sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Hac meus ad metas sudet oportet equus: futebol, gajas e outros grandes temas da cultura ocidental.

«Em uma mão a espada e noutra a pena»
Luís de Camões in Os Lusíadas, caralho.
 
 
A frase latina do título é de Propércio, foi citada por Montaigne no seu ensaio sobre a amizade e refere a importância da meta, que o cavalo de cada um deve esforçar-se por atingir, tornando implícito que é uma grande chatice que os nossos triunfos dependam da força dos cavalos e da distância das metas, não sendo certo se tanto num caso como no outro nos reste algum poder de decisão sobre as incontroláveis forças das merdas todas em geral. Sobre miúdas sou um orgulhosamente eterno amador, e não tenho concebida uma teoria estética baseada em conceitos deduzidos da psicologia, nem uma psicologia baseada em cinematografia de classe c, enquanto da psicanálise enquanto ciência dos significados da dor, apenas retive a receita: pinceladas de cultura clássica mais umas pitadas da estouvadice sexual germânica, e sobretudo muita erva, o que neste caso não ajuda nada. Estamos apenas, e reforço o apenas, apelando à manutenção da calma, diante de três mulheres fabulosamente belas, aliás, como qualquer das que aqui foram referidas com a erudição brejeira que caracteriza este blogue e que seriam razão de sobra para igualar Homero nesse cume máximo da realização humana, que é o oceano de lanças gregas circundando, por amor de uma mulher, ainda por cima traidora, as hieráticas muralhas de Tróia.
 
 
Chamo novamente a atenção de todos para o tema geral deste blogue, isto é, a tragédia humana em geral, o que sob o ponto de vista futebolístico pode ser caracterizado pela mística benfiquista, se não me engano, o clube da Europa com mais finais europeias perdidas, além do mais, instituição pela qual verti as primeiras e mais sentidas lágrimas, o que não deixa de ser uma daquelas tremendas ironias da vida real a que apenas génios como Shakespeare, Melville, Proust ou eu próprio, têm a capacidade de aceder protegidos pelo resplandecente escudo de uma metáfora, o que lhes permite atravessar as chamas da incompreensão sem se queimarem, ficarem maluquinhos ou serem transformados contra sua vontade em Relações Públicas do Continente Hipermercados S.A.
 
 
Num desses pontos incrivelmente localizados entre o espaço e o tempo, em que restritamente sofri como um cão e inapelavelmente, sem saber ler, nem escrever, mas tendo já lido nessa época pelo menos os Contos e os Novos Contos da Montanha do quase grande escritor mediano, Miguel Torga, uma pessoa que se caracterizava por comparar a vida a grandes serras paradas à espera de movimento, e a searas onduladas pelo vento, fui emocionalmente enxovalhado pela equipa italiana do AC Milan, instituição proveniente de uma cidade que dizem ser uma das que mais coiso. Franco Baresi, aquela pessoa injustamente inserida num livro sobre Massamá, envergava ainda a sua camisola número 6 e partilhava o balneário com a tripla holandesa que se caracteriza historicamente por ter batido a URSS numa final em que assisti, politica e esteticamente comovido, ao mais belo golo de todos os tempos, num momento de grande significado filosófico para quem como eu frequentava a casa de um amigo cuja mãe, divorciada, havia ornado as paredes com desenhos de Álvaro Cunhal e me servia as mais inesquecíveis torradas com manteiga, como é do conhecimento geral, a refeição preferida do filho de liberais russos, Vladimir Nabokov. Eu estava sentado na casa dos meus pais, num maiple sinistramente revestido por qualquer coisa que se assemelhava a alcatifa, cercado por todas as formas de ameaça que é possível conceber num país que se caracteriza por  já ter sido, e não fazia ainda a mais pequena ideia de que tudo o que podemos fazer em face da beleza é guardar silêncio. 
 
 
Muito mais tarde, depois da mente ser forjada no lume da humilhação, da mentira e da ilusão, as três grandes mestras da arte, e se a memória nos assistir, será o tempo de repor a verdade e erguer um monumento à solidão das pessoas sensíveis, e ao sofrimento imposto pela distância entre nós e o objeto do nosso desejo, razão pela qual o cinema  - como arte da sombra - é uma das mais perturbadoras e incompreensíveis formas de tortura humana, logo a seguir ao futebol - a mais completa e complexa arte da fuga, pergunte, quem duvida, aos engenheiros da inteligência artificial se aqui se fala ou não com a propriedade de quem encara com o mesmo espírito os vales profundos e as cumeadas perigosas. Mas do sofrimento, como julgo que se ilustrou com grande claridade com o exemplo de Baresi num post abaixo colocado, é que a beleza retira o seu combustível, força e propulsão, num fenómeno que se transforma inegavelmente num tremendo problema ascético, capaz de separar os bons dos maus, os impostores dos príncipes exilados, as viajens à Índia das viajens à Índia, os escritores que tentaram ser dos que nunca mais deixarão de ter sido.
 
 
Gritemos todos em coro: o Johnny Depp é um granda piço*!
 
 
*Nota do Autor - atenção universo feminimo: em linguagem masculina, granda piço quer significar granda parvo, granda nabo, granda tosco, granda burro, granda otário e assim sucessivamente.

4 comentários:

silvia disse...

Não grito, prefiro o Jude law :)))

Um minuto de sil~encio pelo homem mais bonito de todo o sempre
PAUL NEWMAN

Izzy disse...

O Johnny quando corta o cabelo, desfaz a barba e nao usa maquilhagem, como no Public Enemies, eh uma visao do Paraiso.

Izzy disse...

Silvia, pray sister!

alma disse...

hehehhe
o que vai para aqui :)

Ser ou não ser :)
Uma das melhores sensações de chegar a londres é ao sair do metro quando subimos os últimos degraus para chegar à rua )
Uma vez saí mesmo ao lado do teatro onde estava o hamlet com o Jude law :)) Adorei :))) sair virar e dar de caras com o cartaz do teatro :)))
sabia que tudo ia correr bem :)))
e correu :)