Sempre gostei de dias de chuva. Sei agora porquê: acalma-me o traço desconfortante em chapéu-de-chuva de quem por mim passa. Não me revejo numa qualquer espécie de sádico empedernido-ó-vampiresco que se alimente do desconforto alheio. Nem sequer sou do sporting, entenda-se. Mas a negação quase consensual da água como elemento impulsionador de vida, os traços que caem como num desenho e a água como marcador do tempo à medida de Sebald, como o Alf bem nos mostra, tranquilizam-me. Há dias de sol que se assemelham a Ritas Pereiras revestidas em capas da Playboy, de tão banais, de luz tão fraca, talvez aqui e ali elegantes, quando visto da janela do comboio da linha de Cascais. Para mim, não um dia de sol, mas a fustigação da sequência de muitos assemelha-se a comer bitoque todos os dias, a digerir sempre a rita pereira ou o humor minimalista do ricardo araújo pereira. É o nosso castigo meteorológico do sul esse sol aglutinador, o mesmo que dias curtos de inverno, neve em qualquer zona B de Berlim. Tudo é branco ou tudo é luz. E com as pessoas também é assim. Uma fotografia tirada na abertura 22, dispondo os pormenores lentamente. É ver a vida espelhada em qualquer janela de um moderno comboio em qualquer país do centro da europa, percorrer a vida que se finda em qualquer praia deserta do Mar do Norte ou chegar à estação central de Antuérpia no terceira andar, subterrâneo, e ser surpreendido com o espetáculo à superfície. Gosto de livros, vinho e boa comida, sofás e de viajar. E de chuva, claro.
2 comentários:
Perante as pessoas que se interrogam de eu andar à chuva sem protecção:)
costumo dizer: :))
não desboto
não encolho
nem diluo :)
hehehe
"E nem me apodrecem as raízes"
é óptima :))))
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