sábado, 8 de dezembro de 2012

Isto está tudo ligado, parecendo que não.

Com algum atraso, é certo, posso finalmente intervir com conhecimento de causa no tópico que vai entretendo a blogoesfera nestes dias: a precipitação em diversas capitais europeias.

Mas primeiro, o que importa. O Sporting não perdeu esta semana. Desde já o meu público agradecimento a São Pedro.

Seguindo para o tópico da chuva que caiu em Lisboa, só tenho a acrescentar que nesta semana que passou, em Bruxelas só parou de chover para começar a nevar. E parou de nevar apenas e só para recomeçar a chover. Esteve assim uma semana inteira, e mesmo assim todas as santas manhãs a menina da meteorologia insistia que o dia ia ser de céu limpo com muito sol. Em Bruxelas.

Por chuva entenda-se aquela chuva molha tolos, em que um tipo apanha uma molha porque é demasiado macho para abrir o chapéu. Qualquer Rodrigo Moita de Deus acredita piamente, após a semana que passou, que na Bélgica chove de facto muito. Mas fazendo uso da cabeça, e do Google, podemos facilmente constatar que na última semana, Bruxelas teve chuva molha tolos enquanto que em Lisboa a coisa foi mais para homens de barba rija.

O que há a realçar nesta lengalenga não são os números, eu também fiquei estremunhado, mas a olímpica capacidade que os palermas, a quem os media dão voz, possuem de ignorar a realidade e construir para si próprios narrativas suportadas em mitos urbanos.

Ou assim eu pensava. Veja-se o excerto de prosa que promove o último livro  de Margarida Rebelo Pinto:


Filosofia de cordel? Sim, com certeza. Mas não será o caso de que existe muito boa gente, e a Margarida é tudo menos sonsa ou tontinha, que se revê nestas três frases? O tema já foi tratado até à exaustão, nos Maias e na Madame Bovary, por exemplo, e resultou sempre na condenação dos pobres espíritos que se deixam cegar por este tipo de baboseiras, para gáudio dos cínicos e estóicos que levitam acima das paixões humanas. Mas a Madame Bovary foi uma personagem que ousou sair da mesquinhez a que estava condenada, por uma caminho que a arruinou, é certo, mas sempre se mexeu. O que não é o caso dos estóicos e cínicos que desinfectaram o intelecto de qualquer germe de dúvida ou suspeita que possa corroer a prisão em que se meteram. Veja-se o João Miranda ou os ódios de estimação desta casa. De tanto imitar o Nietzsche, ainda vão acabar como ele.

Enfim, quem nunca "Andou tão à flor da pele/ Qualquer beijo de novela/ Me faz chorar" que atire a primeira pedra.

3 comentários:

Ex-Vincent Poursan disse...


claro que está tudo ligado… mas não percas tempo com isso.

a precipitação, os grandes temas transversais à literatura mundial e a conversão do meio literário à exegese que enfim, são só o enquadramento romântico do leitmotiv da saison:
a valsa semântica entre as botinhas do tolan e o tolan da plaft e o tango semiótico que oscila entre o objecto do tolan e o tolan objecto… assim mais ou menos cozinha de fusão.

agora vou ali atirar uma pedra e fazer uma coisa importante.
eu sou um gajo que faz coisas importantes… assim tipo comentários em blogs.

alma disse...

O Ex-V.P. responde muito bem :)))

Mas eu que gosto dos estóicos
dos cinicos também :)
do Nietzche devo-lhe muito
Da Madame Bovary aprendi que ser idiota e ambiciosa dá normalmente asneira :)
O Flaubert que era um artista sobre descrever muito bem a estupidez humana :)

A um artista perdoa-se tudo será injusto? penso que não.
Por mim quem me ajuda a quase atingir o sublime o meu muito obrigada :)

silvia disse...

O Flaubert escreve com arte e saber sobre as ambições da mediocridade :)))o que ele se devia divertir ...
Agora os mediocres escrevem sobre nada e julgam-se artistas.
Como tal aprecio quem não tem medo de estar do lado justo e que vê a nudez mascarada de letras.