há um trabalho a fazer que não passa por esse disparate que às vezes cometes como postar posts teu no maradona com link para ti ou fazer comentários violentos ao Casanova que mais parecem marketing agressivo. Quanto ao dinheiro, queria dizer que uma certa escala prática exige investimento (trabalho e/ou dinheiro). Já vi muitos projectos alternativos interessantes esboroarem-se porque ninguém se está para chatear assim tanto e porque há algum amadorismo em pontos críticos, por vezes há arrogância ou preguiça, quando não falta de ética. Olha, tu envias o romance para as editoras e a maior parte nem te diz "obrigado, vamos ler", o que considero um pouco indelicado. De todas as editoras para onde enviei o meu romance, a resposta mais pronta, cuidada, educada e pessoal foi precisamente de uma das maiores para onde enviei só por descargo de consciência, uma vez que considero altamente improvável que me possam querer. E recebi uma resposta pessoal, redigida pela própria, alertando-me que iria demorar a responder e porquê e para eu ter paciência. Já te correu que se calhar essa pessoa tem esse profissionalismo em todas as fases da sua forma de actuar, mesmo que lide com gajos que muito provavelmente vai rejeitar, e que isso contribui para o facto de estar onde está e aumenta a probabilidade de lhe chegarem mais coisas às mãos? Até houve uma independente pequena, que tinha em conta, que nem me respondeu a um mero e-mail com uma questão: se havia interesse em avaliar um autor português, porque eles publicam sobretudo traduções mas pelo catálogo, achei que podia fazer sentido... podiam ter dito que "não", na boa e, evidentemente, por mim, morreram. Para um projecto alternativo, no qual colaborei de borla, assisti a falta de ética e frontalidade dos responsáveis que se diziam altamente subversivos e alternativos... Enfim. Isto não é preto e branco. Quero só dizer com isto que se é verdade que o sucesso e os números não são sinónimo de qualidade, insucesso e ausência de números não são sinónimo de qualidade.
ah, já sondei edições de autor e informei-me para referência e são um negócio, às vezes um bocado mais feio porque não têm problema nenhum em esmifrar o mercado dos "génios incompreendidos", ao ponto de os enviarem para apresentações de livros sem sequer aparecer lá ninguém da editora. Esses, por outro lado, fazem-te crer que és um gajo bestial. Desde que pagues a pronto. E quanto mais pagas, melhor é o serviço, nomeadamente, a edição, revisão, impressão, o facto de aparecer alguém no dia da apresentação e o facto de alguém se preocupar um pouco com a existência do teu livro em lojas. Não há almoços grátis, já dizia o outro.
Olhem la, Alf e Tolan, o que eh que vos impede de autopublicar os vossos livros na Amazon? Nao querem diluir a vossa genialidade? E de que eh que vos serve um manuscrito a ganhar po na gaveta? A serio expliquem-me, nao percebo.
Aproveitando-me dos pedidos pertinentes do anónimo acima, gostaria de pedir ao alf que dispensasse a um dos seus parágrafos cristalinos, apresentando antecipadamente as minhas desculpas, desconhecimento quanto a indústria e vergonha, de que formas concretas é que o seu sólido conhecimento da indústria pornográfica o socorre na sua empreitada. Existe alguma relação proporcional entre esta e o casamento feliz? Se sim, dispense também algumas palavras à última.
mais bombástico que uma revista? um blog?... um portal?... um sítio?...
vai ser em papel para esquivar aos anónimos?...
por acaso até curto da ideia de revista-objecto, para levar e ter, a cena das caixas, dos engrelopes, com papéis e Cd's lá dentro, tem a sua piada.
para chafurdar teremos sempre a web.
Enviar um comentário